A greve dos cobradores em Curitiba por um dia fez da Linha Turismo a lotação do lazer inesperado e muito desejado de várias famílias residentes na cidade. Russos, argelinos e até colombianos dividiram os 65 lugares dos 12 ônibus de dois andares que compõem a frota com dezenas de pessoas, que mesmo vivendo aqui, nunca tinham experimentado o passeio de quase três horas por 25 pontos da cidade. E não precisa ser muito bom em cálculo para saber que, dependendo do tamanho da família, o programa pesa no bolso, já que o passaporte da linha custa R$ 29 e somente crianças de até cinco anos não pagam.
O cozinheiro Valdinei Silva Lança, 32 anos, que há 17 anos vive em Curitiba, nem acreditou que justamente durante suas férias pôde realizar a vontade de levar suas duas filhas para conhecer a Linha Turismo. “Nunca tínhamos feito o passeio porque fica muito caro em quatro pessoas, pena que isso aconteceu em um dia que a minha esposa está trabalhando”, comentou. Os três conseguiram embarcar no quarto ônibus que parou no ponto da Praça Tiradentes, devido à alta procura e porque eles queriam fazer todo o percurso na parte de cima do veículo. “Nem iremos descer nos pontos, queremos saber como é a volta completa”, avisou.
Aliás, a preferência por completar a volta sem parar nos parques e demais lugares do roteiro foi uma decisão comum entre os passageiros da cidade. Tanto a professora Geovanna Bettega, 27 anos, quanto o casal Diogo dos Santos e Jéssica Stadelhofer, 25 anos, confirmaram o plano de conhecer a Linha Turismo. “Quem mora aqui já foi aos parques e lugares por onde o ônibus passa. A novidade é o veículo, que sempre passa por onde a gente circula”, defendeu Geovanna.
E diante da gratuidade ocasional, não faltou quem defendesse a redução do preço do passaporte em pelo menos um dia do mês ou até mesmo a gratuidade. “Nós somos a prova que a população também tem vontade de usar a linha, só que por um preço mais acessível ou com um dia com tarifa popular como ocorre com museus e teatros”, disse a vigilante Luciana Anderson de Souza, 43 anos. “Imagine fazer esse passeio na época do Natal e sem custar tanto”, acrescentou a dona de casa Doraci Martins, 50 anos.
Preço triplicou
O dia de catraca livre na Linha Turismo também serviu para questionar o reajuste do passaporte. “Faz muito tempo que não passeio com a linha, mas lembro que era bem mais barato”, suspeitou Luciana. E a percepção é confirmada pelo histórico de valores apresentados no site da Urbs. Em maio de 2003, o valor era de R$ 10. Até a última atualização de preço, em julho do ano passado, o passaporte praticamente triplicou.
Em busca da taça
Em meio à Copa, os visitantes também aproveitaram o dia de passeio gratuito em Curitiba. A colombiana Pilar Triviño, 36 anos, contou que Curitiba era a terceira cidade brasileira visitada por ela e a família do irmão. “Meu irmão saiu da minha cidade, Bogotá, para morar com a esposa norte-americana e os três filhos em Florianópolis e o Mundial serviu para esse reencontro”, resumiu. Eles acompanharam a seleção da Colômbia em Belo Horizonte (MG) e Brasília (DF), mas decidiram passar as próximas fases da Copa em Curitiba e Florianópolis (SC). “A Colômbia é a melhor seleção, confiamos que ganhará esta Copa”, defendeu Pilar. Ao contrário dos moradores daqui, os colombianos resolveram aproveitar o passeio para descer no Bosque do Papa.
Dividido por quatro
Para os seis amigos de longa data, a Linha Turismo em versão econômica não é uma novidade. Há quase sete anos, desde o Ensino Médio, a turma compra o passaporte em grupo para passear com a linha. Como cada passaporte dá direito a quatro desembarques e a validade dos tickets é permanente, o grupo faz apenas um desembarque e desfruta das belas imagens proporcionadas por uma volta completa da linha. “Somente na nossa formatura de Ensino Médio, quando desistimos de viajar para Buenos Aires, que compramos um passaporte para cada um e transformamos o investimento em nossa viagem de formatura”, recordou a estudante de Biologia Ananda Tonelini de Paiva Sampaio, 21 anos.
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