Curitiba

Prisão é passado

Escrito por Giselle Ulbrich

Sete a cada dez presos no Paraná voltam ao sistema prisional após saírem da cadeia, segundo a Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária. De acordo com as estatísticas oficiais, apenas 30% dos detentos conseguem se regenerar após passar um tempo atrás das grades. É o caso do ex-presidiário Oscar Moreira, 42 anos, que depois de quase cinco anos de cadeia (somando-se todas as vezes que esteve preso), entendeu que podia mudar de vida e construir algo bom para sociedade, ajudando outros ex-presidiários a fazerem o mesmo.

Oscar veio do interior com 5 anos. Muito jovem, começou a trabalhar numa empresa em frente ao antigo Cine São João, na Rua Desembargador Westphalen, onde, segundo ele, era frequentado por muita gente “da pesada”. “Comecei a fazer amizade com essa gente, ia a baladas com eles para arranjar brigas e assim comecei a fazer o que não presta”, contou. Começou a cheirar “cola”, depois fumar maconha, até evoluir para drogas mais pesadas.

Desde adolescente, ele cometeu todo tipo de crime. Já foi preso algumas vezes, inclusive em grandes operações da polícia, como a Tentáculos, em 2007. Aos 12 anos, seu hobby era fazer coleção de retrovisores de carros furtados. Depois, o programa dele e dos amigos nos fins de semana era roubar bicicletas no Parque Barigui. “Ia o grupo todo a pé e voltava todo mundo pedalando. Anos mais tarde, acabei reencontrando uma das minhas vítimas na Bosch, onde eu trabalhei. Pedi desculpas e hoje somos amigos”, relata.

“Nunca vai dar errado”

Foto: Felipe Rosa
Após 5 anos preso, Oscar entendeu que podia mudar de vida ajudando outros ex-presidiários a fazerem o mesmo. Foto: Felipe Rosa

“Nesse mundo do crime, a gente sempre acha que nunca vai dar errado. Vê aquelas cenas de trocas de tiros com a polícia nos filmes, o bandido se dá bem. Quando a gente vê, está na cadeia”, explica Oscar Moreira. Depois da primeira prisão, ele percebeu que tudo aquilo era um sofrimento muito grande para ele e para a família. Cansou de ser pego pela polícia, ir à cadeia e ter que responder tantos processos, que até hoje tramitam na Justiça.

Então decidiu não se envolver mais com o crime. Pelo menos diretamente. Apenas dava uma indicação daqui e ali, entre um criminoso e outro. Até que seu irmão saiu da cadeia precisando de dinheiro e decidiu ajudá-lo, planejando um roubo a carro-forte, em Santa Catarina. Mas já estavam sendo monitorados pela polícia e foram presos a caminho do roubo.

Recaída

Foi quando estava preso por este crime que a Justiça emitiu outro mandado de prisão para Oscar, pela Operação Tentáculos, que investigava milícias de policiais militares dentro dos próprios quartéis, envolvidos com criminosos. Até o próprio advogado de Oscar, um oficial aposentado do Corpo de Bombeiros, foi preso na Tentáculos. “Era tanto B.O. pra responder que deu vontade de deixar o crime para trás”, conta.

Situação em números:

Dos 9.232 presos em Curitiba e região metropolitana, há 8.403 homens e 829 mulheres.
6,4 mil presos da Grande Curitiba voltam à cadeia. Só 2.800 conseguem largar o crime.

Sobre o autor

Giselle Ulbrich

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