Curitiba

Perigo no Trânsito

Nos últimos dois anos, o trânsito em Curitiba vem matando menos. A instalação de redutores de velocidade, aliada a uma maior conscientização dos motoristas, puxou o número de mortes para baixo. De janeiro a outubro de 2016, 165 pessoas morreram vítimas de acidente de trânsito. Os números deverão se equiparar a 2015, quando 184 pessoas perderam a vida nas ruas e rodovias que cortam a capital.

Se os números se equipararem ao ano passado, equivalente a 9,8 óbitos a cada 100 mil habitantes, a redução nos casos fatais é evidente. Desde 2011, quando estas ocorrências passaram a ser monitoradas com mais atenção, a queda é de 40% – naquele ano foram 310 mortes. Com esses indicadores, Curitiba se aproxima da meta estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) prevista para ser alcançada em 2020 (que é de redução de 50% em relação a 2010).

Fernando Pereira Rodriguez, coordenador médico do Hospital Cajuru – referência em atendimento de acidentados – diz que apesar do número de mortes ter baixado, o grau de violência no trânsito continua o mesmo. As vítimas mais expostas são as que andam de moto e bicicleta, por exemplo. “Apesar do uso obrigatório dos itens de segurança, a maioria não usa o capacete, por exemplo, corretamente. Sem contar os outros itens de segurança. Os resultados são desastrosos”, justifica.

Números

motocislitas
Raposo desviou e não atropelou um cão, mas bateu em um carro. Foto: Felipe Rosa.

Em 2016, 8.846 pessoas deram entrada no Cajuru vítimas de acidentes de trânsito contra 7.765 de 2015, uma queda e 7% nos números. Do total de atendimento no ano passado, 3.850 foram de motociclistas ou vítimas de motocicletas. “São os mais expostos”, atesta o médico.

Em relação a vítimas de acidentes de carro, os equipamentos de segurança como cinto de  segurança, ou de atitudes, como falar ao celular, foram os maiores responsáveis pelos acidentes, segundo o médico.

Para o médico, a irresponsabilidade no trânsito gera muitos  prejuízos para a sociedade. “Não é só o tratamento que tem um custo. O acidentado fica afastado por um bom tempo do trabalho, dependendo da gravidade do acidente. E muitas vezes acabam se aposentando devido aos traumatismos”, lembra. No Cajuru o atendimento é 100% pelo Sistema Único de Saúde. Ele lembra que apesar de toda a evolução da medicina, os traumas provocados por acidentes muitas vezes são irreversíveis.

Acidente na noite de Natal

O tatuador Edilson Luiz Gomes Raposo, 37 anos, acidentou-se na noite de Natal na CIC em Curitiba. Para não atropelar um cachorro, Raposo desviou do animal e acabou colidindo na lateral de um carro.

Resultado: desde o dia 25 está internado no Hospital Cajuru e até agora não tem uma previsão de receber alta. Ele teve fratura exposta do fêmur e da tíbia, perdeu 35% do sangue no acidente e quase morreu. Já passou por uma cirurgia e aguarda a segunda, para somente depois ir para casa. “E mesmo assim não sei quando vou voltar ao trabalho”, disse.

Reincidente

Não é a primeira vez que o tatuador se acidenta com moto. Pela terceira vez ele bateu em outro veículo. “É perigoso, mas infelizmente é meu meio de transporte”, avalia. Há cinco anos ele trabalha utilizando o veículo. “Nem sei explicar o acidente. Apaguei e só acordei aqui”, relata. Apesar do prejuízo – físico e financeiro – ele pretende continuar se locomovendo usando o veículo.

Não há o que comemorar

Para o especialista Celso Alves Mariano, não há motivos para comemorar a queda nos números de violência no trânsito em Curitiba. Apesar dos números virem caindo desde 2012, ele acredita que a cidade ainda vai precisar de mais uns 10 anos para ter um trânsito melhor.

“‘Está faltando programas educativos e não campanhas. Hoje em dia já não existem mais programas educativos nas escolas”, comentou.

Arte2Apelo

Segundo o especialista, o Código de Trânsito já tem 20 anos e até hoje o Brasil não consegue formar condutores. “Gostaria de fazer um apelo para que as pessoas se preocupem com condução segura. As escolas e as empresas precisam olhar melhor isso”, avaliou. De acordo com ele, os três “es” que são os pilares para quem trabalha na conscientização, deveriam ser levados mais à risca. O primeiro “e” é de “engenharia”, o segundo é de “esforço legal” e o terceiro é o da “educação”. “Se todos eles fossem cumpridos, teríamos menos acidentes e em consequência, cidades mais seguras”, finaliza.

Arte_acidentes

Sobre o autor

Raquel Tannuri Santana

(41) 9683-9504