Curitiba

‘Perdeu playboy’!

Escrito por Giselle Ulbrich

Ônibus ficam mais cheios a partir desta segunda-feira, com a volta às aulas. E os ladrões mais ‘atentos’ aos estudantes que não desgrudam do celular dentro do busão

Você já teve o seu celular furtado ou roubado dentro do ônibus, terminal ou no ponto? Se não teve, certamente conhece alguém que já passou por isso, de tão comum que está ficando este tipo de crime. E agora, com a volta às aulas, os furtos e roubos devem aumentar nos coletivos, visto que a “molecada de escola” não desgruda os olhos da tela enquanto está no ônibus ou no ponto.

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Para algumas pessoas, comprar um novo aparelho resolve. Basta reinstalar os aplicativos e pronto. Mas para a depiladora Mara da Silva, 55 anos, foi um transtorno. O aparelho é uma de suas ferramentas de trabalho, pois usa o dia todo para fazer o agendamento das clientes. Mas quando foi roubada, no ano passado, perdeu os contatos de aproximadamente 1.500 clientes. “Fiquei dependendo que elas me ligassem de volta, me mandassem mensagens, pra ir recuperando aos poucos”, diz Mara, que ainda não recuperou tudo.

A depiladora Mara da Silva foi vítima dos ladrões dentro de um ônibus. Foto: Atila Alberti
A depiladora Mara da Silva foi vítima dos ladrões, dentro de um ônibus. Foto: Atila Alberti/Tribuna do Paraná

A depiladora explica que estava no ônibus, dentro do biarticulado Pinhais – Rui Barbosa, em julho do ano passado, quando chegou a mensagem de uma cliente. Como não gosta de deixar as clientes esperando resposta, tirou o celular da bolsa. Enquanto respondia, um rapaz veio por trás dela, passou o braço por cima da cabeça da depiladora, pegou o aparelho e desembarcou correndo, visto que o ônibus estava parando no tubo próximo ao autódromo, em Pinhais.

“Hoje eu não atendo mais na rua. Gravo todos os contatos em nuvem e se é muito tarde da noite, eu dou um jeito de esconder o aparelho na roupa”, diz a depiladora, que havia comprado há pouco tempo o aparelho, de R$ 1,8 mil, e ainda faltavam seis prestações a pagar.

“Eu fui na polícia, fiz boletim de ocorrência. Eu também tinha aplicativo rastreador, mas não adiantou de nada, nunca consegui achar o celular. Eu também fiz um seguro do aparelho. Mas só quando fui na loja para resgatar outro é que descobri que o seguro cobria apenas danos. Não cobria furto e roubo”, lamenta ela. Um mês depois, o filho dela foi assaltado dentro do ônibus, num arrastão.

Estatísticas

A Delegacia de Furtos e Roubos (DFR), da Polícia Civil, e a Polícia Militar não possuem estatísticas sobre os furtos e roubos de celulares no transporte coletivo. Já na Secretaria de Segurança Pública do Paraná (Sesp) há um departamento de estatísticas, mas que demora entre 10 a 15 dias para levantar dados (havendo o risco de não haver este dado muito específico, dentro de ônibus e terminais).

O único dado disponível e de fácil acesso vem da Guarda Municipal de Curitiba, que registrou 11 encaminhamentos à delegacia pelo crime de roubo, além de outros dois por tentativa de roubo dentro dos ônibus, no período de janeiro a junho deste ano. No mesmo período, foram três flagrantes de furto. Mas tratam-se apenas de ocorrências atendidas pela Guarda e não refletem o total de casos que ocorreram no transporte coletivo, que podem ter sido registrados diretamente nas Polícias Civil e Militar, ou nem chegaram a ser registrados.

‘Comércio’ rápido e fácil

O delegado Emmanoel David, da Delegacia de Furtos e Roubos (DFR), mostra que o celular é um objeto pequeno e de alto valor agregado. Ladrões gostam de locais com aglomerações, pois conseguem arrecadar muitos aparelhos numa só ação. Ou agem de forma violenta, através dos arrastões, por exemplo, ou aproveitam-se da distração das pessoas, levando aparelhos de dentro de bolsos e bolsas sem serem notados. Alvos preferidos pelos ladrões são mulheres, idosos, pessoas com crianças ou com sacolas de compras, pois sabem que são pessoas com reação reduzida.

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Quando a pessoa for furtada ou roubada, o delegado aconselha sempre fazer o boletim de ocorrência, pois a Secretaria de Segurança Pública utiliza estes dados estatísticos para planejar ações preventivas nos locais de maior incidência de crimes. Assim também há a possibilidade de recuperar o aparelho e prender os receptadores. Registrar o boletim também é importante para segurança da própria vítima, pois se o aparelho for usado em algum crime, a pessoa tem como provar que não tem relação com nenhum delito.

A segunda dica muito importante, dada por Emmanoel, é nunca cancelar o chip do aparelho antes de procurar a polícia. ‘Só depois que fizermos uma análise prévia, aí aconselhamos bloquear, pois às vezes, num roubo à residência, a única coisa que temos para rastrear é o celular que vai junto com os outros objetos‘, exemplifica o delegado.

Rastreadores funcionam?

Muita gente questiona a eficiência dos aplicativos para rastreamento de celular, pois muitos ladrões já aprenderam a ‘burlar‘ o rastreador. Porém ainda é melhor ter a esperança de que o assaltante ainda não tenha dominado a técnica, do que nunca mais ver o aparelho, seus dados pessoais, seus contatos, as fotos e vídeos dos seus filhos ou da sua viagem inesquecível, suas informações bancárias, etc.

Para proprietários de iPhone, o próprio sistema da Apple já possui o iCloud, que armazena dados em nuvem e também permite rastrear o aparelho remotamente. Muitos ladrões, inclusive, nem levam iPhones nos assaltos, por saberem que o aparelho é difícil de burlar e reprogramar.

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O defeito da maioria dos rastreadores é que, se a internet do aparelho não estiver ligada, ou se o próprio aparelho estiver desligado, não é possível rastreá-lo. A localização atualizada do aparelho só vai aparecer quando ele for ligado novamente.

Como o IPhone já tem o seu próprio rastreador, a Tribuna fez uma seleção de alguns aplicativos para sistema Android mais bem elogiados nas lojas de apps. A dica é sempre ler as avaliações dos usuários, antes de instalar um aplicativo, para você saber quais expectativas ele supera o não.

Rastreador do Google

Uma das maneiras mais simples de rastrear é o próprio sistema do Google, e não é nem preciso instalar aplicativo no celular. Basta ativar algumas opções no seu aparelho. Vá nas Configurações do aparelho e procure pelas opções, nesta ordem: Google => Segurança => Encontre o meu dispositivo. Ative esta opção. Também é necessário que você esteja com o GPS sempre ligado. Depois, num computador, entre no Google e digite ‘Encontre meu dispositivo‘.

Aparelhos podem ser rastreados com a ajuda de aplicativos. Foto: Lineu Filho/Tribuna do Paraná
Aparelhos podem ser rastreados com a ajuda de aplicativos. Foto: Lineu Filho/Tribuna do Paraná

Se a sua conta Google já estiver configurada no seu computador, ele vai fazer alguns passos automaticamente. Vá seguindo as orientações. Se não, é preciso fazer login com a sua conta Google (Lembra do e-mail, geralmente um Gmail, que você usou para entrar na Play Store e fazer suas configurações no celular? Pois então, é esta a sua conta Google).

Mas se você não tiver um computador perto, peça a algum amigo ou familiar para instalar o aplicativo rastreador no celular dele (Digite ‘Encontre Meu Dispositivo Google‘ na loja de aplicativos). Configure o seu número de celular e outras opções que ele pedir e é só começar a rastrear. Ele inclusive mostra o número de IMEI do aparelho. Em caso de roubo, você pode apagar as suas informações pessoais remotamente. O único problema é que, se o celular ou o GPS forem desligados, não será possível o rastreamento. Aplicativo gratuito.

Lost Android

Outro aplicativo gratuito e bem elogiado é o Lost Android (Theis Borg). Ele tem mais de 70 mil downloads e nota 4,2 na Play Store. Tem as mesmas funções que o serviço do Google e mais algumas extras, como tirar foto da pessoa que está tentando acessar o seu celular. É possível ainda apagar ou fazer backup dos seus dados, fotos, etc. É possível, inclusive, mudar a senha de bloqueio de tela. No entanto, como boa parte dos aplicativos, ele não funciona se o celular estiver desligado.

Segurança Antirroubo

Um aplicativo que tem mais de dois mil downloads na loja de aplicativos e recebeu 4,4 estrelas dos usuários (um dos mais bem avaliados) é o Segurança Antirroubo (Mosi Apps). Além das funções já mostradas nos aplicativos acima, ele tira fotos e faz vídeos de quem está com o seu aparelho, informa se o chip do aparelho foi trocado por outro, bloqueia o acesso aos seus dados pessoais, faz backup ou apaga os seus dados e também tem uma função que impede o ladrão de desligar o celular, pois ele bloqueia o botão liga/desliga. Também bloqueia a barra de status do aparelho (aquela onde aparecem as suas notificações e configurações do aparelho, como ligar e desligar wi-fi, modo avião, etc.).

Há reclamações de alguns usuários que estas funções nem sempre funciona como deveriam. Mesmo assim, são recursos não existentes em outros aplicativos. E manter o celular ligado é vital para conseguir rastreá-lo. No entanto, estas funções mais avançadas só funcionam na versão pro (paga) e, conforme o desenvolvedor, o custo é de R$ 3,99 por função habilitada.

Comportamento seguro

Pra não ser roubado:
– Não utilize o celular nos pontos, terminais ou dentro do ônibus
– Alguém ligou ou mandou mensagem? Deixe tocar até estar num ambiente seguro. E o ônibus não é um ambiente seguro!
– Em aglomerações, como nos ônibus ou terminais, não deixe o celular num bolso fácil de abrir. Ladrões preferem os distraídos
– Se o celular estiver na bolsa ou mochila, segure na frente do seu corpo
– Utilize senhas de acesso ao aparelho e aplicativos
– Mantenha seus dados, contatos e fotos armazenados em nuvem
– Lembre a senha da nuvem, para poder resgatar os dados depois
– Não deixe suas senhas anotadas no próprio celular. Se possível, decore-as
– Tenha um aplicativo rastreador de celular. Nem todos são eficientes, mas podem ajudar

Fui roubado:
– Imediatamente registre um boletim de ocorrência
– Se foi vítima de roubo (com violência), vá à delegacia
– Se extraviou ou foi vítima de furto (você nem notou o crime), você pode fazer o boletim de ocorrência pela internet (www.delegaciaeletronica.pr.gov.br)
– Tenha em mãos o número do IMEI do aparelho (que geralmente fica registrado na caixa do celular), quando for fazer o B.O. É um dado importante para agilizar a investigação
– Não ligue para a operadora cancelando o aparelho. ANTES registre o boletim de ocorrência, para que a polícia tenha condições de rastrear o celular e prender os criminosos

“Uber da unha”

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Giselle Ulbrich

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