Curitiba

Cadê a segurança?

A onda de assaltos a shoppings e estabelecimentos comerciais fechados em Curitiba e região mostra que os bandidos estão cada vez mais ousados. A fragilidade destes locais, que sempre passaram uma sensação de maior segurança à população, tem ficado mais evidente a cada dia. Clientes circulam com medo e funcionários de lojas assaltadas temem que os bandidos voltem.

Desde o começo do ano, a Delegacia de Furtos e Roubos (DFR) da capital já registrou pelo menos cinco grandes ações destes bandidos. Em uma delas, numa loja certificada pela Apple no Shopping Mueller, o prejuízo foi de mais de R$ 100 mil. Até a noite de terça-feira (4), quando um segurança do Shopping Palladium foi baleado, nenhuma das ações criminosas tinha deixado feridos.

O número das ações pode ser ainda maior, porque, segundo o delegado Emmanoel David, da DFR, em alguns casos (quando há prisão em flagrante), os autores são encaminhados a delegacias específicas e as estatísticas se perdem. Conforme o delegado, mais da metade dos assaltos são praticados por adolescentes. “Eles acabam acobertados pela legislação brasileira, que é mais benéfica com relação a menores, e agem ainda de maneira mais intensa”, avalia.

Sempre armados, os bandidos chegam aos estabelecimentos sem nada a perder. Em alguns casos, os adolescentes até estão acompanhados de adultos. “Mas, na maioria das vezes, pelo que já investigamos e é possível ver nas imagens de monitoramento, são apenas menores. Entram, rendem a todos e saem com os produtos em mochilas ou sacolas”. Conforme o delegado, os bandidos não pertencem à mesma quadrilha.

Shoppings e hipermercados sempre foram considerados locais com mais segurança, devido à existência de uma equipe de segurança privada. “Com os últimos acontecimentos, isso foi colocado à prova e tem feito com que estas lojas repensem como fazer segurança. O que nós percebemos é que houve uma mudança no foco: no ano passado eram as farmácias e neste ano viraram os shoppings”, aponta o delegado.

“Trabalhando e rezando”

Foto: Pedro Serápio
Foto: Pedro Serápio

Em um dos shoppings de Curitiba, uma funcionária de um quiosque que vende somente celulares falou sobre a sensação de insegurança. “Mais do que as lojas, nós estamos ainda mais expostos. Sentimos medo sim, mas não temos o que fazer, continuamos trabalhando e rezando. Os seguranças na verdade correm mais risco do que a gente, porque eles não podem estar armados, então, de que forma vão reagir?”, comenta.

Segundo a jovem, de 27 anos, que pediu para não ser identificada, os quiosques ainda são menos procurados pelos bandidos porque estão mais próximos dos clientes e seguranças. “Eles (os bandidos) escolhem as lojas porque podem entrar, se passam por clientes e fazem a limpa. Lá dentro do estoque, por exemplo, ninguém vê o que acontece. Pegam tudo o que quiserem, saem como se tivessem comprado e o assalto só é percebido depois”.

Em uma loja da Apple alvo do ataque dos bandidos, os funcionários se assustam até se algum cliente chega de maneira suspeita. “A gente tem muito medo de que eles (os assaltantes) voltem. Ficou um clima tenso”, resume uma vendedora, que não se identificou.

Enquanto a equipe da Tribuna do Paraná estava em um dos shoppings, nesta quarta-feira (5), os seguranças estavam visivelmente aflitos, preocupados e não paravam de fazer rondas pelas lojas mais visadas. Era visível o medo dos clientes após o assalto ao Palladium. “Você viu o que aconteceu? Estamos perdidos mesmo. Nem dentro do shopping temos segurança”, comentou um idoso com o filho, enquanto a reportagem conversava com a vendedora de uma loja de celular.

Clientes com medo

Gusthavo: Eu não me sinto mais seguro em um shopping
Gusthavo: Eu não me sinto mais seguro dentro de um shopping

Frequentadores dos shoppings da capital estão apreensivos. “Eu estava no dia daquele grande assalto à loja do Mueller. Foi horrível. Eu não me sinto mais seguro dentro de um shopping, acho que a segurança precisa ser revista”, opina Gusthavo Sá, 27 anos. “Sempre me senti segura, não costumava ter nenhuma preocupação, mas atualmente, com as notícias, tenho sentido um pouco de medo”, corrobora a jornalista Mariane Nava, 24.

A jovem, que vai aos shoppings semanalmente e foi assaltada recentemente, adotou algumas medidas para tentar passar invisível pelos bandidos. “Quando me roubaram não foi num shopping, mas isso já deixa a gente insegura. O que eu tenho feito é mudar minha forma de guardar meus pertences, como por exemplo, sem ficar mexendo no celular”.

Depois de ser assaltada, tenta evitar mexer no celular em ambiente público
Depois de ser assaltada, Mariane tenta evitar mexer no celular em ambiente público

Os dois jovens disseram que algo precisa ser feito para que a sensação de segurança aumente. “Só não sei o que poderiam fazer para melhorar, porque tem segurança na porta, tem segurança dentro, o estacionamento é fechado. Não sei qual seria a solução viável financeiramente para os shoppings”, diz Mariane.

Segundo Gusthavo, o que mais assusta é a audácia dos bandidos, que não estão preocupados em serem vistos. “Eles agem de cara limpa, mas parece que às vezes nem eles sabem direito o que estão fazendo. A gente não pensa que vai acontecer com a gente, mas é horrível, cena de filme. A gente está inseguro”.

Receptadores em cana

A DFR, responsável pela maioria das investigações destes roubos que acontecem em Curitiba, já identificou alguns suspeitos e tem partido por um caminho um pouco diferente. “Temos batido firme também nos receptadores, ou seja, quem compra estes aparelhos. Porque se há roubo, há interesse de alguém querendo comprar”, explica o delegado Emmanoel David.

No mercado negro, um celular que vale de R$ 5 mil a R$ 6 mil numa loja é vendido por, aproximadamente, R$ 1 mil. Nos últimos dias, o delegado contou que pelo menos 10 receptadores foram presos em flagrante ao serem identificados de diferentes formas, entre elas o rastreio através do IMEI, um número de identificação que todo celular tem e ajuda a polícia no mapeamento dos aparelhos.

Emmanoel conta que todos os celulares são rastreáveis.
Emmanoel conta que todos os celulares são rastreáveis.

Segundo o delegado, todos os aparelhos são rastreáveis e a delegacia está fazendo um trabalho específico para buscar os receptadores. “Eles são presos e até pagam fiança, mas vão ter uma vida queimada, porque compraram um aparelho roubado. Com toda a certeza, a pessoa que compra está assumindo o risco”.

Emmanoel alerta que a pena de prisão aos receptadores é maior do que a pena que os próprios adolescentes responsáveis pelo roubo cumprem. “Tomem cuidado quando buscarem aparelhos para comprar, seja em loja virtual ou sites de compra e venda. Você pode acabar sujando sua vida”.

Todo esforço é útil

Foto: Pedro Serápio
Foto: Pedro Serápio

A dica que o delegado da especializada dá aos comerciantes é para que dificultem ainda mais a ação dos bandidos. Sem entrar em detalhes, Emmanoel David disse que os lojistas podem colocar “iscas” nos aparelhos para um rastreamento ainda maior. A forma de fazer isso deve ser consultada na própria DFR para não expor os artifícios disponíveis.

“Além disso, os celulares que ficam nos mostruários podem ser falsos, isso é muito importante. Os aparelhos verdadeiros ficam mantidos em cofres e com senhas específicas. Quanto mais dificuldade o bandido tenha, menos interesse ele vai ter em entrar e assaltar, pois é mais fácil de acabar preso”.

Diante das recentes ocorrências, o secretário da Segurança Pública e Administração Penitenciária, Wagner Mesquita, vai convocar representantes dos shoppings, da Associação Comercial do Paraná e da área de segurança do setor de telecomunicações para uma reunião na sexta-feira (7). A reunião vai envolver membros das polícias Civil e Militar, além do disque-denúncia 181 e do Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), responsável pelo videomonitoramento e por dar apoio a ocorrências de maior vulto nas ruas.

Sobre o autor

Lucas Sarzi

Jornalista formado pelo UniBrasil e que, além de contar boas histórias, não tem preconceito: se atreve a escrever sobre praticamente todos os assuntos.

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