Curitiba

Olha o vírus!

Escrito por Maria Luiza Piccoli

A princípio as manchinhas podem até assustar, ainda mais quando vem a notícia de que são contagiosas. Mas não há motivo para pânico. É o que afirma a Secretaria da Saúde (SESA), diante dos inúmeros casos da síndrome mão-pé-boca (HFMD) que andam aparecendo nas últimas semanas. Só no município de Mandirituba, 90 casos foram registrados em alunos de Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs), desde o início do mês. A doença, que antes parecia estar limitada às cidades vizinhas à capital, já começa a dar as caras em escolas de Curitiba e de outras regiões do Estado e, mesmo sendo considerada “inofensiva”, um possível surto da patologia tem deixado muitos pais surpresos e alarmados.

Leia mais! Desafios na internet colocam crianças e jovens em risco

É o caso da manicure Katy da Silveira, 40, que teve quase na mesma semana, os dois filhos diagnosticados com a síndrome. Moradora de Santa Felicidade, em Curitiba, ela afirma ter ficado assustada ao perceber a evolução rápida da patologia que acomete, ao mesmo tempo, o mais velho, Enzo, cinco anos, e o caçula, Gustavo, de dois anos, que foram infectados a partir do contato com um primo que estava doente. “Começou com uma febre de 38/39 graus e logo os dois estavam cheios de bolinhas. Pegou mais forte no Gustavo que hoje está melhor mas, até ontem, só chorava e não conseguia engolir nada além de suco porque tinha muita dor na boca e na garganta. Agora ele reclama de coceira no pezinho e não dormiu nada essa noite porque as feridinhas doem e queimam, como ele mesmo diz”, afirma.

De acordo com Katy, à primeira impressão, a síndrome causou desespero, principalmente depois de receber a notícia de que outras crianças da vizinhança também estariam infectadas. “A gente se assusta por não ouvir muito falar e só depois acaba sabendo que não é tão grave. Mesmo assim, causa um transtorno porque é muito doloroso pras crianças. É importante que falem sobre essa doença e informem os pais porque muita gente está sendo pega de surpresa”, desabafa.

Monitoramento

De acordo com a Secretaria da Saúde, mesmo com o número crescente de casos no Paraná, dados oficiais ainda não foram levantados. “Essa doença não passa por um sistema de  notificação obrigatório por não se tratar de uma patologia que levante esse interesse. Trata-se de uma virose sazonal e as informações levantadas até agora têm vindo das próprias regionais que nos procuram em busca de orientação. A partir disso nós registramos esses casos e passamos a monitorar os municípios”, explica Renato Lopes, chefe da divisão de doenças transmissíveis da SESA.

Segundo Renato, a doença costuma acontecer com mais frequência nesse período do ano por conta da fácil adaptação do vírus ao clima da estação. Ele afirma que registros já aconteceram em creches de cidades da Região Metropolitana, como Colombo e Mandirituba, na própria capital e em cidades do interior do estado como Ponta Grossa, Ivaiporã, Lunardelli, Pato Branco, entre outras. “Com certeza mais cidades registrarão casos da doença”, afirma.

Fique ligado!

Foto: Marco Charneski.
Foto: Marco Charneski.

Em Curitiba, focos da síndrome mão-pé-boca já surgiram em creches públicas e privadas de bairros como Santa Felicidade, Santa Quitéria, Boqueirão, Bairro Alto e Boa Vista. Segundo a Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba (SMS), os casos são pontuais e já são devidamente monitorados. “Não temos um aumento expressivo do número de registros na capital mas, mesmo assim, nós amplificamos a vigilância e também a orientação sobre a questão”, afirma Alcides Oliveira, diretor do Centro de Epidemiologia da Secretaria.

Leia mais! Jovem vende tudo e parte para viagem ao mundo

Apesar de não compor o rol de epidemias graves, a síndrome mão-pé-boca exige cuidados. De acordo com Renato Lopes, da SESA, em raras situações a patologia pode evoluir para infecções como miocardites, encefalites e meningites. “Por isso alertamos os pais a procurarem atendimento médico diante de qualquer suspeita da doença. Depois, recomenda-se que atentem para o repouso e hidratação adequados dos filhos, bem como cuidados com a higiene tanto pessoal quanto dos utensílios e objetos das crianças. Devidamente tratada e,respeitando-se o  período de isolamento,a patologia não costuma se agravar e melhora sem mais complicações”,
esclarece.

Para a farmacêutica e moradora do bairro Santa Quitéria, Daiana Lugarini, 31, a doença felizmente não passou de um susto. Ela, agora, respira aliviada uma vez que a filha, a pequena Eduarda de 11 meses já não apresenta mais nenhum sinal da síndrome mão-pé-boca. Há algumas semanas, porém, a situação era outra. “Ela começou com uma febre não muito alta e depois dor de garganta. Ficou manhosinha, não quis comer e, depois, apareceram as bolinhas. Foi a pediatra que diagnosticou a síndrome e recomendou que a mantivéssemos isolada no período de evolução. Ficamos bastante apreensivos”, revela. Preocupada, Daiana seguiu as orientações repassadas pela pediatra.“Foi simples. Cuidamos da alimentação dela e demos remédios para aliviar a dor e baixar a febre. Dentro de uma semana a Eduarda estava recuperada e até já voltou à escolinha”, comemora.

Transmissão

Considerada uma doença sazonal, a síndrome mão-pé-boca é uma virose causada pelo vírus intestinal Coxackie, que é facilmente transmitido via fecal e oral – por meio do contato com secreções – e também pelo compartilhamento de objetos contaminados como mamadeiras, chupetas e brinquedos. Sem contar com uma vacina, a doença é altamente contagiosa e  predominante em crianças menores de cinco anos, se caracterizando pelo início febril e evoluindo para a formação de pequenas e incômodas pústulas pelo corpo. Na maioria dos casos, a cura acontece de forma espontânea depois de alguns dias.

Leia mais! Cachorros em terminais de ônibus são bem recebidos por passageiros!

Sobre o autor

Maria Luiza Piccoli

(41) 9683-9504