Araucária

#PartiuMundo

Escrito por Lucas Sarzi

O que para uns é uma loucura total, para André foi a experiência mais incrível que ele teve na vida

Já pensou pegar algumas mudas de roupa, colocar tudo numa mochila e sair viajar para conhecer o mundo e, principalmente, se conhecer? Foi assim que fez o jovem André Luiz Baldo, 27 anos, de Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Depois de oito meses fora, o rapaz, que chegou a morar numa caverna e foi assaltado várias vezes, voltou no final do ano passado com uma experiência que jamais imaginou que teria.

Foto: Arquivo Pessoal.
Foto: Arquivo Pessoal.

A ideia de viajar surgiu ainda no final de 2016. “Com meus 25 anos, eu acreditava ter tudo o que precisava para viver: casa, trabalho, bens materiais, amigos e uma namorada incrível. Era feliz, sem dúvidas, mas surgiu em mim uma grande curiosidade em ver o que a vida poderia oferecer”, contou.

Enquanto viajava com a namorada para aproveitar a virada de ano, André resolveu tomar uma decisão drástica: abriu mão de tudo o que tinha para viajar e, principalmente, entender o que faltava em si. “Comecei então o que, pra mim, seria uma loucura, mas era o que eu sentia que deveria fazer, e fiz”, disse André, que vendeu a empresa, o carro, terminou o namoro e começou a definir como tudo seria.

Como toda pessoa que decide fazer uma viagem longa, o rapaz, que é publicitário, começou a planejar. “E programei mesmo, cada detalhe: os países, as cidades que passaria, atrações que eu queria visitar e até mesmo quantos dias eu ficaria em cada local. Mas o que eu não imaginava é que seria surpreendido pela vida mais uma vez e aprenderia antes mesmo de sair do Brasil”.

Planos arruinados

Os problemas começaram a aparecer ainda antes de embarcar. “Tive problemas com a venda da empresa, com meu carro, minhas relações pessoais e recebi o passaporte apenas quatro dias antes de partir, mas estava decidido e não mudaria minha decisão”, lembrou André, que disse ainda que passou a madrugada que antecedia a viagem mal, no pronto-socorro.

Ele foi assaltado várias vezes, a primeira delas já no aeroporto. Foto: Gerson Klaina.
Ele foi assaltado várias vezes, a primeira delas já no aeroporto. Foto: Gerson Klaina.

No aeroporto de Guarulhos, São Paulo, enquanto esperava para seguir para o seu primeiro destino, que era a África do Sul, André teve um tablet furtado. “Com isso, quem pegou o aparelho levou junto toda a minha programação da viagem e também os aplicativos que tinha baixado para poder me localizar quando chegasse. Mas tudo bem, segui”.

Quando chegou à África do Sul, sem a programação que tinha feito, o rapaz decidiu sair para procurar pelo menos um lugar para ficar. “Mas logo que deixei o aeroporto fui assaltado por três homens, que me fizeram ir até o banco e sacar boa parte do dinheiro que eu tinha reservado para a viagem. Eu tinha, ali, tudo para desistir, mas resolvi continuar”.

A vontade de desistir veio em vários momentos, como contou André. Além do tablet furtado e do assalto, o publicitário também foi furtado outras quatro vezes. “Perdi três câmeras e até o novo tablet, que comprei para substituir o que tinham levado, também furtaram. Em alguns momentos eu pensei que talvez estivesse fazendo uma loucura, mas algo me falava para continuar. Eu percebi que tinha algo muito mais importante, que nenhum bandido conseguiria levar, que era minha vida”.

Da África do Sul, André passou por Namíbia, Portugal e chegou à Espanha, onde decidiu que deveria ir para o Marrocos e foi parar no deserto do Saara. O publicitário passou ainda por outros países como Bélgica, Irã, Turquia e Egito até chegar à Índia, que era o ponto central de sua viagem. “Lá aconteceram coisas diferentes e que meu pai quase me fez voltar achando que eu estava louco”, brincou.

Loucas aventuras

Seguindo o budismo, mas sem focar somente em uma religião, André já tinha costumes de fazer retiros espirituais. No Sul da Índia, ele foi para uma montanha para conhecer e admirar a vista, mas acabou ficando por lá. “Acabei conhecendo um monge, que me permitiu ficar por três semanas com ele numa caverna. Lá eu pude ter contato ainda mais próximo comigo mesmo e vi que precisamos de muito pouco para viver”.

A decisão de André fez com que seu pai por pouco não mandasse busca-lo. “Ele achou que eu estava louco. Mas no fim, entendeu qual era o sentido da minha decisão. Enfrentei medos, percebi que a gente pode ser feliz em qualquer condição”, contou. Da caverna, o rapaz foi para o Nepal, onde escolheu ir para as montanhas e chegou ao Monte Everest.

André quebrou o pé, mas não desistiu da viagem. Foto: Lucas Sarzi.
André quebrou o pé, mas não desistiu da viagem. Foto: Arquivo pessoal.

“Por não ter tanta experiência, resolvi chegar até a altura máxima indicada para não profissionais, que ainda assim era alta: 5 mil metros. Na descida, comecei a passar mal e apressei o passo, mas nisso acabei quebrando o pé. De lá, fui para Mianmar, onde acabei apelando para um médico, que me disse que eu até poderia seguir viagem, mas teria que ficar em repouso”.

A viagem de André acabou na Tailândia e nas Filipinas. Além de se aventurar e conhecer detalhes das culturas que jamais pensou conhecer, o publicitário também participou de ações de voluntariado e procurou se aproximar ainda mais das pessoas. Ao todo, foram mais de 50 cidades e 14 países. “Saí de um lado do globo terrestre e voltei pelo outro”.

André gastou bem menos do que imaginou, principalmente porque escolheu lugares baratos para comer e, quando não ficou em hotéis mais baratos, chegou a se abrigar na casa de pessoas que conhecia quando chegava a cada cidade. “Perdi muita coisa no caminho, mas nenhuma delas me faz falta hoje, principalmente os medos e máscaras. Ganhei coisas que jamais poderão ser roubadas”.

Sem fronteiras

Quando chegou ao Brasil, André se lembrou de uma mensagem, que diz que “alegria maior do que encontrar um tesouro, é compartilhar um tesouro” e, por isso, resolveu compartilhar tudo o que viveu com as pessoas. Ele criou o projeto “Sem Fronteiras”, nas redes sociais, que também deve virar um livro e uma série de palestras. “Tenho a esperança de que o que eu vivi possa ajudar as pessoas. Se eu tivesse pensado um pouco antes de viajar, com certeza não teria ido, mas percebi que, para viver a vida, é preciso entrega e não muitas certezas”. Ele também está no Instagram e no Facebook.

 

Sobre o autor

Lucas Sarzi

Jornalista formado pelo UniBrasil e que, além de contar boas histórias, não tem preconceito: se atreve a escrever sobre praticamente todos os assuntos.

(41) 9683-9504