Curitiba

Nem pandemia derruba o x-montanha, ícone da baixa gastronomia curitibana

Escrito por Gustavo Marques

Para quem quase fechou por perder o local em que estava instalada há quase 40 anos, vencer a pandemia do novo coronavírus será só mais uma dificuldade a ser vencida pela família Ota, da tradicional Lanchonete Montesquieu, no Centro de Curitiba.

Para vencer a batalha do sumiço de clientes, principalmente os estudantes, já que as aulas da vizinha Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) estão suspensas, a lanchonete tem uma arma poderosa. Trata-se do x-montanha, sandubão de 495 gramas de pão de hambúrguer, alface, queijo, presunto maionese e a dupla de ataque do sabor formada por um bolinho de carne e um pastel à milanesa.

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Há 42 anos a família Ota alimenta a juventude e os mais clientes saudosos de um dos mais tradicionais lanches da baixa gastronomia da capital paranaense. O x-montanha é o carro-chefe da Lanchonete Montesquieu, que em 2018, após mobilização dos clientes, mudou-se da Avenida Silva Jardim para a Rua Alferes Poli, 686, ainda pertinho da UTFPR.

No período da pandemia, é até estranho entrar na lanchonete e não cruzar com os universitários mandando ver no lanche. Para a galera mais old school, que estudou quando a UTFPR era o Cefet, é difícil alguém que não tenha devorado um x-montanha roçando o jaleco dos cursos técnicos no balcão da Montesquieu.

O nome da lanchonete é francês, mas é gerenciada por uma família de origem japonesa com refeições bem brasileiras. Um símbolo curitibano que segue sendo apreciado por várias gerações ao lado de uma boa gasosa de vidro.  

A história da família Ota com a Motesquieu começou em 1978, quando os imigrantes japoneses Hiroyuki e Itsuko Ota decidem vir com os filhos Álvaro, Geni e Emília do interior de São Paulo para Curitiba. No imóvel na esquina da Avenida Silva Jardim com a Rua Desembargador Westphalen já havia a Lanchonete Montesquieu, nome dado pelo antigo dono, o seu Ernesto, e mantido pelos Ota.  

Os irmãos Emília, Álvaro e Geni estão há 42 anos à frente da Lanchonete Montesquieu, onde é servido o x-montanha. Foto: Gerson Klaina / Tribuna do Paraná

Assim que alugam o local, os Ota mudam as opções de lanches. Além de inovar com alguns sanduíches com mais ingredientes, os novos proprietários se aproveitam de uma situação que iria alterar o rumo da lanchonete.

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Em 1978, a Escola Técnica Federal do Paraná é transformada em Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná, o antigo Cefet, hoje UTFPR. Vizinha da instituição de ensino e com preços acessíveis ao bolso dos estudantes, a Montesquieu virou o point da turma.

“O começo foi um período muito bom para todos e tenho saudade. Era lotado todos os dias pelos estudantes que ficavam no balcão ou aglomerados perto da mesinha do fundo. Muitos que estudaram no Cefet ou na UTFPR ainda nos procuram e ligam para saber se existem os sanduíches que fizeram parte da vida deles”, orgulha-se Álvaro Ota, que toca a lanchonete com as duas irmãs.  

Nasce o x-montanha

Com a relação cada vez mais próxima dos alunos, a Montesquieu entra na onda de alguns pedidos mais radicais para os lanches. No fim da década de 80, o primeiro sanduíche que aparece é o x-monstro, com pão de hambúrguer, bolinho de carne, ovo, alface, tomate e o molho da casa. Aliás, o sanduba foi batizado pelos estudantes, que falavam estar com uma fome monstra.

Antigo balcão da Montesquieu na Avenida Silva Jardim, onde muitos estudantes do antigo Cefet encararam o x-montanha. Foto: Arquivo pessoal

No entanto, um aluno pediu alterações que ficariam marcadas para a história. Ele disse que não gostaria do ovo e do molho e que colocassem dentro do pão de hambúrguer um pastel à milanesa, presunto e queijo. “Eu não lembro o nome do rapaz, mas ele pediu por vários dias e isso atraiu os olhares de todos. Os amigos começaram a pedir e aí pelo tamanho que ficou o sanduíche o nome passou a ser x-montanha”, revela Álvaro, que em um dia bom vendia 50 x-montanhas.

Com a pandemia, o número de sanduíches caiu bastante. Mas aos poucos a Montesquieu vai se recuperando e agora já vende 20 x-montanhas. “A pandemia pegou muito pesado conosco e posso dizer que estamos sobrevivendo. As pessoas estão voltando e o telefone tem até tocado mais. Não pensei em fechar, mas posso dizer que as pessoas salvaram o lugar, agradece Álvaro a freguesia fiel.

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O empresário Edson Francisco Weiber, 38 anos, é um dos clientes que tem ajudado a Montesquieu a encarar a crise da pandemia. “Frequento aqui desde 1998 e mesmo não tendo estudado no antigo Cefet, alguns amigos apresentaram a lanchonete. A gente ficava em volta do balcão e sempre estava muito cheio. O x-montanha com gasosa é tradição! Trouxe muita gente pra comer o sanduíche e hoje estou aqui com a namorada para manter este hábito”, afirma Edson, que encarava o sandubão no dia em que a Tribuna foi ao Montesquieu.  

Mudança de local  

O ponto permaneceu na Silva Jardim até setembro de 2017, quando o imóvel foi pedido pelo proprietário, o que ameaçou a continuidade da lanchonete A saída chegou a provocar uma comoção entre os estudantes, que fizeram uma vaquinha virtual para arrecadar dinheiro para que os donos fosse para outro endereço.

Cinco meses depois, em março de 2018, a lanchonete reabria na Rua Alferes Poli, em um espaço maior e com uma cozinha mais moderna com fogão, chapas, estufas e coifas. O dinheiro arrecadado pelos alunos ajudou na compra de cadeiras, mesas e outros utensílios.

Com a mudança de endereço, é muito comum encontrar pessoas que frequentavam o antigo lugar na Silva Jardim. O programador Augusto Zambon, 30 anos, recorda que foi uma tristeza na época quando fechou o local. “Ainda bem que reabriu. Gosto de pedir o x-montanha porque não tem erro. É tradição mesmo”,diz Zambon.  

Programador Augusto Zambon, frequentador há anos da Lanchonete Montesquieu. Foto: Gerson Klaina / Tribuna do Paraná

Pandemia 

A pandemia do novo coronavírus afetou diretamente a lanchonete. Sem possibilidade de abrir em alguns momentos e sem aulas presenciais não só na UTFPR mas também nas escolas próximas, o faturamento despencou.

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Preparo do x-montanha e outros quitutes na Lanchonete Montesquieu. Foto: Gerson klaina / Tribuna do Paraná

Apesar disso, a família Ota jamais pensou em desistir. E as lições dos pais de Alvaro, seu Hiroyuki e dona Itsuko, ele já falecido e ela aposentada, foram decisivas para manter ativo o pensamento de que tudo um dia vai melhorar.

“O faturamento caiu bastante e hoje posso até dizer que sou um privilegiado. Estamos vendendo em média 20 x-montanha por dia”, explica Álvaro que vende o x-montanha por R$ 16 e o x-monstro R$ 11.  

Serviço: 

Lanchonete Montesquieu
Endereço: Rua Alferes Poli, 686, Centro
Telefone: (041) 3015-6983
Horário de atendimento: Segunda à Sexta das 11h às 19h

Sobre o autor

Gustavo Marques

(41) 9683-9504