Curitiba

Não tem vagas!

Comerciantes do Sítio Cercado estão perdendo clientes por causa das multas aplicadas em quem estaciona irregularmente em frente às lojas. Comerciantes já procuraram a prefeitura e viram que uma obra simples resolveria. Mas se quiserem a melhoria pública, vão ter que pagar do bolso

Perder clientes por causa da crise, a maioria dos comerciantes está passando por isto. Mas perder os poucos que ainda compram, por falta de estacionamento na frente das lojas, está deixando os comerciantes do bairro Sítio Cercado, em Curitiba, bem preocupados. Para piorar, a Guarda Municipal não perdoa e passa duas a três vezes por dia multando quem está estacionado irregular.

As principais lojas e serviços (bancos, farmácias, mercados, Correio, etc.) estão concentrados na Rua Isaac Ferreira da Cruz e ruas adjacentes, como as Ruas Agudos do Sul, Tijucas do Sul, Jussara, Elvira Marquesine Vaz, São José dos Pinhais, entre outras. Na Rua Isaac Ferreira da Cruz, é bem difícil encontrar vaga. O jeito é recorrer às ruas transversais ou paralelas, onde muitos comerciantes com terreno grande tentam manter áreas de estacionamento em frente as suas lojas. Mesmo assim, a demanda é muito grande e os carros se amontoam em cima das calçadas também, ou estacionam paralelo ao meio fio, onde há placas de proibido estacionar ou faixas amarelas (algumas bem apagadas e que o motorista nem consegue enxergar direito).

Então vem a Guarda Municipal e multa todo mundo. “Isso aqui é uma indústria da multa. A rua (Agudos do Sul) é muito estreita, então obriga o pessoal a parar em cima da calçada para não atrapalhar o trânsito. Mas eu já perdi venda por causa disso. Tive uma cliente que estava fechando uma compra de R$ 500. A Guarda passou multando, ela largou tudo aqui pra tirar o carro da calçada e nunca mais voltou”, reclama Rodrigo Faria, 38 anos, dono de uma loja de roupas.

E histórias como a de Rodrigo existem aos montes entre os comerciantes. Alguns preferiram não dizer os nomes das lojas, com medo de represálias. Assis Marcondes, 42 anos, é um deles. Ele diz que um dia estava fechando uma venda a um casal, quando a Guarda passou multando. Neste dia, o casal acabou não comprando nada e houve até discussão na loja. “A mulher disse ao namorado: ‘Eu falei pra você para irmos ao shopping? Lá não teria esse problema’. Depois tive que entrar em contato com o cliente. Fechei a venda, mas ele pediu que nas próximas eu leve o produto e a máquina de cartão até ele, porque perto da loja não dá mais pra estacionar”, lamenta Assis.

Até os comerciantes!

Já no caso do comerciante Claudio Xavier, 41 anos, foi ele próprio quem levou a multa. Ele tinha acabado de estacionar a caminhonete em frente à loja, na Rua Jussara, em cima da calçada, para descarregar produtos. Nisto passou um carro da Guarda Municipal e Cláudio perguntou se poderia ficar ali uns instantes, só para terminar a descarga. Os guardas disseram que não e Claudio imediatamente tirou o carro. Mas não adiantou ser educado e obedecer à orientação, pois levou multa assim mesmo.

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Pedro José dos Santos, 65 anos, tem comércio no bairro há 33 anos. “Eu encontro meus clientes antigos na rua e digo que sinto falta deles lá na loja. E eles me dizem que não vão mais porque não tem onde parar o carro”, reclama Pedro, que esses tempos presenciou uma mulher tendo o carro guinchado. Mesmo ela chegando ao local antes de guincharem, os guardas não deram moleza. Só deixaram ela tirar os pertences do bebê de dentro e levaram embora o veículo.
No caso de Adriano Rosa, 40 anos, o cliente ficou bravo e ainda quis que Adriano ajudasse a pagar a multa. “Não tenho como fazer isso. E na lateral da minha loja tem uma faixa amarela que já está bem apagada. Se for de noite, ou num dia de chuva, não dá pra ver direito a faixa”, diz.

Clientes

Jonathan do Nascimento, 22 anos, já foi multado duas vezes na região, em menos de dois meses. Na primeira vez, a esposa dele estava comprando roupas para o bebê do casal. Como não tinha onde parar, Jonathan ficou no carro esperando, parado num local que ele mal enxergou a faixa amarela, de tão apagada que estava. Quando viu, a Guarda já tinha lhe aplicado multa.
Da segunda vez, ele foi multado bem em frente à UPA 24 Horas do Sítio Cercado. Ele e a esposa chegaram desesperados, porque a bebê do casal estava passando mal e convulsionando. Desceram apressados para acudir a criança e, quando voltaram, já estava a multa no vidro.

Qual é a solução?

Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

O comerciante Fernando Barbosa, 52 anos, já foi com um grupo de lojistas à Regional Bairro Novo conversar com a prefeitura, para encontrar uma solução para a falta de vagas de estacionamento no centro comercial do Sítio Cercado e as consequentes multas que a Guarda Municipal vem aplicando. Os comerciantes sugerem que as ruas transversais à Isaac Ferreira da Cruz sejam alargadas (algumas possuem espaço para isto), para a construção de remansos para estacionamento dos dois lados da rua. “Os carros podem ficar parados paralelos ao meio fio.

Também dá para manter entradas para os lojistas que possuem estes estacionamentos perpendiculares, em frente às lojas. Assim, haveria locais para os carros, delimitaria a calçada (para não atrapalhar a circulação dos pedestres) e evitaria as multas”, analisa Fernando.

Depois desta conversa na Regional, um engenheiro da prefeitura foi ao local, analisou a demanda e disse que a obra seria viável. No entanto, o projeto e a execução teriam que ser pagos pelos comerciantes. “Não temos como custear isso. Só o trecho de uma quadra ia sair mais de R$ 40 mil. Puxa, é o comércio que faz a economia do bairro girar. O País todo está passando por uma crise. Ao invés da prefeitura ajudar, está espantando os clientes”, reclama Fernando.

“A gente já tentou conversar com um vereador, que ficou de fazer um requerimento para esta obra. Mas ficou por isso. Olha, nem sei se eles querem também acabar com essa indústria da multa aqui. É lucrativo para eles. Só por aqui, nesse trecho da Isaac, são 30 a 40 multas por dia. Multiplica isso por pelo menos R$ 180. A gente ouviu dizer que a GM aplicou seis mil multas no mês passado, aqui no bairro. Mil delas somente em frente à UPA. E os guardas não são muito educados não. Sequer dão uma orientação. Já chegam com viatura, guincho e vão metendo a caneta”, lamenta Fernando.

Motoristas

Se os lojistas reclamam que as multas espantam os fregueses, motoristas reclamam que os carros estacionados irregularmente atrapalham o trânsito. No momento que a Tribuna estava conversando com comerciantes na esquina da Isaac Ferreira da Cruz com a Agudos do Sul, uma viatura da Guarda Municipal passou aplicando as multas.

Os guardas municipais informaram que não poderiam dar entrevista. Apenas comentaram que têm fiscalizado sempre por causa das ligações que estão recebendo via 156, de motoristas reclamando que os carros estacionados irregularmente nestas vias estreitas estão prejudicando o trânsito. E de fato, antes da Guarda chegar, nossa equipe percebeu o quanto os carros parados nas faixas amarelas trancam o trânsito e só é possível passar um veículo por vez.

Prefeitura

“O remanso, que é a vaga recuada, pode ser uma opção nos casos em que a calçada tenha, no mínimo, quatro metros de largura. Para a execução de remanso, os custos – em qualquer lugar da cidade – são do proprietário, uma vez que a calçada é responsabilidade dos moradores, conforme definido em legislação específica. O proprietário do comércio também pode investir na construção de um estacionamento próprio.”

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