Curitiba

Aventura mundial

O mesmo futebol que há 20 anos deu início à amizade dos argentinos Daniel Agúero, 51, e Edgardo Gutiérrez, 44, fez com que os dois conhecessem um novo amigo, desta vez brasileiro. Tudo começou com uma brincadeira do comerciante Amarildo de Souza Costa, 50, após o jogo entre Irã e Nigéria, na Arena da Baixada. Ao confraternizar com os “hermanos” ele acabou descobrindo que os dois precisavam de ajuda.

O carro que os argentinos usaram para chegar a Curitiba estragou assim que a dupla entrou na cidade, após 1,8 mil quilômetros e 34 horas de viagem entre a região metropolitana de Buenos Aires e a capital paranaense. O Renault Kangoo a diesel parou de funcionar no domingo (15 de junho) e ficou estacionado na Avenida Iguaçu, onde se transformou na casa dos dois. Com pouco dinheiro – já que os pesos argentinos estão desvalorizados em relação ao real -, apenas um colchão pequeno e precisando arrumar o veículo para conseguir voltar para casa, Agúero e Gutiérrez cativaram a família do curitibano, que mora perto do endereço provisório e decidiu ajudá-los.

“Nos entendemos bem, conversamos em portunhol e eles logo perguntaram sobre um mecânico”, conta Amarildo. Ele acompanhou a dupla até o carro para ver a situação e a partir de então a amizade foi instantânea. “Simpatizei com eles. Vi que os dois são pessoas de bem e quando vi o carro percebi a seriedade, mesmo sendo uma aventura, é uma condição precária”, afirma o comerciante, que já os recebeu em casa e irá hospedá-los enquanto o veículo estiver no mecânico.

Entre o dia da chegada até conhecer a família curitibana, os argentinos passaram por problemas. Os dois tinham a intenção de encontrar hospedagem ao chegar em Curitiba, mas precisaram investir o dinheiro no conserto do carro. Assim, ficaram sem local adequado para tomar banho e com dificuldades para utilizar o banheiro. “Ficamos cinco dias sem tomar banho”, disse Gutiérrez.

O curitibano conta que não esperava encontrar dois amigos durante o mundial, mas acredita que qualquer pessoa faria o mesmo que ele. “A rivalidade fica fora do campo. Esta é uma oportunidade ímpar, não imaginei que passaria por isso, mas espero que seja uma longa amizade”, diz.

Desde que se conheceram, os três já jogaram bola juntos e os visitantes provaram o churrasco brasileiro preparado por Amarildo. Eles ainda se comprometeram a preparar um churrasco argentino, que, na brincadeira, garantem ser melhor que o prato local. Depois de conhecer pontos turísticos de Curitiba, os argentinos também vão conhecer o litoral paranaense com o anfitrião.

Organização pesou na escolha

Assim que o Brasil se tornou o país sede da Copa do Mundo em 2014, Agúero e Gutiérrez decidiram acompanhar a competição no país vizinho. O grupo de interessados na aventura era maior, com aproximadamente 15 amigos, mas após desistências por pouco dinheiro, dificuldade em tirar férias no período e falta de autorização das esposas para viajar, apenas os dois pegaram estrada.

Os argentinos optaram por Curitiba para acompanhar a Copa do Mundo, mesmo estando mais próximos de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. A escolha da cidade aconteceu porque não conseguiram ingressos para os jogos de sua seleção e a viagem pelo país seria muito cara. De acordo com os dois, a estrutura da cidade foi decisiva para a escolha. “Pesquisamos sobre Curitiba na internet, vimos a organização, os pontos turísticos, a preocupação com a ecologia e a diversidade cultural. É mais tranquila”, conta Gutiérrez, que sonha em voltar ao Brasil para participar do Carnaval do Rio de Janeiro, enquanto o amigo prefere as praias de Florianópolis.

O que não estava nas pesquisas foi a solidariedade dos curitibanos. A atitude de Costa surpreendeu os visitantes. “Não sabíamos que seria assim. Todos são receptivos, tentam nos entender e não tivemos problemas em lugar nenhum. Todos querem nos ajudar”, comemora Agúero.

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Carolina Gabardo Belo

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