Uma figura medonha, ativa nas redes sociais, tem apavorado muita gente ao ameaçar usuários de aplicativos de conversa, aleatoriamente, em uma nova espécie de “jogo” online cujo objetivo nada mais é que amedrontar e tirar o sono das vítimas. Pelo menos até agora. No Brasil, dezenas de “convocações” para o jogo, nos últimos meses, despertaram a atenção das autoridades e órgãos vinculados à segurança na internet já emitiram o alerta: a “brincadeira” é coisa séria e pode virar golpe.

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Conhecido como “Momo”, o perfil é de assustar. Com olhos esbugalhados e uma expressão monstruosa, a máscara emite mensagens simples para números escolhidos aleatoriamente. “Olá. Você foi escolhido para participar do meu desafio. Antes de qualquer coisa você está sendo monitorado. Sei quem você é e conheço todos os seus passos”, começa a mensagem que, lá pelas tantas, também diz “não sou mau, mas gostaria de brincar de jogos mortais com algumas pessoas”. No fim do texto, a “boneca” assina: “não comente com ninguém. Siga as regras. Entraremos em contato com você”. Depois disso, tudo pode acontecer. Desde chamadas de vídeo durante a madrugada até ameaças à família da vítima.

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É o que aconteceu com o maranhense radicado em Curitiba, Thiago Silva, 21, que no dia 19 de julho – recebeu em seu Whatsapp um chamado para participar do “Momo”. “A mensagem chegou do nada. Era um número de fora do Brasil e o texto era longo, dizendo uma série de coisas ameaçadoras, mas não levei a sério”, conta. Depois de responder a mensagem, Thiago notou que o perfil interagia, respondendo de forma compatível ao que ele escrevia. “Não é um robô. Eu comecei a tirar sarro e a pessoa do outro lado me respondia na mesma medida, até que uma hora me mandou um print de uma foto minha com a mãe dizendo que sabia tudo sobre mim. Aí me preocupei”, revela.

Assustado, Thiago bloqueou o contato, porém, no dia seguinte, por volta das 23h30, recebeu uma chamada de vídeo de outro telefone na qual a boneca se mexia e apontava uma faca para a câmera sem dizer uma palavra. “Bloqueei de novo mas não passou nem 24h e outro número desconhecido me chamou no Whatsapp mandando áudios em uma língua estranha, que acredito ser japonês”, lembra. O tormento, que durou cerca de 5 dias, acabou espontaneamente depois que Thiago parou de responder às mensagens. “Foi assustador porque eles sabiam de onde eu era, sabiam que moro em Curitiba e me mandaram várias fotos da minha família”, diz.

Origem da máscara

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Segundo o psicólogo Rodrigo Nejm, a pavorosa máscara utilizada para assustar os usuários do Whatsapp, na verdade, é uma obra de arte japonesa exposta em 2016 num evento de terror em Tóquio, voltado a figuras fantasmagóricas.

Divertido pra quem?

Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná

O jogo, que de divertido não tem nada, não faz vítimas somente no Brasil. Segundo a ONG Safernet, que tem sede em Salvador, na Bahia, “Momo” tem abordado usuários do Whatsapp de diversos países como Colômbia, México, Argentina, Alemanha e Estados Unidos. De provável origem japonesa, a corrente chegou ao Brasil há aproximadamente dois meses e, até agora, nenhum registro de extorsão de dinheiro ou ação criminosa foi registrada no território nacional. “Até agora é só pra assustar mesmo, mas, com a repercussão, muita gente mal intencionada pode começar a se aproveitar disso pra praticar crimes. Por isso é fundamental que a população esteja alerta e que pais e responsáveis tenham consciência e orientem seus filhos a não atender nem responder esse tipo de abordagem”, afirma o psicólogo e diretor de educação da ONG, Rodrigo Nejm que, por telefone, conversou com a reportagem da Tribuna e deu algumas orientações sobre como o público deve se comportar caso sejam desafiados pelo perfil.

“Em primeiro lugar, Momo não é um robô. São pessoas mal intencionadas e com muita habilidade com redes sociais, por isso, com uma simples troca de mensagens eles já conseguem acessar dados básicos de perfil pelo próprio Whatsapp e depois, com os mesmos dados, acessar o perfil da vítima em outras redes para conseguir mais informações e tornar tudo o mais legítimo o possível”, explica. Para evitar situações mais sérias, Nejm recomenda ao usuário que não interaja com o perfil. “Não responda e bloqueie imediatamente. Se adicionarem de outro telefone, faça novamente, e assim por diante mas, em hipótese alguma, troque mensagens com os criminosos”, alerta.

Proteção

Algumas medidas de segurança, segundo Nejm, também podem evitar o roubo de dados ou invasão de contas, sendo recomendadas caso o usuário seja abordado pelo perfil criminoso. “Para proteger a conta, o usuário pode ativar o sistema de ‘verificação em duas etapas’ do seu Whatsapp, por meio do menu do próprio aplicativo. Isso evita a clonagem da conta. Caso sofra alguma ameaça, basta ‘exportar a conversa’ ­ também por meio do menu ­ e encaminhar à polícia. Esse mecanismo permite que as autoridades rastreiem a origem do contato”, explica.

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Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná

Em todo o caso, o especialista recomenda: ainda é melhor prevenir, que remediar. “Basta ignorar as mensagens e alertar os amigos e a família (principalmente crianças, adolescentes e idosos) sobre esse novo tipo de golpe”, finaliza.

Tanto para vítimas quanto para quem busca mais informações de segurança, a ONG Safernet disponibiliza um canal gratuito de ajuda pelo site: canaldeajuda.org.br

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Em nota encaminhada à Tribuna, a Polícia Civil também se manifestou a respeito do jogo “Momo”, orientando a população a registrar Boletim de Ocorrência em casos de ameaça. Confira: “Com relação ao perfil online identificado como “Momo”, a Polícia Civil informa que registros de Boletim de Ocorrência (B.O) devem ser registrados caso haja algum crime ou dano efetivo (roubo de dados, ameaça, indução a alguma prática ilícita, etc) para a vítima. Em outros casos, como a tentativa de comunicação, sem que haja um crime de fato, podem ser notificadas através do e-mail (cibercrimes@pc.pr.gov.br) do Núcleo de Combate aos Cibercrimes (Nuciber), sem a necessidade da formalização de um B.O. Vale ressaltar que até o momento não houve nenhum registro de B.O na unidade e nem a consumação de algum crime de fato”.

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