Em uma visita à Cidade Industrial de Curitiba (CIC), o bairro que concentra mais moradores com faturas de água em atraso, a Tribuna constatou que a questão não é mais de subsistência, mas de sobrevivência. As estratégias para “ir levando com a barriga” até as coisas melhorarem envolvem desde deixar a casa de aluguel e se apertar na casa de parentes, morando “de favor”; pedir ajuda financeira para membros da família; fazer ligações irregulares de energia, os populares “gatos”; e até filar uma “boia” na casa do vizinho.
Inadimplência na conta de água
Fonte: Sanepar
Sem renda
conta a esposa de Marcos, Vera Cristina de Oliveira, 33.
Vera, a esposa de Marcos, não é alfabetizada, e trabalha em casa cuidando da mãe e dos afazeres domésticos. A família de seis pessoas têm como fonte de renda a pensão da idosa, que é viúva, e o salário do irmão de Vera. “Mas o pagamento dele vai quase todo pra cobrir a prestação do terreno, e quase não vence pagar tudo. Quando atrasa, no mês seguinte ele se arrebenta pra conseguir, porque vai virando uma bola de neve”, conta Marcos, que pelo menos não tem de arcar com aluguel.
Há cerca de dois meses, a luz da casa foi cortada. “Ficamos uma semana sem energia. Mesmo machucado, arranjei um serviço, fiz na marra, não tinha outro jeito. Aí consegui o dinheiro para pagar a conta e eles ligaram a luz de volta”, relata.
Futuro incerto
diz Fernanda.
As contas sempre estão atrasadas, e, felizmente, a família não chegou ao ponto de ter o fornecimento cortado. “A gente sempre paga atrasado, mas paga. Até agora temos conseguido pagar. Quando o bebê vier, não sabemos como vai ser.” O único alívio é não ter de arcar com aluguel, pois moram nos fundos da casa da tia de seu marido, na Vila Sandra, na CIC.
Vivendo de bicos
Uma esquina do bairro, formada pelo encontro das ruas Verônica Tribek Moro e Professor Mário José Zancanaro, na CIC, funciona como ponto para arranjar bicos. Lá, moradores desempregados se reúnem em frente a uma lanchonete e ficam conversando, fazendo contatos. Quando alguém precisa de um serviço de pedreiro, encanador ou eletricista, já sabe onde procurar a mão de obra.Vivaldino, 47 anos
Cedo pela manhã Vivaldino Antônio de Bairros, 47, já está a postos na esquina, com sua moto. No ano passado, ele fazia bicos como motoboy durante o dia e trabalhava para uma pizzaria durante a noite. Mas, há oito meses, praticamente não aparece nada. A família teve de se adaptar aos tempos difíceis, trocando, por exemplo, a carne pelo ovo.
Há dois meses, a Sanepar cortou a água da casa de Vivaldino por falta de pagamento. “Fiz uma correria pra levantar o dinheiro, porque sem água não dá pra ficar. Agora a conta já está atrasada de novo.” Ele diz que só poderá pensar em necessidades menos vitais, como roupas, lá para o fim do ano, quando espera que as coisas estejam melhores.
Jamir Alves, 52, é seu companheiro na espera por bicos. Desempregado, também depende da renda da esposa, que é decoradora. “Quem está levando nas costas é ela. O serviço que aparecer, não temos medo de fazer. Vontade de trabalhar não falta, o problema é que não está aparecendo nada”, lamenta ele, que antes era empregado de um ferro-velho, com carteira assinada.
“Fila-boia”
Relatou rindo o trabalhador Luiz Jorge
Ir morar com familiares foi a solução encontrada por muita gente que residia na Vila Sandra. Na esquina dos bicos, comenta-se a grande quantidade de casas vazias, por alugar. É o resultado da debandada de pessoas que não estão podendo pagar por moradia.
CORTE DE ÁGUA E LUZ
Saiba como funciona o processo de suspensão por atraso de pagamento para não ficar sem o serviço:
- 30 dias após a chegada da fatura, em caso de não pagamento, Copel manda aviso do débito na fatura seguinte.
- Fornecimento de energia pode ser cortado 16 dias após a segunda fatura.
- Titular da conta também é informado por e-mail e SMS (se ele tiver autorizado) e pode ser negativado nos sistemas de proteção ao crédito.
- Após o corte, consumidor precisa quitar o débito antes de solicitar a religação.
- Após pagar o débito e solicitar a religação, Copel tem até 24 horas para executá-la.
- Parcelamentos e negociações são avaliados caso a caso.
- Primeiro aviso de cobrança ocorre com 15 dias de vencimento da conta.
- Com 31 dias de vencimento, a Sanepar entrega um segundo comunicado informando ao consumidor sobre a possível suspensão no abastecimento de água, que ocorrerá somente a partir do 48º dia de vencimento da conta.
- É possível negociar o débito em qualquer Central de Relacionamento da Sanepar. É exigido um valor de entrada e o saldo pode ser parcelado.