Boqueirão

Só na gentileza

Com 82 anos de idade, Antônio Batista Barbosa recebeu da vizinhança o apelido de “senhor gentileza”, após realizar pequenos gestos de solidariedade pelo bairro. O mineiro, que há 28 anos mora no Boqueirão, conquistou a simpatia de muitos moradores e dedica seu tempo buscando sempre contribuir para melhoria do bairro.

O “senhor gentileza” já coleciona muitas histórias das ruas do Boqueirão. Como há quatro anos, quando Antônio construiu um banco no ponto de ônibus que fica ao lado de sua casa. “Sempre observava as pessoas esperando de pé. O intervalo entre um ônibus e outro é de cerca de quarenta minutos”, explica Antônio. Com apenas algumas tábuas e muita boa vontade, o pedreiro aposentado confeccionou um assento permanente para o ponto.

Além do banco, o “senhor gentileza” plastificou uma planilha com o horário dos ônibus que passam por ali e deixou fixado no assento, para ninguém mais perder a viagem. Ele instalou até um porta-revistas no lugar. “Enquanto o ônibus não chega, fico lendo sentada, muito mais confortável”, diz Sebastina Lina Queiroga. Passageira da linha Nivaldo Braga, que passa todos os dias pelo ponto, Sebastina diz que o ponto é o melhor de se esperar ônibus na cidade. “Todos os pontos deveriam ter um senhor Antônio”, brinca a passageira.

Mas o “senhor gentileza” continuou sua intervenção, instalando por conta própria lixeiras ao lado das árvores nas redondezas. “Eu sempre tive o hábito de recolher o lixo do chão. Mas é fácil perceber que quando há lixeiras a quantidade desse lixo tende a diminuir”, conta Antônio.

Além do banco, seu Antônio criou uma planilha com os horários dos ônibus. Foto: Paulo Lisboa
Além do banco, seu Antônio criou uma planilha com os horários dos ônibus. Foto: Paulo Lisboa

Quando vê alguma coisa errada, ele sempre tenta buscar uma solução. “Durante a vida inteira, sempre liguei e cobrei muito a prefeitura. Mas o que eu posso fazer, eu mesmo faço”, diz ele.

Exemplo premiado

Ao lado da esposa Nairdes, Antônio diz que tenta retribuir as alegrias que a vida lhe deu. Foto: Paulo Lisboa
Ao lado da esposa Nairdes, Antônio diz que tenta retribuir as alegrias que a vida lhe deu. Foto: Paulo Lisboa

Foram atitudes como essa que fizeram com que Antônio recebesse o primeiro Prêmio Bom Exemplo, entregue em 2013, pela RPC e a Fundação Dom Cabral, para homenagear as pessoas que fazem a diferença em suas comunidades. “Depois desse prêmio passei a ter dois apelidos.

Hoje muitos me chamam também de “bom exemplo””, revela Antônio.
Casado há 60 anos com Nairdes Gabriela Barbosa, o “senhor gentileza” revela que toda essa inspiração para ajudar vem das coisas que a vida lhe trouxe. “Tenho uma linda esposa, ótimos filhos e uma casa maravilhosa. Em troca de tudo isso que consegui, tento devolver ao mundo um pouco”, explica. Para ele, outro segredo é concentrar-se em sua própria vida em seus problemas. “Não fico olhando para o que é dos outros. Prefiro ajudar quem pode estar precisando, se não for para ajudar não quero nem saber”, diz Antônio.
Ele conta que algumas pessoas não entendem sua motivação. “Tem gente que sempre pergunta o porquê de eu fazer tudo isso ao invés de ficar apenas descansando. Apenas digo que me ocupo e me sinto bem quando consigo contribuir com alguém”, conta Antônio.

Latinha que vira cadeira

Anéis recolhidos vão pro Hospital Earsto Gaertner. Foto: Paulo Lisboa
Anéis recolhidos vão pro Hospital Earsto Gaertner. Foto: Paulo Lisboa

Outro hábito que o “senhor gentileza” desenvolveu foi o de juntar anéis de latinha para doar ao Hospital Erasto Gaertner, para contribuir na confecção de cadeiras de rodas. “Comecei a juntar esses anéis para ajudar um amigo que trabalhava com serviços gerais no Condor e havia descoberto que tinha câncer. Infelizmente, ele faleceu antes de conseguir o suficiente para que nos últimos dias ele tivesse este conforto”, explica Antônio. Depois disso, ele continuou juntando os anéis, que leva todos os meses ao hospital.

 

 

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Sobre o autor

Samuel Bittencourt

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