Quanto custa criar um filho?

Semana passada eu estava num evento voltado para jornalistas. Encontrei algumas amigas, também mães, e o assunto da roda foi a festa de aniversário da minha filha, que tinha ocorrido há menos de duas semanas. Ela vivia me pedindo duas coisas: que um dia gostaria de ter uma festa surpresa e a outra, é que queria uma festa com o tema da banda Kiss (sim, isso é rock bebê!). Fizemos as duas coisas, e foi demais! Inesquecível pra ela.

Foto: Álbum pessoal

Mas voltando à roda de conversa, nela havia só um homem, um colega que é produtor de TV. Eu havia acabado de conhecê-lo e creio que ainda não seja pai, pois ficou atentamente ouvindo nossa conversa sobre as festinhas dos nossos filhos. As decorações, os temas, o capricho e o empenho de nós mães em correr atrás de coisas que tornem a festinha mais atrativa para as crianças e barata para o bolso dos pais. Foi aí que o colega nos interrompeu e falou: “Eu já fiz um cálculo de quanto custa criar um filho, mas nunca tinha pensado nas festinhas …”

E aí eu me parei pensando. “Nós mulheres, aqui discutindo o emocional. E ele, homem, pensando pelo ponto de vista racional.” Então me peguei calculando: Quanto custa criar um filho? Antes que eu perguntasse ao colega sobre a mega planilha que ele deve ter feito com estes cálculos, fomos chamados para uma palestra e deixamos o assunto filhos de lado.

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E se você leu meu artigo até aqui, por favor não fique decepcionado, mas eu não vou responder a sua pergunta com valores financeiros. Vou respondê-la com valores emocionais, culturais e sociais. Portanto, o valor de criar um filho DEPENDE! Meu objetivo é fazer você pensar a cada vez que você tirar o cartão do banco da carteira em prol de um filho.

Mas depende do quê?

Depende do que você quer dar aos seus filhos e do que seu bolso permite. Para exemplificar tudo isso, vou usar algumas considerações da Leide Albergoni, que é economista, professora da Universidade Positivo e autora do livro “Introdução à Economia – Aplicações do Cotidiano”.

Os cálculos começam na gestação. A gestante precisa ter uma alimentação melhor, mais saudável, talvez tomar alguns medicamentos e suplementos vitamínicos que antes não usava. Os custos dependem se você quer, por exemplo, apenas tomar um leite desnatado ou tomar leite de soja (que é mais que o dobro do preço). Se quer comer qualquer fruta cultivada de forma “comum” ou se quer a orgânica, que não tem agrotóxicos mas é mais cara.

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Talvez o médico peça ou a gestante queira alguns exames não inclusos no plano de saúde. Muitas mães querem o exame 3D pra ver como será o rostinho do bebê, exame que geralmente não é custeado pelo plano. Mas aí vai de cada casal considerar se isso é necessário ou não. Eu, por exemplo, não quis. Segurei a ansiedade e preferi ver o rostinho do meu bebê ao vivo e a cores. Logo pode vir alguma atividade física voltada para a gestante (como pilates ou hidroginástica) para que mãe e bebê tenham mais saúde e os exercícios ajudem no parto. Eu fiz as duas coisas, hidro na primeira gestação e pilates na segunda, pois queria o acompanhamento de um profissional especializado. Algumas vão preferir apenas uma caminhada diária, que não custa nada.

Mammy Care -191

Logo surge a compra de enxoval, acessórios, das roupas, tanto de gestante (que são mais caras do que as roupas comuns e depois praticamente não se aproveita nada) e as roupas do bebê. Aliás, mãe de primeira viagem compra um mundo de coisas desnecessárias, não é mesmo (caríssimos e lindos kits de berço que às vezes nem usa, porque a criança não quer dormir no berço, carrinho da melhor marca e que nem usa)?

Das roupas gestante, compre poucas peças versáteis. Converse com mães mais experientes, pra não ficar com montes de coisas novas no armário, que nunca foram usadas. A não ser que você faça questão de ser uma gestante estilosa, ou precise se arrumar bem para o trabalho. Aí é outra história. Também não tenha vergonha de aceitar roupinhas do bebê da sua amiga ou prima. Na hora de comprar, será que seu bebê precisa daquele body da Thommy (de mais de R$ 100) ou quatro daquele da C&A (que custa de R$ 20 a R$ 30 cada um).

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E na hora que o bebê chega, será que precisa mesmo de filmagem de parto, curso de odontologia para bebê, culinária para bebês, chá de revelação do sexo do bebê e depois chá de bebê, enfermeira pra ensinar a amamentar? Será que um bom bate papo com o pediatra, o obstetra e outros profissionais, a troca de experiência com outros casais ou a consulta a sites confiáveis sobre maternidade não supririam todos estes cursos? Há programas gratuitos de amamentação, além das enfermeiras do hospital onde a criança nasceu que podem ajudar gratuitamente com tudo isso. Pais e mães, cuidem com a ansiedade!

Fraldas usadasAs fraldas … estima-se que uma criança use cerca de 2.000 mil fraldas durante a vida. Estas sim precisam ter um mínimo de qualidade, para o conforto do bebê e a qualidade de vida dos pais (pra que não tenham que esfregar no tanque cinco mudas de roupas sujas de cocô por dia). Pense nas fraldas de pano. São caras, mas podem compensar os custos ao longo do uso. A não ser que você não queira ter este trabalho de lavar fraldas (que são feitas pra lavar na máquina).

Pense também se o seu bebê precisa de um book de acompanhamento mensal e roupas estilo adulto (que são desconfortáveis e caras). Na internet há dicas de como fazer boas fotos. Por quê não uma boa foto caseira mensal do seu bebê? A não ser que os pais queiram mesmo algo melhor produzido. Antes de fazer escolhas, pense se aquilo vai ter pouco ou muito impacto na vida do seu bebê.

A festa de um ano!

OnePrimeira coisa que eu te digo: essa não é uma festa para crianças, e sim para adultos! O bebê ainda não entende nada, muitos passam a festa inteira dormindo ou chorando aborrecidos de sono ou por causa da agitação (e é um “parto” fazê-los ficarem com uma cara decente pelo menos pra tirar a foto e fazer a filmagem do parabéns). Os pais não conseguem controlar a ansiedade e fazem mega festas, super produzidas, cheias de temas, bolo artístico, doces caros, lembrancinhas chiques, decoração top (que vai quase toda pro lixo depois! Jesus, que desperdício ecológico!) … será que precisa mesmo disso tudo?

Chame um bom fotógrafo, mas não precisa de uma equipe de produção hollywoodiana. A criança não vai lembrar de nada e é uma festa apenas para dar uma “satisfação para a sociedade”, “fazer uma média” com a turma do trabalho ou do condomínio, mostrar pra família que “tá podendo”. Não ceda à pressão das tias ou dos avós por algo maravilhosamente impecável. Faça o que seu bolso permite. Não entre em dívidas por algo que não fará diferença na vida da criança. A não ser que seu objetivo seja causar mesmo, por algum motivo particular seu.

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Que tal uma festa menor, mais íntima, só para os mais próximos da criança? No futuro, qual a diferença, para a criança, de ver uma foto com os avós, por exemplo, “escondida” atrás de um mega bolo e cheia de personagens e bexigas na parede atrás, ou de uma foto com os avós no jardim de casa? Será que vai fazer muita diferença pra criança quando ela entender o contexto da foto? Pense a diferença que estas decisões vão fazer no seu bolso, todos os anos! Uma festinha básica, feita em casa, a uma festa super elaborada, feita em um salão de festas infantis, pra cerca de 50 pessoas, pode sair de R$ 750 a R$ 7.500. Entende a diferença de preços e valores “morais e sociais” de uma festa?

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Prefira investir no relacionamento diário com seu filho! Pra ele, tanto faz se tinha 20 ou 100 adultos na festa dele. E criança não liga se está comendo brigadeiro (simples, com granulado) ou brigadeiro de capim limão com cobertura de chocolate belga. Pra elas, tudo é brigadeiro! Aqui em casa, minha filha já pediu uma vez para trocar uma festa por um fim de semana na praia. Custou metade e nos divertimos muito mais.

A escola, que mensalidade cara!

EscolaNa hora de matricular, pense: uma escola internacional, bilíngüe, é compatível com a sua renda? Faz sentido você se matar para pagar uma escola cara demais? A Leide Albergoni questiona: certamente o padrão de vida daquelas crianças é maior que o seu. Estão acostumadas a certos luxos que outras crianças não tem em casa. Será que seu filho vai sentir-se bem no meio destas crianças? Isso sim poderá afetar o desenvolvimento emocional do seu filho. Uma boa escola é importante. Mas nos cursos superiores, mostra Leide, é possível encontrar bons alunos de escolas públicas e péssimos alunos vindos de escolas particulares. O fato é: a escola não faz milagre se o aluno não tem um bom acompanhamento dos pais em sua rotina.

Meu Deus, eles cresceram rápido!

Quando os filhos crescem … ele precisa de um tênis (porque o dele já está velho e rasgado), ou de um Nike (porque tem que ter um Nike pra ser aceito pelos amigos)? Ele precisa de um celular (pra se comunicar com a família e interagir com os amigos), ou de um iPhone X (que é o lançamento e ele tem que ter o lançamento antes de todo mundo e estar na turma do iPhone)? Ele precisa de uma blusa de moletom nova (porque a dele já não serve mais ou está velha) ou precisa de uma blusa da GAP (só pra ter a marca que os amigos usam)? Entende a diferença de valores (financeiros e morais) nestas perguntas?

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Ao mesmo tempo que você pode ensinar valores aos seus filhos, sobre quais são as coisas importantes (ou não) na vida, você economiza. O dinheiro economizado pode render boas férias em família, uma tarde no cinema em família ou até mesmo um presente que seu filho queira muito.

Gente, eu sou chegada num textão! Mas meu objetivo é fazer pais e mães refletirem sobre o que é mais importante para as suas vidas. Será que consegui provocar vocês?

Família