Há sempre boas surpresas em lugares que a gente nem imagina. Olha que bacana, conheci uma loja de discos que tem conquistado a clientela pelo estômago. No horário do almoço, os discos viram trilha sonora para pratos vegetarianos cheios de sabor na 23 Records. Localizada na Rua Saldanha Marinho, bem no Centro Boêmio de Curitiba, a pequena loja se divide entre mesas, cadeiras e LPs.
Pois bem. Reservei um almoço e passei na última semana na 23 Records provar a gastronomia sampleada. Lá funciona da seguinte forma: você fica sabendo do cardápio da casa por meio de um grupo no WhatsApp. O contato eu localizei no perfil do Instagram da loja @23_records_coffee. O valor é fixo: R$ 25 de segunda a sexta e R$ 30 aos sábados. O cardápio é único, somente um prato do dia, e muda diariamente – nada fixo. Aos sábados, a clássica feijoada – vegana. Almoço apenas por reserva!
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No menu que provei, o almoço foi assim: entrada com sopa creme de batata monalisa, inhame e cúrcuma, acompanhada com uma boa pimentinha caseira servida à parte. Depois, couve refogada, arroz integral, feijão preto, farofa de farinha de milho e vaca atolada vegana, preparada com mandioca ao molho de tomate e pedaços de proteína texturizada de soja.
A sopinha estava perfeita para o dia, que estava frio. Bem temperada, mas leve de sal, foi ótima para começar a refeição. O prato feito, preparado e montado no capricho. A vaca atolada vegana com mandioca desmanchando, bem cozida, PTS bem temperadinho, suculento, arroz integral cozido ao ponto – nem duro e nem muito mole, farofinha e feijão preto. Comida caseira leve, com pouco sal, mas bem gostosa e ótima para o dia-a-dia.
Discos e gastronomia
Por trás das panelas, quem administra a cozinha, os preparos, o menu, é também o garçom, o caixa e o chef é o Marcos Roberto da Silva. DJ já há alguns bons anos em Curitiba, Marcos resolveu abrir a loja de discos – um garimpo afiado – e também servir almoço a uma pequena lista desde 2019. Funcionário único, consegue dar conta de todo o preparo, montagem e finalização dos almoços diariamente – mas para um público seleto.
“Discotequei bastante na cidade. O que tem aqui, muita coisa é do meu trabalho, os discos. Eu sempre faço a comida no dia, vou às compras, preparo. Não tenho fogão aqui. Tenho muito cuidado para não ter gordura, fritura, que é para não sujar os discos”, contou Marcos, enquanto preparava o meu prato.
A loja é um espaço pequeno e integrado com a cozinha. A poucos metros das panelas estão as prateleiras com os discos. Por isso, é preciso ter muita cautela e apostar num menu bem leve, para não sujar nem danificar nada. Marcos usa panela elétrica e também um forno elétrico, onde prepara os almoços diariamente. Tudo é feito lá, numa pequena cozinha de uns dois metros quadrados.
Com uma quantidade significativa de discos, a loja reserva clássicos. De Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, a Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira e Tim Maia de 1971. Há também LPs da cena musical local, de bandas e artistas de Curitiba, coleção também do selo musical curitibano Zoom Discos.
Marcos disse que não sabe bem ao certo quantos discos têm na loja. “Nunca parei para contar, na verdade. Não é muito título, não. O que procuramos fazer é ter um garimpo de vinil que temos mais afinidade e conhecimento sobre os títulos”, revela.
O chef e DJ explicou que participa de feiras de vendas de vinis, por isso o material sempre está girando. “Também trabalhamos com a Polisom, Somatória do Barulho, discos novos e usados”, garante.
Enquanto eu conversava despretensiosamente com o Marcos – ele da cozinha e eu da mesa – a trilha sonora era conduzida por Thelonious Monk. O pianista e compositor negro americano é um dos grandes jazzistas de estilo único, que costuma improvisar. Agora imagine um jazz leve, um som gostoso, enquanto espera aquele almoço quentinho e saboroso chegar na sua mesa. Essa é a vibe da 23 Records.
“Não quero que fique um lugar hypado”
Quando eu perguntei ao Marcos porque quase não havia placas na frente da loja que pudessem evidenciar que ali havia almoço de segunda a sábado, ele me explicou a proposta dele para o lugar. “Eu não quero que aqui vire um lugar hypado. O almoço aqui é assim, poucas mesas, poucos lugares. Por isso tem o lance da reserva antes. Eu atendo a quantidade que eu posso, consigo servir uma certa quantidade e fazer bem, com cuidado.
Antes da loja, Marcos trabalhou em alguns restaurantes por Curitiba. A experiência é notada no tempero, na montagem dos pratos. E também na maestria em poder cozinhar num espaço pequeno, sem fogão, servindo pratos com riqueza de detalhes e ingredientes.
Da vaca atolada ao yakissoba, Marcos decide no dia qual vai ser o menu. Às vezes tem uma entradinha, uma sopinha, pode haver também preparos de legumes ao forno, algo gratinado, legumes sempre cozidos na panela elétrica. Um arroz soltinho, uma farofinha.
Durante a semana, para acompanhar o almoço, ainda tem água, suco, refrigerantes e cerveja artesanal. A sobremesa, por enquanto, não faz parte do menu. Aos sábados, uma feijoada caprichada, vegana, por R$ 30.
Sem comer carne, Marcos decidiu preparar sempre todos os pratos sem proteína animal. “Como eu não como carne, fica melhor. Mas dá para perceber. Aqui o cheiro é outro, é outra cozinha. Fica tudo mais limpo”, ressalta. Na 23 Records, a comida é saborosa e a atmosfera agradável. A trilha sonora é bem selecionada, mesas limpas, local simples e cheiro leve no ar.
**Os valores do cardápio divulgados no post são de julho de 2025 e podem sofrer alterações.
Que tal um almoço sampleado?
A 23 Records fica na Rua Saldanha Marinho, 555 – Centro. Funciona de segunda a sábado, no horário do almoço. Apenas com reserva diretamente no WhatsApp (41) 99638-1316.
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