Mais de 80 bolachas e o bolo preferido do Dalton Trevisan em Curitiba

Casa das Bolachas.
Foto: Eloá Cruz.

Em dias de baixas temperaturas, Curitiba sabe bem como mimar quem vive nessa terra de Araucárias e ventos gelados com garoa fina. Há quem aproveite o inverno visitar com mais frequência os cafés da cidade. Entre tantos lugares aconchegantes e que merecem atenção, a Casa das Bolachas, bem ali pertinho da Reitoria, é um dos meus lugares preferidos.

Há algum tempo sem comprar as deliciosas bolachinhas, o Rango Barateza resolveu passar por lá e conhecer melhor a história por trás desse café tão querido pelos estudantes, professores, intelectuais e moradores da região.

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A saga de empreender

A Casa das Bolachas nasceu em 2001, da vontade do Carlos Fernandes de Souza, de 65 anos, de empreender. Vindo do Norte do Paraná, mas especificamente de Santo Antônio da Platina, Carlos chegou na capital paranaense em 1981. Trabalhou por cinco anos no Banco Nacional, mas tinha o sonho de abrir o próprio negócio. Largou do emprego e montou uma fabriqueta de batata chips nos fundos da casa da mãe dele.

“Aí começou a minha saga. Eu ia no Ceasa, comprava as batatas, produzia, fritava, e vendia no Colégio Estadual, na PUC, na Reitoria. Eu vendia bem as batatinhas, mas era muito trabalho. Eu tinha uma fábrica no fundo do quintal. Até que, uma vez a caminho do Colégio Estadual, eu vi uma loja para alugar na XV, num shopping. Era uma loja de bolachas. Eu achei legal e pensei, ‘quer saber? vou montar uma loja de bolachas'”, conta.

A ideia não saiu da cabeça do Carlos. Cheio de vontade, mas com dinheiro apertado, afinal ele era um empresário na informalidade, precisou da ajuda da família e amigos para montar sua loja de bolachas. “Emprestei o nome da minha irmã para alugar o ponto que achei – que era aqui do lado, uma outra irmã foi fiadora, e um amigo me ajudou com a marcenaria – ele não me cobrou nada”, recorda o empresário.

O dinheiro foi todo na compra das madeiras. Acabou faltando grana para comprar as bolachas. “Fui lá e comprei meia dúzia de biscoitos diferentes de polvilho, num fornecedor no Santa Quitéria. Eu entreguei um cheque da minha irmã e pedi para ele segurar caso eu não conseguisse vender os biscoitos em uma semana. Aí ele me disse: ‘não, se você não vender em uma semana, pode fechar a loja’. Morri de medo. A minha surpresa foi que consegui vender os biscoitos em dois dias”, revela Carlos.

Aos poucos, o empresário foi comprando mais bolachas, conquistando a clientela. A pequena variedade de seis biscoitos de polvilho aumentou e muito. Atualmente são mais de 80 tipos de biscoitos e bolachas na loja, que também virou cafeteria.

Conquistas: café, parcerias e coração

Dois anos depois de abrir a Casa das Bolachas, Carlos conquistou uma das primeiras realizações como empresário: comprou um carro zero km. “No segundo ano eu consegui! Era um sonho que eu tinha. Claro que não foi à vista, mas era um carro zero e eu fiquei bem realizado. Foi um Fiat Doblô. Eu já tinha CNPJ, queria ampliar o negócio. Coloquei na cabeça que eu queria uma máquina de expresso. Era caro. Procurei nos classificados da Gazeta do Povo da época e achei um anúncio de venda de duas máquinas. Cheguei lá e negociamos a máquina por R$ 4 mil – ele fez ela parcelada, em quatro vezes. Trouxe a máquina, contente, mas não sabia que precisava de mais coisas para fazer café. Tinha que preparar o espaço. Fiquei com a máquina um ano parada até conseguir fazer café”.

A primeira loja era pequena. Com uma reforma, ficou bonita. “Parecia até uma boutique. As pessoas perguntavam se era alguma franquia. Eu não sabia fazer café direito e fui aprendendo com o tempo. Mesmo assim, tinha uma boa clientela, bom lucro”, confessa Carlos.

Entre estudantes, professores, jornalistas e intelectuais que sempre visitavam a Casa das Bolachas, uma moça chamou atenção. Alta, loira, de sorriso aberto e muito simpática, Heloísa Nass passou a frequentar a Casa das Bolachas e fez bater mais forte o coração do Carlos. Uma amizade se formou. Depois de alguns cafés, um encontro para uma pizza, que rendeu em namoro, depois casamento e mais recente um filho de quatro anos e meio, o Antônio. No meio dessa história de amor, a Casa das Bolachas foi crescendo. Heloísa passou a cuidar da parte do café e o Carlos ficou com as bolachas.

“O café ficou pequeno. Então decidimos mudar para um espaço maior, pertinho, ao lado. Nos mudamos para cá em 2014, nesse galpão de 240 m². Juntamos o café e as bolachas”, conta o empresário. A Casa das Bolachas hoje oferece uma variedade de mais de 80 bolachas, além dos cafés, salgados, sanduíches e até sopas no inverno. O volume maior de vendas ainda continua sendo as bolachas. Carlos compra biscoitos de Minas Gerais e também de outros fornecedores. Vende no café e também para vários feirantes, panificadoras e lojas.

Bolachas, sanduíches e Dalton Trevisan

As bolachas são vendidas a granel e custam em torno de R$ 7,90 / 100 gramas, na média. “Tem biscoitos de polvilho por R$ 6 / 100 gramas, amanteigados, casadinhos, biscoitos com chocolate que chega a R$ 14 [100 gramas]”, conta. São opções que combinam tanto para um chá, um café, até para um petisco com uma cervejinha.

O Rango Barateza provou várias bolachinhas. As clássicas certamente são as de polvilho, a rosca mineira ou o biscoitinho de vento. Uma das queridas e mais pedidas é a Bolo Fino – feita com uma camada fina de chocolate, recheio e bolacha amanteigada que derrete na boca, ela sai por R$ 14 a cada 100g.

Resolvi almoçar por lá e pedi um sanduíche muito gostoso da casa. Feito com pão ciabatta, cream cheese, presunto, queijo muçarela, picles, tomate seco e molho pesto, é servido bem quentinho e prensado. Ele alimenta bem, é muito saboroso, e custa R$ 29. Para acompanhar, um café latte (R$ 9) bem quentinho.

Se a ideia for visitar a Casa das Bolachas para uma sobremesa ou café da tarde, vale a pena pedir uma fatia de bolo. A partir de R$ 10, dá para provar vários bolinhos, daqueles simples para acompanhar o café ou o chá.

Aliás, o bolo de laranja da Casa das Bolachas tinha cliente fixo. Carlos conta que um visitante especial passava por lá ainda quando a loja não era muito movimentava. Pedia um café e sempre um pedaço de bolo de laranja, ou o bolo integral. Sentava num canto, de costas para o salão. “Ele sempre bem reservado, tímido, fechado”.

Era ‘apenas’ o escritor Dalton Trevisan, o famoso ‘Vampiro de Curitiba’. Morador da região, Dalton frequentou a Casa das Bolachas durante um bom tempo. Até que, ao chegar um dia e ver o intenso movimento, perguntou ao Carlos se o café era cheio com frequência. “Eu estava contente e disse todo animado para ele que sim. Depois daquele dia ele não voltou mais. A secretária dele sempre passava por aqui, comprava o bolo e levava para viagem. Um dia eu perguntei para ela porque Dalton não vinha mais, ela me disse que ele passou a não vir depois que eu disse que o lugar ficava cheio com frequência. Ele era assim, não gostava de gente”, lembra Carlos.

**Os valores do cardápio divulgados no post são de julho de 2025 e podem sofrer alterações.

Que tal um café com bolachas?

A Casa das Bolachas fica na Rua Amintas de Barros, 270 – Centro. Abre de segunda a sexta, das 9 às 19 horas, sábados das 10 às 18 horas. Fechado aos domingos.

CONFIRA O MENU COMPLETO DO RANGO BARATEZA:

Sanduíches;
Sopas;
Pizzas;
Massas;
Doces e sobremesas;
Salgados;
Pratos feitos;
Carnes;
Petiscos;
Buffet.

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