Abandonamos a ideia do parto natural e salvamos a vida do nosso filho

Nascimento de Bernardo de Oliveira Klisiewicz. Foto: Evelen Torrens

Não sei nem por onde começar. Talvez por um pedido sincero de desculpas. Esta coluna/blog eu jurei para mim mesmo que não ia abandonar, já que considero a missão do Pai de Piá nobre demais (modéstia às favas) para “morrer na casca”. E lá se vão semanas sem atualizações. Contudo, em parte, por uma boa causa.

Neste meio tempo, com seis dias de antecedência, mas na hora exata de Deus, às 7h53 do dia 8 de janeiro de 2023 o mundo conheceu Bernardo de Oliveira Klisiewicz.

A realização de um sonho deste que vos escreve (da mãe Beatriz também), que no apagar das luzes dos seus 40 anos, pegou nos braços aquele pacotinho de amor de 3,190 kg e 47 cm. Todo meio lambuzado, cheio de vernix (aliás, este é o tema de um dos próximos textos: “As palavras novas que aprendi sendo pai”), mas quietinho, de olhos (ambos) arregalados e curiosos… enfim, a coisa mais linda que alguém poderia fazer.

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Não é clichê. É realmente difícil de descrever o que eu senti. Na preparação, minha preocupação era fazer com que a mãe se sentisse bem. Eu estava realmente tranquilo, como é de minha característica. Acompanhado da brilhante fotógrafa Evelen Torrens (que merece todo um capítulo especial. Essa mulher é fantástica, uma lição de força e perseverança, atleticana doente, uma amiga querida que vida nos trouxe), esperei com certa angústia a hora de irmos para a sala de cirurgia.

Abandonamos a ideia do parto natural, pois as dores que a Beatriz vinha sentindo na última semana nos deixaram com um pé atrás. Sem dilatação ou qualquer outro indício de início de trabalho de parto, achamos por bem poupá-la de um sofrimento que poderia durar ainda uns 20 dias. Pensamos sempre no melhor para o bebê, mas é imprescindível pensar também no bem estar da mãe. Nada de sofrimentos desnecessários. A medicina evoluiu para isso e coube á nós e a nossa obstetra, a fantástica Simone Zandoná, a decisão de marcarmos o parto.

Sábia decisão, aliás. Mas já explico o porquê.

Depois de prepararem a Bia para o parto, nos chamaram para o centro cirúrgico do Hospital Nossa Senhora das Graças (aliás, outro adendo importante. Atendimento espetacular de todos os funcionários do hospital, desde a escolha da maternidade, até a hora da alta). Sentei num banquinho ao lado da Bia, onde podia beijá-la a todo instante, acarinhá-la e dizer o que para mim era óbvio (otimista que sou): ia ficar tudo bem.

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Precisei ser forte para passar tranquilidade quando ela me olhou com uma carinha aflita e disse: “Tô com medo”. Eu sabia que teríamos a melhor assistência possível e tratei de confortá-la, lhe transmitindo a segurança que eu podia dali de onde estávamos, atrás do pano azul erguido entre nós e a pancinha linda da minha esposa. Ficamos surpresos quando a enfermeira disse que seria rápido, coisa de 10 minutos. Achamos graça até, descrentes daquela agilidade toda.

E não precisamos de cinco minutos. Um movimento mais brusco na maca anunciou que os hábeis médicos estavam claramente a “tirar alguma coisa da barriga” da mãe. Um barulho de liquido sendo aspirado e o pano desceu, revelando nosso piazinho. Ele era maravilhoso, tão lindo quanto pode ser um bebê com aquelas medidas tirado de dentro de um útero que o abrigou por 9 meses. Eu não chorei (fiquei até surpreso).

Mas o Bernardo também não chorou. A própria enfermeira cortou o cordão umbilical e rapidamente o levaram do centro cirúrgico.

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A Bia logo se incomodou com isso. Queria o piazinho em seus braços o quanto antes e perguntou: “Mas ela não chorou”. A doutora Simone de pronto respondeu: “Ele já vai chorar, mãe”. Antes de ela terminar a frase, ecoou pelo corredor daquela ala do Graças um choro forte, vigoroso e desejado por todos que estavam naquela sala.

Em seguida me chamaram para os procedimentos de pesagem. Ao chegar na sala ao lado, o piazinho tava lá recebendo os últimos cuidados de limpeza. Depois de pesado e enrolado num pano grande, Bernardo finalmente veio para os meus braços. Só não sabia o que dizer, mas fiquei firme. As enfermeiras me orientaram a leva-lo para a mãe. Pronto, terminou ali a minha boa resistência às lágrimas.

Ao colocar o Bernardo ao lado do rosto da minha amada Beatriz, choramos todos. Aliás, ele não. Seguiu calminho, bem tranquilo, ainda sem entender o que estava acontecendo. Nós, no entanto, choramos. Eu por ter o privilégio de levar nosso filho para os braços da mãe. Ela por ter o primeiro e sonhado contato com aquele serzinho que cresceu dentro da sua barriga. Que momento incrível. A partir dali uma vida humana estava sob nossa responsabilidade e começava possivelmente a missão das nossas vidas, dos nossos destinos.

Na hora certa de Deus

No início do texto falei que o Bernardo nasceu na hora certa. O fato dele não ter chorado no parto e a preocupação da médica logo que trouxe o nosso piá para o mundo foi porque ele já tinha feito o mecônio (outro termo que explicarei mais no próximo texto, mas para quem não sabe, é um cocozinho mesmo) dentro do útero. E, como todos sabem (ou deveriam saber) o bebe aspira o líquido amniótico, já que não respira propriamente dito durante a gestação.

A aflição e os cuidados posteriores foram para aspirar este líquido que o pequeno ingeriu, e que poderia causar problemas futuros. Aliás, futuro que o Bernardo talvez nem tivesse se esperássemos por um parto natural. A data prevista era 14 de janeiro, seis dias depois, mas poderia ocorrer ainda alguns dias depois. Por isso, a cesárea foi a melhor opção para o nosso filho e para nós, como pais (para a mãe, nem se fala).

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É obvio que por regra o parto natural é a melhor opção (biologicamente, cientificamente, ou coisa que o valha). Mas insistir no parto natural, neste caso, poderia custar a vida do nosso filho. E não sou eu quem está dizendo. Essas foram as palavras da nossa médica, que tem anos de experiência em partos difíceis e foi uma grande parceira nesse momento.

Quando ouvimos da sua boca as palavras “óbito fetal” se não tivéssemos antecipado o parto, gelamos por dentro. Mas também agradecemos a natureza ou a intervenção divina por decidirmos encontrar nosso piazinho uns dias antes. Os batimentos do bebê já estavam bem abaixo da média, o que mostraram com ainda mais clareza que nossa decisão foi certeira.

O excesso de informações existente na internet pode nos deixar confusos e nos colocar em um caminho que pode não ter volta. Por isso, encontre uma profissional experiente, ouça suas palavras e recomendações, e confie na medicina. E siga nessa aventura conosco, nos próximos textos aqui na coluna.

Eu sou Eduardo Luiz Klisiewicz, marido da Beatriz e pai do Bernardo.

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