Curitiba tem sido cenário de eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes e devastadores. É no mínimo paradoxal observar a supressão (que palavra bonita, não é mesmo, para se referir à corte) de árvores adultas e saudáveis em nossa cidade. Enquanto chuvas torrenciais arrastam carros, pessoas, vidas e sonhos, assistimos, perplexos, à remoção de vegetação que poderia ser nossa aliada na mitigação desses desastres.
A incoerência é gritante: de um lado, a natureza cobra seu preço por anos de descaso; de outro, continuamos a cimentar e derrubar árvores, como se não houvesse amanhã em um pensamento: “ah, isso só acontece com os outros”.
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A “supressão” (já que aprendi, vou usá-la novamente) de árvores é justificada por obras que, muitas vezes, não refletem os anseios da população (que a prefeitura jura que ouviu). Grandes projetos são implementados sem consulta adequada às comunidades, sem considerar o valor ambiental e social das árvores que são removidas, nem que essas sejam as Araucárias das entranhas da terra descritas em poesia por alguém que jurava ter consideração por elas.
Quando pomos abaixo essas e outras árvores aumentamos nossa vulnerabilidade às consequências das mudanças climáticas (talvez você já tenha até escutado sobre).
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Enquanto isso, as chuvas torrenciais, cada vez mais intensas e imprevisíveis (ou não, pois todas as tardes têm chovido muito por aqui), expõem a fragilidade da cidade. A impermeabilização do solo, resultado da excessiva urbanização e da falta de planejamento, impede que a água seja absorvida de forma adequada (você já viu como ficou a Praça da Ucrânia?).
O resultado são enchentes que devastam a cidade, deixando famílias desabrigadas, animais de estimação perdidos e vidas interrompidas. Na cidade cimentada a água não escoa e transforma ruas em rios e avenidas em lagos.
É urgente repensarmos nosso modelo de desenvolvimento urbano. Cobrarmos. Fiscalizarmos. A “supressão” de árvores e a impermeabilização do solo são atos de desrespeito à própria população que habita essas cidades. Se os governantes ainda não entenderam, eles também fazem parte da população.
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Precisamos de políticas públicas que priorizem a preservação ambiental (e não uma que autorize o corte de uma área significativa de Mata Atlântica para aumentar aterro porque não temos mais onde colocar lixo). Precisamos fechar a torneira e não ficar secando o chão molhado. Daqui seis anos será o que?
Precisamos de prefeitos e secretários que incentivem a arborização urbana e que promovam a criação de espaços verdes capazes de absorver a água da chuva, reduzindo o impacto das enchentes. Precisamos de cidades mais verdes, mais resilientes e mais humanas. Cidades que respeitem a natureza e que estejam preparadas para enfrentar os desafios climáticos que já bateram à nossa porta.
Não é mais futuro…tragédias climáticas já são História.
A educação ambiental é um pilar essencial nessa transformação e deve estar presente em todos os lugares: nas escolas, para que as crianças cresçam conscientes da importância da natureza; nas empresas, para que adotem práticas sustentáveis e responsáveis, nas instituições em geral, nas campanhas do Poder Público, para que a população seja informada e que tenha condições de racionalizar essa mudança tão necessária.
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No entanto, o Poder Público não pode apenas pregar a conscientização — ele precisa dar o exemplo. Enquanto governos continuarem a autorizar a supressão de árvores e a priorizar obras que ignoram o impacto ambiental, qualquer campanha de educação perde credibilidade. Enquanto continuarmos a desmatar e a cimentar
Enlouquecidamente, estaremos cavando nossa própria cova. A natureza está nos enviando sinais claros de que algo está errado. A incoerência de destruir o que nos protege em um momento em que mais do que nunca precisamos de proteção é um erro que não podemos mais cometer.
É preciso que o Poder Público faça sua própria lição de casa, alinhando suas ações ao discurso de sustentabilidade que tanto prega.
A resposta não está apenas nas mãos dos governantes, mas também nas nossas. É preciso cobrar, fiscalizar, exigir. É preciso que a população se una e diga “basta”.
Basta de supressão de árvores, basta de impermeabilização do solo, basta de obras que ignoram o impacto ambiental e o bem-estar coletivo. Precisamos de políticas públicas que priorizem a preservação ambiental, que incentivem a arborização urbana e que promovam a criação de espaços verdes capazes de absorver a água da chuva.
Não é mais futuro… tragédias climáticas já são História e a escolha de como escrever os próximos capítulos também é nossa.
