Chapelaria, ossada, túnel secreto, arqueiros e rei da noite. Essa combinação, que parece cena de um filme do Indiana Jones em busca da cerveja perdida, retrata a história de um bar curitibano situado no Largo da Ordem, no destemido bairro São Francisco, coladinho no Centro. O Quintal do Monge é história viva e lendas urbanas de Curitiba, tendo no comando um especialista quando o assunto é boteco e festa.
Um dos responsáveis pelo Quintal do Monge é o Sérgio Apter, um sessentão que não dá margem para o sofá, tampouco para a aposentadoria. No currículo, foi um dos “cabeças” do Aeroanta, balada icônica de Curitiba na década de 1990, e dono de uma memória invejável.
No longínquo pré-Carnaval de 2013, ao lado do amigo Leandro, também sócio do Quintal do Monge, a dupla abriu uma espécie de portinha no atual espaço do bar para vender chope artesanal, uma novidade na época. “O ponto, que tinha sido um pequeno shopping, estava um pouco abandonado. Tinha só os fundos, um banheiro montado, e decidimos colocar torneiras de chope. Deu certo, e percebemos o potencial de crescimento que existia”, contou Sérgio.
Em uma pesquisa sobre o imóvel da Rua Doutor Claudino dos Santos, descobriu-se que o ponto foi uma chapelaria de Francisco Weigang, filho de imigrantes alemães que chegaram ao Brasil em 1856. Coincidência ou destino: os irmãos de Francisco, Roberto e Bernardo, abriram uma das primeiras cervejarias de Curitiba, localizada na Rua XV de Novembro.
Ao lado do terreno do atual Quintal do Monge, está a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco das Chagas, sendo que uma de suas paredes também pertence ao bar. Durante pequenas reformas no espaço, ao mexerem nessa divisa, que mantém as características originais, um osso humano foi encontrado.
“A parede foi feita com pedra, argila e óleo de baleia, e nessas raspadas, o pedreiro encontrou um osso. Acreditamos que ali no canto seria um cemitério de padres”, comenta Sérgio, que também ouviu histórias sobre um túnel secreto e arqueiros que protegiam a igreja, onde hoje está exposto um boneco de monge que decora o bar.
Paraíso do chope, com alimentação de rei em Curitiba
Ao entrar no Quintal do Monge, além de estar pisando em solo histórico, é como adentrar um templo da cerveja artesanal. Aliás, foram os monges que produziram e aprimoraram a qualidade da cerveja com estudo e muita degustação, sendo que algumas cervejarias no mundo, utilizam o selo trapista. Para quem aprecia um gole mais elaborado, o local é um paraíso, com 16 torneiras do líquido sagrado. Sérgio é o degustador oficial, dono de um paladar apuradíssimo.
“Sou eu que defino qual cervejaria vai estar aqui no Monge. A ideia é valorizar empresas paranaenses, e tenho orgulho disso. Acredito que, no Quintal, a experiência é boa no consumo, a pessoa se diverte. Sempre cuido para que os fornecedores sejam os melhores possíveis. Um exemplo é o pão, pegamos na Padaria América desde a fundação. Sou exigente com essa parte. Abrimos sem muita pretensão na gastronomia, mas hoje a alimentação representa 50% do faturamento do bar”, explica Sérgio.
Falando em comida, não deixe de experimentar duas especialidades da casa: o torresmo, sequinho e crocante, e a tradicional carne de onça original. Outras boas pedidas são o fish & chips (tiras de tilápia empanada com batata rústica) e os canudos arabe com carne seca e catupiry.
Um bar de alma no coração boêmio
Outro diferencial do Quintal do Monge é o ambiente descontraído e cheio de vida, um bar com alma, no coração boêmio de Curitiba.
“Tenho vontade de passar aos outros um recado saudável e honesto. Somos simples. Nosso almoço é bife, arroz, feijão e batata frita. Não inventei nada, só fazemos bem-feito. Os tempos mudaram, mas tem mercado para todos. O Largo é para o curitibano e para o turista que nos visita. Nosso Centro é lindo demais”, finaliza o “Rei da Noite” da capital paranaense, e eterno apaixonado pela vida.
Quintal do Monge
Endereço: Rua Dr. Claudino dos Santos, 24 – São Francisco, Curitiba
Horário de Funcionamento: funciona todos os dias, abrindo às 11 horas. De segunda a sábado, fecha às 23 horas, e aos domingos, fecha às 20 horas.
Instagram: quintaldomonge
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