Opinião

Arrigo Sacchi e o futebol: sem o clube do coração, a vida não seria a mesma coisa

A paixão pelo futebol em tempos de coronavírus. Na imagem, Milan comandado por Arrigo Sacchi goleia o Real Madri no San Siro em 1989. Foto: Arquivo/AC Milan

O italiano Arrigo Sacchi foi o maior treinador do seu tempo. Foi ele quem idealizou e executou o Milan dos holandeses Ruud Gullit, Marcel “Marco” van Basten e Frank Rijkaard. Desafiando os conceitos imutáveis com os quais se obrigava a conviver, fez o Milan mostrar aos italianos que a vida que existia além da retranca era mais saudável.

Conheci Sacchi, na sua sala do Estádio Ennio Tardine, no janeiro invernal de 2002, quando fui a Parma com Alex, que na época vivia a sua saga contra a Parmalat. Mais do que um professor, conheci um intelectual que pensa coisas da vida.

Em 1994, na Copa do Mundo, não tendo mais palavras para consolar Roberto Baggio, que perdera o último pênalti da Itália contra o Brasil, Sacchi falou: “O futebol é dentre as coisas menos importantes, a mais importante.” 

Nesse momento, em que o futebol, como todos os segmentos da vida, sofre a influência da angústia, do medo e da incerteza, em razão da pandemia do Covid-19, há quem use o pensamento de Sacchi para diminuir a importância do futebol, em razão da sobreposição da vida sobre todas as coisas.

A expressão do pensador italiano não deve ser interpretada em sua literalidade porque não toma a vida como premissa para dar dimensão à importâncias das coisas. É preciso investigar a sua intenção e o seu espirito. A vida, como o nosso bem supremo, autoriza-nos a criar valores escalonando-os de acordo com nossos sentimentos, interesses e necessidades. 

E, cada um de nós tem o direito graduar a importância de cada de cada bem. Então, preservada a vida, fazemos a escala de acordo com a importância de cada valor. 

Em regra, a família, o trabalho e os amigos, que criam a base para adquirirmos e valorarmos outros bens. Todos nós que gostamos de futebol, temos um clube de coração como valor indisponível, que atua, muitas vezes, como referências e como um depósito no qual guardamos muitas ilusões que alimentam nossos sentimentos. 

Sem o futebol, a sociedade usaria a sua capacidade ilimitada para adaptar-se a um estado inesperado e desconhecido. Mas, sem o clube do coração, a vida não seria a mesma coisa. 

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