O foco é resgatar a cidadania

Mais de 70% dos pacientes psicóticos não aderem ao tratamento ambulatorial, o que dificulta o controle da doença e aumenta o número de internações hospitalares. Um programa desenvolvido, a partir de 2004, pelo Centro de Atenção Psicossocial (CAPS III), de Londrina, no Paraná, conseguiu pela primeira vez no Brasil reverter esta realidade, possibilitando aos pacientes em acompanhamento exercerem os seus direitos como cidadãos.

Por valorizar as ações que visam esse resgate social, o exemplo londrinense é um dos finalistas do ?Prêmio de Inclusão Social ? Saúde Mental?, iniciativa do Laboratório Eli Lilly, com o apoio da Associação Brasileira de Psiquiatria. Os vencedores do prêmio serão conhecidos durante o 24.º Congresso Brasileiro de Psiquiatria, que acontece a partir do dia 26 de outubro, em Curitiba.

O embrião do ?Programa de Pacientes Psicóticos não Aderentes ao Tratamento Ambulatorial?, desenvolvido pelo CAPS, teve início em 2001. O psiquiatra Nilton Ferreira, coordenador do programa, lembra que o insucesso do tratamento dos pacientes psicóticos na cidade começava no momento em que lhes eram prescritas as receitas médicas com o uso de medicamentos via oral. ?A falta de adesão era freqüente e os pacientes tinham que ser internados novamente?, conta.

Tratamento domiciliar

Para tentar solucionar esse problema, os médicos passaram a prescrever doses injetáveis, de efeito prolongado. Com isso, o sistema de distribuição dos medicamentos foi totalmente modificado. O fornecimento dos remédios, antes realizado em apenas um local, foi descentralizado para as unidades básicas de saúde e para os programas de saúde da família, inclusive para os moradores da zona rural. Esse trabalho de busca ativa foi tão intensivo, de acordo com o psiquiatra, que os agentes do programa visitavam o paciente em casa para não deixá-lo sem a medicação.

A adoção dessas medidas fez com que o índice de internamentos dos 330 pacientes acompanhados pelo programa caísse significativamente. ?Houve uma redução de mais de 35% no total de internamentos dos psicóticos do município?, afirma Nilton Ferreira. Paulo (nome fictício) é um dos exemplos do sucesso do programa. Após inúmeras internações e tentativas de agressão aos familiares, ele passou a receber em casa as doses de injeção de efeito prolongado aplicadas pelas agentes do CAPS III. Após cinco meses em tratamento, o seu quadro se estabilizou e ele conseguiu refazer seus laços familiares. Hoje, Paulo freqüenta uma igreja do seu bairro e, a exemplo dele, outros pacientes psicóticos de Londrina podem exercer o seu direito de cidadãos, inclusive trabalhando e estudando.

Reintegração social

O Programa de Pacientes Psicóticos não Aderentes ao Tratamento Ambulatorial desenvolvido em Londrina foi selecionado entre 104 inscritos e concorrerá com 11 projetos que incentivam as ações sociais para reintegrar socialmente portadores de esquizofrenia, transtorno bipolar e depressão à sociedade. Todos finalistas desta quarta edição do Prêmio de Inclusão Social ? Saúde Mental estão divididos nas categorias clínica, educacional, defesa dos direitos e meios de comunicação.

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