Misturar remédios e comida exige critérios

Um velho hábito da população brasileira, misturar remédios e comida, pode provocar efeitos totalmente contrários ao desejado. Em vez de curar, medicamentos associados a outras drogas ou a determinados alimentos podem diminuir ou anular seus efeitos no organismo. Com razão, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que apenas um medicamento seja ingerido de cada vez, embora existam doenças que não permitam esse tipo de procedimento.

A orientação é para que se tomem medicamentos com o estômago vazio, pois devido a sua pouca acidez, nesse estado, ele facilita a absorção da maioria dos medicamentos. “Quando se ingere algum alimento, essa acidez vai se acentuando e, essa variação, prejudica a absorção pelo organismo dos princípios ativos das drogas, que demoram a chegar aos intestinos onde são, efetivamente, absorvidos”, avisa o farmacêutico José Gilberto Pereira, do Centro de Informação sobre Medicamentos – CIM. Se o remédio for inevitável próximo das refeições, recomenda-se que isso seja feito com o intervalo de uma hora antes e de duas a três horas após a refeição.

As pessoas com tendência a úlcera e gastrite, porém, quando ingerem em jejum alguns tipos de remédios, como os analgésicos e os anti-reumáticos (que combatem artrite, gota e reumatismo), podem sofrer irritações na mucosa gástrica. Nesses casos, é sempre bom comer algo antes, como um pedaço de pão, uma fatia de bolo ou um copo de leite, porque esses alimentos evitam parcialmente a irritação.

Rever hábitos

O costume de tomar leite com antibiótico (do tipo tetraciclina), que sempre se pensou fazer bem, é prejudicial. Isso porque os metais presentes no leite, como ferro, cálcio e zinco, entram em ação com o princípio ativo do remédio no trato digestivo, impedindo a correta absorção do medicamento. O resultado é que boa parte é eliminada pelas fezes, fazendo com que o paciente não se livre da infecção no tempo preestabelecido.

Pessoas que têm por hábito tomar qualquer remédio com suco, refrigerante ou chá precisam mudar essa prática. “Via de regra, todo medicamento se toma com água”, ensina Pereira. No entanto, no entender do especialista, esse preceito não pode ser generalizado. Alguns medicamentos possuem algum tipo de restrição, não podendo ser ingeridos junto com alimentos, outros, ao contrário, devem, necessariamente, ser tomados concomitantemente com a alimentação. “O ideal é sempre seguir as orientações do médico ou do farmacêutico, conforme cada caso”, finaliza Pereira.

DROGAS INCOMPATÍVEIS

Existem alguns remédios que não devem ser tomados simultaneamente com a alimentação, pois diminuem a sua eficácia ou aumentam a sua toxicidade. Confira abaixo as reações de alguns tipos de substâncias:

Antiácido + anti-reumático: Os antiácidos neutralizam a acidez, mas também alteram o pH do estômago. E essa alteração pode interferir na absorção de outros remédios e até de nutrientes.

Anticoagulante + antiinflamatório

: Como ambos têm afinidades com as proteínas do sangue, vão competir entre si e acabar provocando uma potencialização de seus efeitos.


Cardiotônico (para insuficiência cardíaca congestiva) + diurético (para fortalecer as contrações do coração): Pacientes que tomam cardiotônico por algum tempo terão acúmulo desse fármaco no organismo. Quando se toma diurético, cuja função é eliminar água do organismo, uma grande quantidade de moléculas de cardiotônico pode voltar para o sangue e provocar intoxicação.

Tranqüilizante + álcool

: Como ambos deprimem o sistema nervoso central, se tomados juntos podem potencializar o efeito. Dependendo da dose de álcool, o indivíduo entra em depressão, depois em coma e pode vir até a morrer.

Antibiótico (derivado de tetraciclina) + leite, queijo, suco de laranja ou de maracujá

: Os metais presentes no leite ou nos sucos, como ferro, cálcio e zinco, impedem a boa absorção do antibiótico.

Aspirina + neomicina ou colchicina (antigota)

: A aspirina é um analgésico e anti-reumático que, sozinho, pode causar irritação gástrica. Juntos, vão provocar irritação ainda maior e até micro hemorragias imperceptíveis.

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