Merecido descanso

Estou para sair de férias e o clima pesou no escritório. Eu nunca vi algum patrão radiante com funcionário que ficará ausente?, reconhece a balconista Irene Martins Pereira. Depois de passar um ano inteiro trabalhando ou estudando, é natural que qualquer pessoa esteja aguardando ansiosamente as tão sonhadas férias, sinônimo de descanso físico e mental. É hora de repor as energias perdidas no trabalho e nos estudos. A legislação trabalhista garante que, após um ano de trabalho, todo funcionário tem direito a elas, mesmo aqueles que não possuem registro em carteira. Apesar de ser permitido negociar parte das férias com a empresa, pelo menos 20 dias devem ser de descanso obrigatorio. ?Esse período é de suma importância, pois promove a recuperação físico-mental, o descanso, e dá ao trabalhador a oportunidade de participar de atividades sociais e familiares?, reconhece Evelyse Reis, psicóloga do Sefit Prevenção Laboral.

Até que as férias finalmente cheguem, os trabalhadores ficam bastante ansiosos. Esse sentimento soma-se à tensão do final do ano, quando acontecem os fechamentos de metas e balanços anuais, podendo prejudicar o rendimento pessoal e da empresa. ?Para administrar melhor o cansaço físico-mental acumulado, as atividades corporais, como ginástica laboral e relaxamentos, podem ser intensificados, diminuindo a ansiedade de final de ano?, aconselha a psicóloga.

Síndrome do lazer

Porém, apesar de a maioria se preocupar em usufruir momentos de lazer, há casos em que o ócio pode significar um verdadeiro tormento, chegando, em casos extremos, a gerar desconfortos, como fadiga excessiva, dores de cabeça ou musculares. É o caso do jornalista Julio César Oliveira, que diz sentir ?arrepios? quando pensa em sair de férias e deixar ?um milhão? de coisas por resolver. O máximo que consegue é aproveitar os finais de semana em uma praia próxima de Curitiba onde trabalha. Os médicos começam a diagnosticar esse distúrbio como a síndrome do lazer, que pode causar danos à saúde a médio e longo prazos.

?As férias contribuem para a recuperação dos tecidos corporais que estavam sendo prejudicados pelas longas jornadas de trabalho, postos de trabalho não-adequados e posturas erradas na realização de atividades?.

Quando o período de férias chega, é tempo de recondicionamento e descanso para o corpo, inclusive, prevenindo doenças ocupacionais. ?As férias contribuem para a recuperação dos tecidos corporais que estavam sendo prejudicados pelas longas jornadas de trabalho, postos de trabalho não-adequados e posturas erradas na realização de atividades?, explica o fisioterapeuta do trabalho, Rodrigo Azevedo. Como o trabalhador sai da sua rotina normal, ele deixa de sobrecarregar as estruturas que normalmente são exigidas na sua atividade profissional, conseguindo prevenir o surgimento das lesões e doenças por esforços repetitivos.

Cursos de férias

Para que sejam, de fato, uma renovação para o corpo, deve-se deixar de lado a idéia de que férias são sinônimas de marasmo e ócio. ?Os tecidos de nosso corpo precisam desse estímulo para sua regeneração, por isso, a inatividade total está fora de cogitação?, alerta o fisioterapeuta. As sugestões são fazer aquilo que se gosta, praticar atividades físicas, dormir e comer adequadamente.

?A dificuldade em relaxar é um problema que vem se agravando. Tem gente, inclusive, que utiliza as férias no trabalho ou na faculdade para fazer cursos?, lembra o psicólogo Luiz Gonzaga Leite. Ou seja, não tem como o organismo se revigorar. Como o período de férias é essencial para a saúde, as pessoas devem se preocupar em gozá-lo de uma maneira saudável. O ideal é planejar como o tempo será empregado. No entender do terapeuta, se a pessoa tiver somente dez dias de descanso, por exemplo, o ideal é utilizá-los para realmente descansar a cabeça, se divertir, conhecer pessoas diferentes da sua rotina.

Um ano de trabalho

Para os especialistas, o importante é reservar um tempinho para se ?desligar? das atribulações que mais causam estresse. Quem não consegue relaxar pode estar sofrendo do fenômeno que começa a ser disseminado e que surge apenas nas férias ou finais de semana prolongados.

Segundo o psicólogo Ivan Gross, a principal causa para justificar o estresse durante as férias está relacionada com a transição do ambiente de trabalho para o ambiente de lazer. ?A competição exacerbada dos dias de hoje faz com que a pessoa necessite estar sempre bem-informada, mesmo durante o período de descanso?, admite. Assim, muitos não conseguem desligar o telefone celular nem deixar de acessar diariamente seus e-mails pela internet. Conforme Gross, a pessoa pode conviver satisfatoriamente com o estresse causado no trabalho, mas também sofrer com o estresse provocado pelo relaxamento das férias.

Depois dessa confusão inicial, o corpo encontra equilíbrio na nova rotina. Mas essa sensação de bem-estar logo desaparece com a aproximação do retorno. Resumindo, gozar férias também causa desgaste, por mais contraditório que pareça. Na prática, são as circunstâncias que decidem. ?Não abro mão do descanso, fecho tudo, deixo recados na secretária eletrônica, desligo o aparelho celular da empresa e aproveito ao máximo os poucos dias de descanso que disponho?, completa o vendedor de automóveis Marcelo Nejm, carregando o porta-malas do carro. ?Afinal, vou ter um ano de trabalho pela frente?, se apressa.

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