Numa primeira olhada, você pode pensar "quem vai querer ver vídeo nessa telinha?" Mas é só o videoclipe da sua banda favorita tocar enquanto viaja de avião ou, na casa da praia enquanto chove, poder assistir aquele episódio que você perdeu da sua série de TV favorita para entender a atração que os iPods com vídeo têm sobre as pessoas. A reportagem de O Estado testou o gadget que já começa a se popularizar no Brasil (a fabricante não divulga os números de venda, mas basta dar uma procurada na internet para encontrar milhares de aficionados) que foi o objeto de consumo mais desejado no Natal dos Estados Unidos. E a experiência foi reveladora: o iPod continua sendo um tocador de MP3. Só que agora também reproduz vídeo. E de boa qualidade.
O que se deve levar em conta sobre o tocador, como o próprio Steve Jobs, presidente da Apple, disse durante o lançamento do produto, é que ninguém vê vídeos como ouve música. Enquanto é comum você trabalhar, passear, correr e estudar ouvindo música, assistir seriados e videoclipes é algo que exige mais concentração, um lugar dedicado e – de preferência – a maior tela que seu dinheiro puder comprar. Vídeo de bolso seria um artigo interessante basicamente para quem viaja muito, um público bem menor que o de "fãs de música".
A jogada da Apple, então, foi inverter essa equação. Não transformou o iPod num novo produto perfeito para reproduzir vídeos. Ao contrário, manteve seu formato tradicional com poucas alterações. O iPod continua sendo um aparelho para ouvir música, só que a simples possibilidade de rodar também filmes, iniciou uma explosão de "vídeos para iPod" na internet.
E o resultado dessa experiência ficou bem acima do que se pode imaginar a princípio. Os vídeos na telinha do player são bem mais detalhados do que se espera de uma tela de 6,3 centímetros (na diagonal). O novo iPod ainda tem a interessante opção de, se acoplado à uma televisão com um cabo vendido separadamente, passar os vídeos e fotos no aparelho maior. Os mais exigentes podem achar que a resolução máxima de 320 x 240 pixels não dá uma boa imagem, mas a qualidade quando plugado na TV impressiona muito. Seria isso o suficiente para detonar a revolução do vídeo de bolso?
iTunes Media Store
Para fechar a questão, a Apple decidiu dar uma resposta sobre o que assistir nesses players. Junto com o novo iPod, a Apple passou a vender seriados (cinco séries da rede ABC), videoclipes (mais de 2 mil) e curtas (por enquanto apenas da Pixar) pela iTunes Music Store. Em duas semanas após o início das vendas, mais de um milhão de vídeos tinham sido comprados, provando o potencial explosivo do novo meio de distribuição.
O pessoal acostumado a baixar vídeos pela internet foi o primeiro a aderir em massa ao aparelhinho. Em pouco tempo, sites populares traziam filmes e seriados "for iPod" rivalizando com os codificados em DiVX – o MP3 dos filmes -, já que arquivos de filmes para iPod são bem menores e com uma qualidade aceitável.
Teste
Lançado em outubro de 2005, quatro anos depois do primeiro modelo começar, uma revolução na maneira que as pessoas se relacionam com a música, o player apelidado de G5 (5.ª geração) da Apple atingiu o ápice do seu sucesso ao perder espessura, ganhar tela colorida e tocar vídeos e reproduzir fotos. A quinta geração tem até 60 GB internos de memória e conta com dezenas de acessórios para sua experiência. Para ter idéia do que isso representa, poucos players disponíveis no mercado ultrapassam 1 GB de memória.
O modelo testado pela reportagem, de cor branca (você pode optar pelo preto), tem capacidade de 30 GB, ou aproximadamente 7,5 mil músicas, segundo a fabricante. A caixa, quase 25% menor do que a do G4, vem com o aparelho, cabo para conexão USB, manual e disco de instalação. Mas deve-se levar em conta que grande parte da miniaturização da caixa se deve aos componentes que viraram acessórios (não incluídos), como fonte de força e controle remoto.
O iPod pode reproduzir vídeos no formato MPEG-4 e H.264. A capacidade da bateria é de 14 horas de música, 3 horas de slideshows de fotos com música e 2 horas de vídeo para o modelo de 30 GB e 20 horas de música, 4 horas de slideshows com música e 3 horas de vídeo para o modelo de 60 GB.
Alerta: compre uma capa protetora
Logo no seu lançamento, a Apple recebeu uma montanha de reclamações dos consumidores sobre à falta de proteção da tela e do fundo do aparelho, que riscam com muita facilidade. Então para carregar o aparelho por aí, você precisará comprar uma capa protetora, pois a capa de couro que vem com o iPod limita sua utilização, necessitando tirar o aparelho da proteção para diminuir o volume, por exemplo. Usuários paranóicos com risquinhos devem manter o plástico protetor até obter uma capa que proteja o aparelho durante o uso.
O novo modelo perdeu a porta do controle remoto que ficava ao lado da saída de áudio. O fim dessa porta significa que alguns acessórios como o iTrip e gravadores de áudio não vão funcionar com o novo iPod. Usuários antigos precisarão comprar acessórios novos. No quesito gravadores, ao menos a notícia é boa: pela primeira vez, o iPod vai poder gravar áudio em estéreo.
Já o software embutido no iPod deixa a desejar. A Apple manteve os mesmo jogos impopulares da versão anterior, o que leva à questão do porquê a empresa não permite que outros desenvolvedores façam jogos para o iPod. Por enquanto, quem quiser um game decente, precisa instalar um Linux no aparelho. Mas algumas novidades introduzidas com o iPod nano foram assimiladas pelo irmão maior, como relógio mundial, cronômetro, letras de música, cadeado e menus em português. Sugestão: capacidade de input de texto que permita que empresas de acessórios façam tecladinhos para o iPod. Com esse recurso, quem precisaria de um Palm?
Preço salgado
Poder ver vídeo onde quiser ainda não é um luxo para qualquer bolso. Enquanto nos EUA o iPod com vídeo de 30 GB é vendido por U$ 299 e o de 60 GB por U$ 399, no Brasil o aparelho é mais caro do que muitos computadores. Na loja on-line da Americanas, a versão de 30 GB custa R$ 1.799 e o de 60 GB sai por arrepiantes R$ 2.299. (DD)