Biotecnologia na produção de fios de seda

Está no Paraná o maior produtor de bicho-da-seda do Brasil. O município de Nova Esperança, a 40 quilômetros de Maringá, no noroeste do Estado, produz cerca de 1,4 mil toneladas de casulos verdes por ano. Os casulos, resultado de uma das etapas de transformação do bicho-da-seda em mariposa, são usados na confecção de fios de seda. O Paraná é responsável por uma produção de mais de 9 mil toneladas ao ano, o que corresponde a 90% da produção total brasileira.

A biotecnologia também está sendo aplicada na sericicultura, como é chamada a criação destes insetos. A Universidade Estadual de Maringá (UEM) e a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) conduzem, em conjunto, pesquisas nesta área.

Os estudos na UEM começaram após a doação de matrizes (exemplares puros dos insetos) da cooperativa Cocamar, que atuava na produção de fios de seda, mas desistiu do negócio. Após treinamento de equipe e instalações em um espaço na cidade de Nova Esperança, foi formado um laboratório especializado – em abril deste ano -, no qual pesquisadores da UEM trabalham.

O genoma do bicho-da-seda já passou pelo seqüenciamento em estudos realizados fora do País. A partir destes dados, pesquisadores paranaenses estudam um dos genes relacionado com a doença chamada pelo produtores de “amarelidão”. A pesquisadora Maria Aparecida Fernandez, da UEM, explica que o gene do bicho-da-seda e também do vírus causador da doença são estudados para conhecer a interação entre os dois e o processo de infecção nos tecidos da lagarta. A enfermidade, quando instalada, causa a perda de 100% da produção de casulos. “Além de conhecer como funciona, a pesquisa pretende criar métodos de detecção precoce. Hoje, quando o produtor vê, já é tarde”, explica.

Matrizes

Divulgação
As lagartas tecem a fibra, formam o casulo e ficam alojadas dentro dos mesmos, passando a se chamar pupa.

Outra pesquisa em andamento pretende criar um híbrido, com matrizes chinesas e japonesas, para dar alternativa aos produtores de Nova Esperança. A matriz chinesa é mais resistente no campo. A japonesa possui uma melhor qualidade. As empresas já utilizam híbridos destas duas espécies. O híbrido dos pesquisadores paranaenses incluiria ainda a resistência ao vírus do “amarelidão”. “Seria um híbrido diferencial. Mas nós não temos o objetivo de concorrer com as empresas.

Queremos dar uma alternativa para a comunidade”, afirma Maria Aparecida. Isto também é importante para a sobrevivência da sericicultura na região. As empresas produtoras de fios de seda detêm as matrizes e o setor é envolvido por segredo industrial. Se estas empresas fecharem, a atividade corre o risco de acabar.

Durante todo o processo de criação do laboratório, foram feitos trabalhos de conscientização sobre a importância da criação do bicho-da-seda para a região. Paralelamente, estuda-se a viabilidade de implantação de uma fiação artesanal em Nova Esperança. Mas já existem frutos concretos deste trabalho de sensibilização. Há produção de echarpes, feitas manualmente com fios de seda, em vilas rurais de Nova Esperança. As peças exclusivas são vendidas na rede francesa Arteisans du Monde e dão uma nova perspectiva para estas famílias.

Fibra tem boa aceitação

A seda é uma fibra de origem animal, proveniente do bicho-da-seda. A seda tem uma grande aceitação porque podem ser, tingidas, são resistentes, pela qualidade de acabamento e não amarrotam com facilidade. Empresas que produzem o fio de seda vendem lagartas de terceira idade para produtores da agricultura familiar. Eles cultivam os insetos em barracões, sob condições especiais. As lagartas tecem a fibra, formam o casulo e ficam alojadas dentro dos mesmos, quando passam a se chamar pupa. Os produtores vendem os casulos verdes (com a pupa dentro) para as empresas. A primeira etapa da industrialização é a secagem dos casulos, antes da transformação em mariposas. A secagem, que dura até 7h, também atua como conservador da qualidade dos fios. Após esta fase, os casulos são armazenados por duas semanas.

A segunda fase abrange a limpeza e a seleção dos melhores casulos. Eles são colocados em água quente para cozinhar, o que deixa as fibras em melhores condições para o processo de fiação. Máquinas fiandeiras automáticas desenrolam o casulo e formam o fio da seda.

Bicho-da-seda

* Espécie: Bombyx mori
* Origem: China
* Principais produtores de fios: China (60%), Índia (15%) e Brasil (5%)
* Principal destino das exportações brasileiras: Japão
* Mercado paranaense: 90% da produção nacional de casulos verdes e mais de 50% da industrialização
* Ciclo de vida: ovo, lagarta (cinco fases de desenvolvimento), pupa (presa dentro do casulo e depois se transforma
em mariposa) e adulto
* Alimento: folha de amoreira

Voltar ao topo