O silêncio no relacionamento

Há um tempo, no auge da paixão, no qual as falhas, traços marcantes e comportamentos viciados são como que abafados. Na paixão há UM. Um casal que se completa, que chega até a desinvestir das outras relações e do mundo. A crença é de que nada mais é necessário, basta ter um ao outro.

Com o passar do tempo a paixão arrefece e se o casal permanece junto, a intimidade cresce. Há um ganho de intimidade, de cumplicidade. Porém, as falhas de um e de outro começam a se tornar evidentes. O casal já não se completa tanto e as dificuldades começam a aparecer.

Alguns casais não suportam atravessar este momento aonde a paixão amortece e acabam rompendo o relacionamento. Outros suportam atravessar esta mudança (consentem com a falha do companheiro) e ganham a chance de adquirir intimidade, cumplicidade, amor e conflito.

Muitos casais costumam discutir, brigar para resolver os conflitos. Outros permanecem em silêncio, achando que é melhor não brigar. Geralmente, estes casais vão se habituando a funcionar, de maneira calada, e a construir comportamentos e hábitos que, por não serem ditos, vão se cristalizando e retornado em qualquer oportunidade. Chega a ser clássica a queixa das mulheres de se sentirem exploradas com as inúmeras jornadas de trabalho as quais estão submetidas.

Comumente, depois que chegam do trabalho, as mulheres vão cuidar da casa, dos filhos, da comida. A faísca está acesa, basta um instante para que a mulher exploda, brigue com o marido e com os filhos.

Se há traços que são mais evidentes (como cuidar dos outros no caso da mulher, por exemplo) muitos hábitos são criados por conta de traços que parecem ser mais “naturais” e que nunca são falados. Sem que perceba, a mulher sempre cuida de tudo, faz a janta, arruma a casa… O marido, por sua vez, habituado com o que sempre encontra, já nem presta atenção em afazeres ou necessidade da casa. E muitas vezes, anos se passam assim. Ambos os lados passam a se sentir injustiçados, abusados.

Não há possibilidade de não haver conflito num casal. O conflito é inerente ao humano. E há um desencontro natural entre homens e mulheres. Porém, há casais que conseguem atravessar as dificuldades porque há algo que os liga, que quer manter ligação. E muitas vezes, para manter a capacidade de ligação se faz necessário brigar, discutir e se dispor a resolver.

Falar do silêncio é sempre difícil. Em alguns momentos ele é necessário. Em outros, o silêncio pode provocar desligamento, pode ser devastador na medida em que cria um comportamento mudo, um hábito que pode gerar mais conflitos além daqueles que já nos são intrínsecos.

Um casal pode e deve se perguntar sobre como e o que estão construindo em conjunto. É uma tarefa barulhenta, árdua, mas necessária para cuidar do relacionamento.

 

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