Mulheres que são contratadas para fazer o bem na sociedade

Ajudar o próximo está ligado, na maioria das vezes, ao voluntariado. A mulher tira um tempo da sua agitada rotina para se dedicar aos outros ou a uma causa. Mas o envolvimento de algumas mulheres é ainda maior. Elas trabalham como funcionárias em organizações não-governamentais ou outras entidades sem fins lucrativos. Só que este emprego não é uma atividade qualquer. É um trabalho que alia o salário, necessário para sobreviver, com a satisfação de poder realizar algo que o dinheiro não paga.

As chamadas executivas do terceiro setor (que abrange as organizações sem vínculos públicos ou privados, mas que geram serviços para a sociedade) trabalham tanto quanto as mulheres que ocupam cargos em empresas. No entanto, paralelo à jornada intensa, existe um envolvimento emocional com o seu trabalho. E todas as mulheres que têm esse tipo de emprego garantem que vale a pena.

A analista de projetos do Centro de Ação Voluntária (CAV), Maria de Lourdes Peixoto Drabik, não era remunerada no início de suas atividades na entidade, que incentiva o voluntariado e encaminha os interessados às organizações que precisam desta ajuda. “Me ofereci para ajudar porque estava sem trabalho na época. Poderia ajudar na organização até conseguir algo. Passei a lidar mais com a papelada e com os contatos com as entidades para explicar como seria o CAV. Quando o centro foi constituído juridicamente, ainda fiquei como voluntária”, lembra.

Em 1999, ela foi contratada formalmente para trabalhar no CAV, como consequência da atividade que já exercia. Maria de Lourdes acreditava que ficaria no emprego até a direção da entidade encontrar outra pessoa. Mas se passaram 14 anos e ela continua firme e forte na função. Ela atua principalmente no relacionamento com as entidades que são conveniadas com o CAV e que recebem os voluntários interessados. “É muito prazeroso, a gente une o útil ao agradável. Já me sugeriram, por questões salariais, que eu enviasse currículos para outros lugares. Mas de que adianta ganhar mais e não fazer o que gosta? E seu trabalho ainda ajuda o próximo, que torna tudo ainda mais gratificante”, avalia Maria de Lourdes.

Trabalho que dá prazer

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Eryclea já se emocionou muito em seu trabalho como executiva do terceiro setor no Instituto TMO/Associação Alírio Pfiffer.

A experiência que adquiriu com a passagem por institutos fez com que Eryclea Freire se envolvesse no Instituto TMO/Associação Alírio Pfiffer, uma entidade sem fins lucrativos criada em 1988 para dar apoio aos centros de transplante de medula óssea. Ela inicialmente fazia assessoria para o instituto, mas depois foi contratada formalmente para desempenhar a sua função de formulação de projetos, captação de recursos e organização. Eryclea realiza este trabalho há dez anos. “A entidade funciona com a seriedade de uma empresa, com suas normas. A única diferença é que o coração está mais envolvido e você está comungando da mesma ideia de um grupo para ajudar o próximo”, afirma.

Apesar de ser uma executiva do terceiro setor, Eryclea não fica fechada dentro de um escritório. Ela precisa acompanhar o que os centros de transplante de medula óssea estão necessitando. Ela vai com frequência ao Hospital de Clínicas (HC), onde há um setor específico para o transplante de medula óssea, referência nacional nesta especialidade. “Fui lá na última sexta-feira e já vi que tinham estofados com o courino rasgado. Em uma unidade de transplante, você não pode ter estofados rasgados ,pelo risco de contaminação. Já enviei para reformar”, conta.

Um dos momentos mais marcantes desta trajetória aconteceu há cinco anos, com um paciente que estava internado no HC. O menino precisava de ajuda em vários aspectos, desde alimentação até uma banheira especial para tomar banho. O Instituto TMO ajudava a família para dar mais conforto ao paciente, pensando em uma melhora do quadro de saúde. Mas isto não estava acontecendo. O menino também pintava telas, que eram fornecidas pelo instituto. Um dia, o paciente quis conhecer quem mandava tudo aquilo para ele e prometeu pintar um tela para esta pessoa. “Cheguei lá e ele tinha pintado um quadro para mim. Ele disse que vendia por R$ 5 os menores e os R$ 10 os maiores. Falei que ia pagar R$ 20 pelo quadro que ele fez. A pintura está no meu escritório e a vejo todos os dias. No mesmo ano, ele faleceu e a equipe do hospital demorou para me contar porque a gente se envolve e se emociona”, revela.