Adeus!

Domingos Moro, campeão nos tribunais, lutador na vida

Apaixonado pelo Direito, Moro se emocionava nas vitórias nos tribunais, como nesta defesa do Rio Branco. Foto: Arquivo

“Domingos Augusto Leite Moro”. Ele gostava de ser anunciado pelo nome completo, tanto nos tempos de dirigente como depois, nos tempos de advogado esportivo. Era vaidoso, não negava isso e cultivava essa vaidade. Aparecia mesmo, falava com jornalistas, não fugia das polêmicas, estava nas manchetes. Quase sempre acertava. Tinha dificuldade em admitir seus erros, mas depois de uma conversa, confessava onde tinha falhado. Mas rapidamente retomava o assunto para os seus acertos. Esse era Domingos Moro, que morreu no domingo (12), em seu apartamento no Rio de Janeiro.

Foi um choque para todos. Por volta de 15h45 do domingo, já na cabine da RPC na Vila Capanema, recebemos o recado da repórter Nadja Mauad, que informava o pipocar da informação entre os colegas de rádio. Vinha do Rio, do Wellington Campos, que parece saber tudo que acontece por lá. Nossa turma na redação, Gisele Rech e Carlos Bório, voou atrás da confirmação. Mas a ficha caiu para todos quando os clubes começaram a divulgar as notas oficiais. Jornalistas, dirigentes, atletas, amigos trocavam mensagens, todos perplexos. “Mas como aconteceu isso?”.

É uma reação que ressalta a importância de Domingos Moro para o futebol paranaense neste século. Sua história com o esporte vem de antes. Afinal, é descendente de Amâncio Moro, que foi presidente do Coritiba e hoje dá nome à uma das ruas que circunda o Couto Pereira. Jovem, já foi eleito conselheiro do clube e começou a ser chamado para ser dirigente do clube. Foi aprendendo como conviver nos bastidores do futebol – mas talvez faltou saber a última regra, de que tudo é válido em nome do poder.

Ficou afastado do dia-a-dia do Coxa por alguns anos e retornou com tudo em 2002. Passou a ser, mesmo como secretário do Conselho Administrativo, o dirigente mais popular do clube. Muito mais do que o então presidente Giovani Gionédis. Pelo desconhecimento dos outros cartolas, assumiu o futebol, e no período em que ficou no Alto da Glória, foram dois títulos estaduais e a conquista a vaga na Libertadores com o quinto lugar no Campeonato Brasileiro de 2003.

Na hora em que o clube precisava de sua ajuda em outros “palcos”, ele colocava a toga e ia para a luta. Em 2004, conseguiu a absolvição de Aristizábal antes das finais do Paranaense em um julgamento teatral, em que fez os auditores praticamente pedirem desculpas ao atacante colombiano por terem colocado-o ali no banco dos réus.

Não foram somente flores. Domingos Moro teve problemas com jogadores e principalmente com o técnico Paulo Bonamigo, um dos responsáveis por aquele ótimo momento. Mesmo assim, o saldo foi positivo, mas o desgaste era inevitável. Ainda mais com a clara exposição dele em relação aos outros cartolas. Havia ciúme dentro da diretoria do Coxa. Moro foi se afastando até definitivamente sair em 2005. Passou a exercer apenas o papel de advogado esportivo.

Moro em ação no Caso Bruxo, em 2005. Foto: Arquivo
Moro em ação no Caso Bruxo, em 2005. Foto: Arquivo

E virou referência. Tanto que foi contratado pelo maior rival do Coritiba, o Atlético. Tinha total confiança de Mário Celso Petraglia, e conseguiu livrar o Furacão de algumas broncas pesadas. Também trabalhava para outros clubes, e em 2011 salvou o Rio Branco do rebaixamento no Campeonato Paranaense – e, por tabela, derrubou o Paraná Clube. Era respeitado dentro do STJD, como os jornalistas do Estado que iam ao Rio de Janeiro percebiam quando precisavam acompanhar algum julgamento mais rumoroso, como o do Caso Bruxo.

Sonho desfeito

Mesmo assim, Domingos Moro ainda tinha um sonho. Era ser presidente do Coritiba. Em 2007, estava muito perto disso. Disputava a eleição contra João Carlos Vialle, apoiado por Giovani Gionédis, e Jair Cirino dos Santos, uma espécie de “terceira via”. Era o favorito. Até chegar a sexta-feira que antecedeu o domingo do pleito. Por volta das 17h, foram entregues em todas as redações de Curitiba envelopes fechados com depoimentos de atletas e textos que atacavam diretamente a moral de Moro.

Ao lado do ex-assessor de imprensa Sandro Gusso, Moro rebateu as acusações do dossiê na redação da Tribuna. Foto: Arquivo
Ao lado do ex-assessor de imprensa Sandro Gusso, Moro rebateu as acusações do dossiê na redação da Tribuna. Foto: Arquivo

Não me lembro de uma campanha tão baixa, de uma ação difamatória tão pesada nos 21 anos em que vivo nesse mundo louco do futebol. DVDs, CDs e cartas tinham um único objetivo – destruir Domingos Moro e tirá-lo do páreo da eleição. Ninguém assumiu a autoria do “dossiê”, mas todo mundo imaginava quem tinha feito. Moro partiu para uma desesperada corrida para conversar com os jornalistas. Eu tocava o fechamento de O Estado do Paraná quando ele entrou na nossa antiga redação lá na Vista Alegre.

Conversou com toda a nossa cúpula – Armindo Berri, Rafael Tavares, Luiz Augusto Xavier, Chico Assis, Mussa José Assis – e com os repórteres Cahuê Miranda, Gisele Rech, Irapitan Costa e Carlos Bório. Estava destroçado. Não imaginou que chegariam a esse ponto por causa de uma eleição de clube. Domingos Moro não estava sorrindo. Estava lá defendendo o ser humano, não a personalidade do futebol.

Perdeu a eleição. Vialle não ganhou. Ganhou Cirino, a terceira via. Moro, conselheiro vitalício, seguiu participando da vida do clube, mas sem o brilho de antes. Este estava guardado para o STJD e para a defesa do Atlético. O sonho de ser presidente do Coritiba, no entanto, não tinha saído dele. Certamente passava por sua cabeça quando seu coração parou de bater com apenas 57 anos. Cedo demais.

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