São Francisco

Viagem ao passado

Tour pelo Cemitério São Francisco de Paula rende uma verdadeira aula sobre Curitiba

A noite de lua cheia era convidativa e o trajeto uma verdadeira viagem ao passado. Assim foi o terceiro dia, no último domingo, de uma série de visitas, que na verdade são uma imersão na história de Curitiba, através de um tour pelo Cemitério Municipal São Francisco de Paula. Foram três noites de visitações, com mais de 600 inscrições.

Com inscrições esgotadas, a visita rendeu muito aprendizado e uma busca diferente por entender àquilo que, na maioria das vezes, as pessoas buscam sentir medo: a morte. Munidos de lanternas, os visitantes passaram por vários pontos icônicos da história da primeira necrópole de Curitiba.

Adriana Natel ressalta a experiência. Foto: Lucas Sarzi.
Adriana Natel ressalta a experiência. Foto: Lucas Sarzi.

Com os portões do cemitério ainda fechados, o passeio começa do lado de fora com uma verdadeira aula sobre a história e a simbologia da formação das necrópoles no mundo. Quem faz o trajeto é Clarissa Grassi, pesquisadora da Fundação Cultural de Curitiba (FCC) e presidente da Associação Brasileira de Estudos Cemiteriais.

Quando os portões literalmente se abrem para receber os visitantes, muita gente se arrepiou e sentiu certo frio na barriga por entrar num espaço digno de tanta tristeza. “Mas o que a gente não imaginava é que tem muita história aqui dentro. É toda uma experiência sobre a cidade”, definiu Adriana Natel.

A consultora de viagens, que participou da visita guiada pela primeira vez, descreveu o que muita gente percebeu logo na passagem por alguns dos primeiros túmulos. “Aqui você vê uma origem de tudo. A experiência arquitetônica e histórica é gigantesca, imensa mesmo. É muita história junto”, comentou.

Navegando na história

Com duração média de três horas, o passeio percorre as principais vielas do cemitério construído em 1854 pelo presidente de província Zacarias de Góes e Vasconcellos. A primeira parada foi o tumulo de Maria Bueno, morta de forma brutal e que se tornou uma conexão grande com a população curitibana. Muita gente acredita que Maria Bueno atenda aos pedidos, o que faz do tumulo dela o mais visitado todos os dias.

No trajeto pelo cemitério que abriga mais de 5 mil túmulos, as lanternas se projetam atentas a tudo o que Clarissa explica e mostra. Pouco a pouco, a história das construções vai se misturando ao histórico dos sepultados no cemitério como o do Barão do Serro Azul, o de André de Barros e José Hauer – todos que fizeram parte da história de Curitiba. Por ser no período noturno, talvez o sentido de percepção das coisas se faz ainda mais delicado e a atenção exigida permite que o visitante receba ainda mais informação.

Para a guia, que o tempo todo ensina sobre a construção e também demonstra grande conhecimento sobre as principais personalidades sepultadas em Curitiba, o trabalho acrescenta na vida das pessoas. “A nossa ideia é demonstrar de que forma o cemitério consta a história da cidade. As pessoas têm a oportunidade de ver que aqui dentro há sim muita vida, muita história e muita informação”, explicou Clarissa.

Clarissa Grassi comandou a visita. Foto: Lucas Sarzi.
Clarissa Grassi comandou a visita. Foto: Lucas Sarzi.

A visita carrega uma grande carga emocional, principalmente por ser um espaço quase sempre visto como um local triste. “Essa é uma forma de mostrar para as pessoas que, sim, o cemitério faz parte da cidade”. E quem veio pela terceira vez, como a professora Letícia Geraldi Ghesti, concorda. “É muita informação, tudo é sempre uma grande surpresa e a nossa compreensão vai melhorando a cada vez. Sem contar que vir a noite é sensacional”.

Foto: Lucas Sarzi.
Foto: Lucas Sarzi.

Próximas datas

A visita certamente é uma forma diferente e curiosa de se mergulhar na história da cidade partindo de seu cemitério mais antigo como ponto em comum. As visitas entraram para o calendário fixo da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA) devido ao grande interesse popular e próximas datas estão por vir agora em agosto.

Para se cadastrar, é importante ficar atento às redes sociais da Prefeitura de Curitiba. O principal contato é o e-mail visitaguiada@smma.curitiba.pr.gov.br. Nestes passeios não são permitidas gravações ou fotos.

Sobre o autor

Lucas Sarzi

Jornalista formado pelo UniBrasil e que, além de contar boas histórias, não tem preconceito: se atreve a escrever sobre praticamente todos os assuntos.

(41) 9683-9504