Centro

Altos crimes

A onda de arrombamentos e furtos a escritórios em prédios na área central de Curitiba preocupa advogados, contadores, empresários e funcionários de empresas. Segundo eles, a forma como irão encontrar suas salas no dia seguinte pela manhã é sempre uma surpresa, muitas vezes desagradável. Um grupo de vítimas procurou a Tribuna para relatar o número crescente destes casos. Só em um dos prédios, além do prejuízo com o arrombamento, os bandidos levaram mais de R$ 15 mil em eletrônicos.

Indignado com a situação, uma das vítimas resolveu investigar por conta própria a ação dos bandidos. Sem se identificar, com medo de que os ladrões possam voltar ao local, ele contou o que conseguiu apurar depois de dias de “pesquisa” sobre o arrombamento do prédio onde trabalha e de edifícios vizinhos.

“Minha primeira atitude foi checar as imagens da câmera de segurança da portaria do prédio. Eles não entraram pelo térreo. Lá no alto, no último andar, picharam uma sigla. Foi quando me dei conta que eles fizeram uma verdadeira escalada, pelo lado de fora até o terraço, subindo através do cabo do para-raios. De lá, após pichar as laterais e a parte da frente do edifício, eles desceram arrombando e levando tudo dos escritórios, inclusive do meu. Entraram em nove salas. A ação no prédio durou mais de quatro horas. É um absurdo, eles agem tranquilamente. Em outros prédios aqui da região, a ação se repete. Eles entram escalando pela parte de fora, picham os últimos andares e descem roubando os escritórios”, relata.

Tudo registrado

Os alvos são preferencialmente escritórios de contabilidade, advocacia, empresas de turismo e recursos humanos. Foto: Felipe Rosa
Os alvos são preferencialmente escritórios de contabilidade, advocacia, empresas de turismo e recursos humanos. Foto: Felipe Rosa

As câmeras de segurança de alguns dos edifícios filmaram a ação dos bandidos nos andares que tiveram as salas arrombadas. Eles descem do elevador com blusas de moletom e boné na cabeça. Nas mãos, lanternas e pé de cabra. Com uma mochila nas costas, andam em direção às salas e arrombam as portas. Os alvos são preferencialmente escritórios de contabilidade, advocacia, empresas de turismo e recursos humanos. A polícia acredita que eles prefiram esses locais por terem computadores, impressoras, celulares e outros aparelhos eletrônicos com fácil entrada no mercado ilegal.

“Céu é o limite”

Foto: Felipe Rosa
Foto: Felipe Rosa

Os arrombamentos e furtos têm deixado um prejuízo alto. “Eles entraram e fizeram a limpa. Quando meus funcionários chegaram, não tinha nem aparelho de telefone. A sala estava toda revirada, levaram até o trinco da porta. Como se não bastasse, ainda deixaram, sem medo e sem vergonha, o nome lá no alto do prédio. Eles desafiam as autoridades. A polícia precisa fazer alguma coisa urgente. A situação está complicada”, relata outra vítima.

Não é possível afirmar que o mesmo grupo seja o responsável pelas várias situações de furto no Centro. Mas o modo de agir desses grupos tem uma ‘marca‘: a pichação. Caminhando pelas ruas da região é possível encontrar vários comércios, muros e outros estabelecimentos pichados. Fotos de pichações são publicadas nas redes sociais como uma espécie de “troféu”. Em seus perfis, os pichadores exibem suas pichações nas alturas e desafiam outros a fazerem o mesmo. A partir destas postagens em Facebook e Instagram, a vítima identificou pichadores e entregou à polícia um “dossiê” com as imagens.

As siglas pichadas nas paredes e muros da capital se repetem. Entre as mais comuns estão “OCB”, “Suavis” e “Xaropi”. Segundo a Guarda Municipal, essa é a maneira que esses jovens encontram de marcar território e mostrar sua marca e agora, ao que parece, “o céu é o limite”.

É crime: denuncie!

Foto: Felipe Rosa
Foto: Felipe Rosa

Mauricio Arruda, diretor de inteligência da Guarda Municipal, alerta que a pichação é crime. “Pichar é crime ambiental. A lei estipula detenção de 3 meses a 1 ano e pagamento de multa no valor de R$ 1.993,96 para quem for pego em flagrante. Quando o individuo é menor são aplicadas medidas socioeducativas”, afirma.

Quem vende tinta aos infratores também é punido. A lei trata da proibição de comercialização de tintas em embalagens do tipo aerossol a menores de 18 anos e aplica multa de R$ 4.984,91 ao comerciante que for pego fazendo esse tipo de venda.

A corporação pede a colaboração da população com as denúncias. “Só através de denúncias nós conseguimos chegar até o individuo e pegá-lo em situação de flagrante. A pessoa liga para o 153 e nós prontamente vamos até o local”, diz Arruda. Desde o ano passado, em todos os flagrantes de pichação realizados pela GM de Curitiba, a vítima deste tipo de crime recebe um comunicado para que possa acionar judicialmente o infrator com uma ação de reparação de danos.

Investigação difícil

Foto: Reprodução/Google Maps
Foto: Reprodução/Google Maps

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Paraná (Sesp), no primeiro semestre de 2016 os crimes contra o patrimônio (furto e roubo) em Curitiba cresceram 4,91% em relação ao mesmo período do ano passado. Na Delegacia de Furtos e Roubos de Curitiba (DFR), diariamente chegam mais casos.

Para André Feltes, delegado da especializada, os ladrões se aproveitam dessa forma de crime porque sabem que o combate é difícil. “O crime de furto é de difícil investigação. Como eles agem quando não tem ninguém, fica complicado para identificar os bandidos. Muitas vezes existem câmeras de segurança, mas a qualidade da imagem é muito ruim, o que impossibilita o trabalho da polícia”.

A pena varia de 1 a 4 anos em furto simples (quando não há nenhum tipo de destruição) e de 2 a 8 anos no caso de furtos qualificados (quando há destruição de algum obstáculo), que é o que acontece nos prédios arrombados no Centro.

O delegado orienta a população a sempre registrar boletim de ocorrência. “Muitas vezes quando chegamos a esses bandidos encontramos vários produtos adquiridos em furtos, mas não conseguimos localizar o dono porque não tem o registro no sistema de que aquele produto foi furtado. Outro motivo é a identificação dos ladrões: quanto mais características, melhor vai ser o trabalho da polícia, às vezes mais pessoas descrevem o mesmo suspeito, ou seja, vamos refinando a investigação”, diz.

A Polícia Civil aposta em uma nova ferramenta para investigar os crimes contra o patrimônio. Todos os boletins de ocorrência estão sendo registrados em um sistema que compila os dados dos crimes de uma região juntando características dos suspeitos, tipo de ação, horário e outros dados importantes para elaborar uma estratégia de combate a este tipo de situação.

NÚMEROS DA PICHAÇÃO EM CURITIBA

5.109: denúncias atendidas pela Guarda Municipal desde 2013
877: flagrantes registrados pela Guarda Municipal desde 2013
1.593: atendimentos realizados com ajuda de câmeras desde 2013
285: pessoas presas ou apreendidas em flagrante desde 2013
445: denúncias atendidas só de janeiro a novembro de 2016
55: flagrantes registrados só de janeiro a novembro de 2016
70%: das infrações são cometidas por garotos do sexo masculino
R$ 1 milhão: é o prejuízo anual causado pela pichação aos cofres públicos
R$ 2 milhões: é o prejuízo anual causado pela pichação a prédios privados

Fonte: Guarda Municipal de Curitiba

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