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Coração dividido

O mexicano Ulisses Rodriguez, 27, acertou seu palpite para o jogo entre Brasil e México ontem. Ainda no primeiro tempo ele já imaginava que no apito final do árbitro o resultado seria um empate entre as duas seleções. Porém, como todo amante da bola, o jovem esperava pelo menos um gol para cada lado, o que não aconteceu.

Acompanhado de dois amigos de Curitiba e outro chileno, ele era minoria em um restaurante temático mexicano de Curitiba, que estava lotado de brasileiros na tarde de ontem. Ainda assim não se sentiu intimidado pela torcida e prometeu uma boa comemoração caso sua seleção fizesse um gol. “Hoje está difícil, estamos no Brasil, é a sua Copa e estar aqui jogando contra os anfitriões é complicado”, disse, sem perder o tom de brincadeira. “Mas como está parelho, vamos encarar um empate. Os dois estão jogando mais ou menos”, previu. Esta é a terceira vez que o engenheiro morador da Cidade do México está no país e, além da capital paranaense, ele já esteve em Porto Alegre e São Paulo.

Rodriguez irá acompanhar toda a Copa do Mundo em Curitiba, onde está a trabalho para uma empresa que instala sistemas de telecomunicações para as operadoras de telefonia celular. A suspeita, no entanto, é que sua seleção não vá muito longe na competição. “A Holanda tem muitas possibilidades de ganhar, jogou muito bem contra a Espanha. Mas creio que o México não chega à final, não sei se passa se encontrar um dos dois times”, avalia.

Junto com o mexicano, a torcida a favor do México foi a escolha do chileno Héctor Vallejos, 25, que pensava no futuro do time no mundial. “Quero que Brasil, México e Chile passem para a segunda fase”, explicou. O casal brasileiro, Diego Soares Pivetti, 30, e Bruna Mishi, 33, que acompanhavam os visitantes, aproveitava a oportunidade para brincar com os amigos. “Quem perder o jogo vai escutar muita zoação”, disse Diego.

Independente da torcida, todos os presentes no bar vibravam a cada lance da partida. Os mexicanos e simpatizantes comemoravam as defesas do goleiro Ochoa, enquanto brasileiros lamentavam as chances desperdiçadas.

Relação esteita

Mesmo com a maioria brasileira, muitos torcedores da seleção canarinho confessaram estar com o coração dividido durante a partida, já que a relação entre Brasil e México fora de campo é estreita, tanto na cultura e na culinária. A atração no intervalo da partida foi a apresentação de mariachis, grupo musical tradicional mexicano, mas logo após do show um dos artistas vestia a camisa da Seleção Brasileira. “Primeiro quero que ganhe o México, depois o Brasil”, esclareceu Dante El Rei, 30, mariachi há 14 anos.

Ele, que já se apresentou em vários países da América Latina e mora em Curitiba há seis anos, destaca que este estilo musical está presente em quase todo o mundo. O mariachi foi, inclusive, reconhecido como Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Unesco. “Tenho a música no sangue. Não sei explicar como foi, comecei a tocar e nunca mais parei”, contou o filho de músico.

Para a publicitária Thalitta Corona, 21, a relação com o México também mexe com seu coração. Ela pintou em cada lado do rosto um coração com as cores do Brasil e do México e ainda revelou que planeja se mudar em breve para o país da América Central. “Estou dividida. Meu sonho é morar no México, queria ter nascido mexicana. Sempre gostei, sou fascinada principalmente pela cultura”, explicou, destacando também sua afinidade com instrumentos de metal, como o trompete, que é muito popular por lá. “O sangue é brasileiro, mas o coração é mexicano. Mas pensar no final da Copa é complicado. Seria muito legal o Brasil ganhar porque a Copa é aqui, mas o México também merece uma chance”.

Com o sobrenome Brasil e vestindo uma camisa da seleção mexicana, o empresário Fábio, proprietário do Zapata Mexican Bar e Restaurante, destaca a relação entre os dois países. “Temos um carinho muito grande pelo país, pela cultura e pela gastronomia. O povo mexicano, assim como o brasileiro é muito receptivo e também muito religioso”, avalia. De acordo com ele, a comunidade mexicana em Curitiba é pequena, mas os muitos que passam pela cidade e pelo país gostam da cidade e do país. “São culturas muito próximas”, garante.

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– Como você avalia a relação fora do campo de futebol entre o Brasil e seus adversários na Copa?

– Você torce para outra seleção além da brasileira? Qual seleção e por qual motivo?

Sobre o autor

Carolina Gabardo Belo

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