Desgaste emocional

Seu filho está se comportando como bebê na quarentena? Entenda o comportamento

Foto: Pixabay.

Imagine que você, pai ou mãe, perdeu o emprego de uma hora para outra, ou então que seu marido ou esposa faleceu repentinamente. Do dia para a noite, você teria que lidar com esse “desajuste” e ainda reprogramar toda a sua vida – um desgaste emocional difícil de calcular. A comparação pode até parecer desproporcional, mas se assemelha muito ao que algumas crianças têm enfrentado nesta quarentena.

LEIA MAIS Carros de som em Curitiba ganham popularidade em aniversários na pandemia

“Dado o contexto em que estamos vivendo, o comportamento da criança pode ser interpretado como uma reação ao momento de estresse”, esclarece o psicólogo Bruno Mader, do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba. Segundo ele, isso ajuda a entender, por exemplo, por que seu filho – que já dominava o penico – está sofrendo algum “acidente” ou o motivo pelo qual o seu mais velho está pedindo ajuda para realizar uma tarefa que ele já dominava sozinho.

Já a professora Ana Priscilla Christiano, doutora em Educação e membro do Conselho de Psicologia do Paraná explica que essa reação pode vir de diversas formas. “Ela pode vir como irritabilidade, como alteração do sono, da alimentação e também dos interesses da criança”. Segundo ela, essa é a forma que as pequenas conhecem de dizer que não está tudo bem. “Todos nós estamos alterados”, lembrou.

Causas

Vale lembrar, também, que, via de regra, quanto menor a criança, maiores as chances de ela sentir esse baque. “As crianças menores regulam seus sentimentos e emoções a partir de uma rotina estabelecida – o que foi quebrado por esta pandemia. De modo geral, a organização delas mudou, o que suportava o psiquismo delas mudou. E por isso, vão procurar segurança em algum lugar”, aponta Bruno Mader.

O argumento justifica, ainda, o fato de muitas crianças estarem mais carentes do que três ou quatro meses atrás. Nas palavras do psicólogo, muitas vezes a criança regride no desenvolvimento porque está buscando se ajustar. “Neste momento, os pais vão ter que entender que é um período difícil e que essa regressão é, na verdade, uma tentativa (mesmo que malsucedida) de adaptação. A questão aqui é conseguir perceber qual é essa tentativa e definir quais suportes você vai dar para o seu filho passar por isso”, orientou.

Como lidar

Para a psicóloga Ana Priscilla Christiano, repreender ou punir a criança não ajudará em nada. Do contrário, só vai fazer com que as coisas piorem. “Eu tenho falado para os pais que, neste momento, o que eles mais precisam é exercitar a paciência”, revelou.

Ela sugere, também, que conversem muito com os filhos e que expliquem para eles – sem medo – o que realmente está acontecendo. “É preciso dizer que está difícil para todo mundo e se mostrar solidário ao que estão sentindo”, destacou.

Bruno Mader indica, ainda, que os pais repensem os momentos da rotina em casa e que estabeleçam uma nova lógica para conter os efeitos das mudanças. “Se antes você chegava em casa do trabalho e ia direto para o sofá ver televisão, agora vai precisar dar uma atenção diferenciada para o seu filho. Se der a mesma resposta de antes, não vai ajudar, apenas estará contribuindo para que a frustração dele continue”, alerta.