Incertezas

Como falar para seu filho sobre uma possível volta às aulas?

Foto: Albari Rosa / arquivo Gazeta do Povo.

Diante de um cenário de incertezas, muitos pais têm ficado na dúvida sobre falar, ou não, com os filhos de uma possível volta das aulas presenciais em 2020. E se não voltar? Estaria apenas aumentando a ansiedade e alimentando uma possibilidade remota? Não seria cedo demais? São os principais questionamentos.

Soma-se a isso, o fato de que há sim algumas regiões do Brasil com um calendário de retorno às atividades presenciais, especialmente na rede particular. Conheça, no fim desta matéria, o mapa criado pela Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep).

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No Rio de Janeiro, por exemplo, o prefeito Marcelo Crivela (Republicanos) definiu que as aulas na rede particular poderão ser retomadas em 3 de agosto. Já em São Paulo, no dia 15 deste mês, o prefeito Bruno Covas (PSDB) encaminhou um projeto de lei com especificações para o retorno da rede municipal de ensino prevista para 8 de setembro. No Amazonas, creches, escolas e faculdades da rede privada estão autorizadas a funcionar desde o dia 6 deste mês.

Mas em outras cidades do país ainda há uma série de indefinições, como em Curitiba, por exemplo. “Nós não voltaremos arbitrariamente. Enquanto não tivermos a vacina, nosso retorno vai ser condicionado, também, ao consentimento dos pais. Eles é que vão decidir se querem, ou não, mandar o filho para a escola”, diz a secretária de Educação de Curitiba, Maria Sílvia Bacila. Pelo que ela afirma, a prefeitura municipal prepara uma instrução normativa com as regras para a retomada, mas caberá às autoridades sanitárias liberarem a reabertura dos portões.

A secretária apresenta, ainda, um panorama de como será esse “novo espaço”, em qualquer região do país, enquanto durar a pandemia. “Nós temos que enxergar uma escola distanciada e rígida nas questões de segurança. Vai ser uma escola de distância, com carteiras afastadas, pouca interação física, onde os alunos não vão poder se abraçar e terão que manter várias normas de proteção”, explica. No protocolo de cuidados, divulgado pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná, também está previsto o uso de máscara, a divisão das turmas em grupos menores e a criação de um recreio em horários alternados.

Portanto, o que se tem de certeza neste momento, é que nas escolas que reabrirem em meio a essa imprevisibilidade de uma proteção eficaz contra a Covid-19, a realidade encontrada será bem diferente da deixada pelos estudantes no início do ano – o que vai exigir um esforço coletivo em prol dessa readaptação.

Motivação

O psicólogo e mestre em Educação, Marcos Meier, sustenta que os pais até podem “adiantar serviço” e ir orientando as crianças sobre as mudanças, mas pede que isso seja feito de forma a não assustá-las. “Claro que os pais precisam passar aquelas informações básicas, como não compartilhar copos, talheres e lanches, só que tendo o incentivo como principal motivação. Se a criança volta para a escola, ela precisa estar feliz e animada com esse retorno”, argumenta.

Para Meier, frente à possibilidade de retorno, o que os pais precisam fazer é dizer: “Que bom que vai voltar, você vai rever todo mundo e aprender de um jeito legal e diferente”, ou seja, animar a criança. Segundo ele, recomendar demais pode, inclusive, acabar tendo um efeito negativo. “Se elas ficarem apavoradas, vão voltar para a escola com medo, travadas e angustiadas. E isso não ajuda em nada no aprendizado”, alerta.

O psicólogo lembra, ainda, que – comparadas aos adultos – as crianças têm o poder de se adaptar muito mais rápido e muito mais fácil às novidades e que, portanto, não há motivo para pânico. “Um ou dois dias depois (do reinício) e elas já vão estar adaptadas a fazerem as aulas conforme o planejado”, acalma.

Saber esperar

Já o pedagogo Jorge Paulo dos Santos defende que não há um manual de orientação assertiva para esse impasse, “uma vez que tudo o que se disser será especulação ou projeções inseguras”. Pelo que indica, “neste momento, os pais devem focar em guiar os filhos para continuarem mantendo o papel de estudantes em sistema remoto e, também, sobre como atuarem com segurança em diferentes espaços, agindo como cidadãos”.

Para Santos, pedir que os responsáveis preparem as crianças e adolescentes para uma possível volta das aulas presenciais em 2020 (sem ter essa certeza) só geraria ansiedade e expectativa sobre algo que pode não acontecer. “O ideal, por enquanto, é estimular e monitorar as atividades remotas para que os estudantes não percam o vínculo com a aprendizagem dos conteúdos, com o coletivo e com as instituições”, orienta.

Monitoramento

Um mapa atualizado, diariamente, pela Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), mostra que 11 estados do país, mais o Distrito Federal, se preparam para a volta às aulas presenciais em 2020. São eles: Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Alagoas, Rio Grande do Norte, Piauí, Tocantins, Maranhão, Pará e Acre. Em alguns locais, as aulas devem ser retomadas ainda no mês de julho e em outros apenas em agosto ou setembro.

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