Rock!

Novo disco do AC/DC supera surdez de vocalista, prisão de baterista e morte de guitarrista

AC/DC em clipe de nova música. Foto: Reprodução Youtube

Para que Brian Johnson pudesse cantar no novo disco do AC/DC foram necessários três anos de visitas de um cientista à sua casa.

Uma vez a cada três meses, Stephen Ambrose levaria suas engenhocas auditivas até o lar do vocalista, que havia perdido a audição a ponto de mal ouvir as guitarras no palco e ter de cancelar sua participação nos shows finais da turnê do último disco do grupo, sendo substituído por Axl Rose, do Guns N’ Roses.

LEIA MAIS – Show de Nando Reis em Curitiba nesse mês vai ser teste nacional anti-covid

“Eu achei que era o meu fim, obviamente”, diz Johnson, em entrevista por Zoom. Ambrose, americano especialista em audição, desenvolveu para o vocalista de 73 anos uma espécie de tímpano protético.

Com a audição renovada depois de quase ficar surdo, Johnson pôde soltar a voz em “PWR/UP”, o 17.º disco da banda australiana de hard rock, que chega às lojas e às plataformas de streaming em 13 de novembro, seis anos após o lançamento de “Rock or Burst”, o trabalho anterior.

O novo disco conta com os integrantes ainda vivos do álbum “Back in Black”, de 1980, trabalho que escreveu o nome da banda no cânone da música. Acompanham Johnson o baixista Cliff Williams, o baterista Phil Rudd e o guitarrista Angus Young, da formação clássica, além de Stevie Young, guitarrista incorporado de vez ao grupo em 2014.

As 12 faixas de “PWR/UP” trazem os últimos riffs de guitarra compostos por Malcolm Young, irmão de Angus e com quem fundou a banda no final dos anos 1970, num momento próspero para o rock pesado, que à época vivia uma ascensão de nomes britânicos, como Black Sabbath, Judas Priest e Iron Maiden. Malcolm morreu de demência em novembro de 2017, depois de três anos vivendo com a doença.

“Nós não somos pessoas espiritualizadas, mas ele [Malcolm] estava lá [no estúdio], para todos nós. E foi uma experiência maravilhosa. Acho que ele teria muito orgulho do novo disco, eu sei que a família dele está”, afirma Johnson, acrescentando que, desde o início, a ideia era que o álbum fosse um tributo a Malcolm, um dos guitarristas mais celebrados do rock.

Das músicas novas, o vocalista destaca “Mist of Time” como a faixa que mais o lembra da época em que passou a integrar a banda, no início da década de 1980, depois da morte do cantor original, Bon Scott, e a se divertir muito com Malcolm. “Quando eu a ouço eu tenho arrepios, mas eu não deveria, porque eu mesmo a cantei, por Deus. Mas quando eu estava fazendo a música eu pensava nele.”

Curiosamente, “Mist of Time” é a faixa mais melódica e que lembra menos o AC/DC tradicional no novo disco – com refrão pegajoso e ritmo menos acelerado, poderia passar por um hit radiofônico do meio da década de 1990.

Gravação

Talvez seja mesmo esse espírito retrô o grande atrativo de “PWR/UP”, gravado em fita e com equipamentos analógicos sob a batuta do produtor Brendan O’ Brien, responsável pela cara do som das bandas de grunge no passado e cooptado pelo AC/DC no século 21.

Mas não faz tanta diferença que o disco saia agora. Ele poderia ter sido feito em 1978 ou em alguma das décadas seguintes sem perda de sentido, já que capta a banda de hard rock fazendo, é claro, seu tradicional hard rock, que lota estádios por onde passa.

Guitarras em volume máximo, coros com “aaahhh” e “uuuhhhh” e letras versando sobre tipos marginais, como “Wild Reputation” (reputação selvagem, preenchem um álbum sem baladas – é rockão do início ao fim.

VIU ESSA? – Perde muito tempo pra escolher filme ou série de streaming? App de Curitiba te ajuda!

De todo modo, os pouco mais de 40 minutos do disco trazem uma audição prazerosa, passando a impressão de que a banda – cujo integrante mais jovem tem 63 anos – se divertiu enquanto gravava.

Johnson conta que não conseguia ficar parado no estúdio de Vancouver, no Canadá, durante a gravação dos vocais, sozinho numa sala, acompanhado só de um grande microfone. O produtor teve de mudar os móveis de lugar em determinado momento, ele conta. “Eu preciso me mexer e tenho que ser parte da música e eu quebro coisas. Isso é a paixão surgindo, e você quer que ela apareça no disco”, conta o vocalista.

Ao ser questionado se o problema com a audição fez com que alterasse seu jeito de cantar, Johnson responde negativamente. O que mudou, ele diz, é que, ao ficar mais velho, começou a tentar descobrir novos jeitos de usar a voz, “de uma maneira mais blues”. De fato, seu timbre agora está mais rouco e curtido pelo tempo em relação aos discos da década de 1980, por exemplo.

Contentes que a reunião da banda depois da morte de Malcolm tinha funcionado, o grupo planejava fazer alguns shows, mas a pandemia atrapalhou os planos. “Era como se a peste negra tivesse acabado de surgir”, afirma Johnson, acrescentando que se sente frustrado por não poder fazer o que tem feito nos últimos 40 anos – cantar rock pesado na estrada. “Isto está me matando, vou lhe contar.”

PWR/UP

Artista: AC/DC. Gravadora: Columbia. A partir de 13 de novembro nas lojas e nas plataformas digitais.

Voltar ao topo