Rogério Micale acredita que Neymar dará contribuição fundamental ao time olímpico

Pegar a seleção brasileira em cima da hora não é novidade para Rogério Micale. No ano passado, às vésperas do Mundial Sub-20, a CBF demitiu Alexandre Gallo e ele assumiu o cargo – perdeu a final para a Sérvia na prorrogação. Agora tem a vantagem de conhecer praticamente todos os jogadores.

Um dos poucos com quem Rogério Micale não trabalhou ainda é justamente a estrela da companhia, Neymar. No entanto, o treinador não acredita que terá problemas com o craque. “Eu acredito no Neymar. O que pauta um relacionamento é o respeito. Nós vamos criar uma história juntos”.

Rogério Micale também espera contar com a ajuda de Tite. “Vai ser um grande prazer. Eu não tenho nenhum tipo de preconceito ou resistência em poder compartilhar ou sugar. No meu caso é muito mais sugar do que compartilhar”.

Você seria auxiliar do Dunga na Olimpíada e tornou-se o treinador. Como é isso?

Na minha cabeça, estou dando sequência ao trabalho que vinha realizando. Conheço a maioria dos jogadores, já temos um trabalho feito, implantamos um conceito.

Muda bastante, porém…

É lógico que a responsabilidade é muito maior porque não sou auxiliar e sim a pessoa que está à frente do projeto. A gente sabe a responsabilidade que é a disputa dos Jogos Olímpicos, pela ansiedade que temos de ganhar a medalha de ouro. Mas me sinto preparado. Eu já tenho uma história com a grande maioria dos jogadores.

O fato de você não ser muito conhecido afeta o teu trabalho?

Eu entendo isso, a imprensa tinha um fato, que era o Dunga, e na última hora mudou isso. Mas é o fato novo (ele) tem uma história maior com o grupo que o anterior. Na minha cabeça não mudou muita coisa, mudou para a opinião pública, que realmente não conhece, pois não tenho uma bagagem de trabalho em clubes (profissionalmente, dirigiu como interino o Figueirense em 2008 e o Grêmio Prudente em 2011).

Você defende um futebol mais ofensivo, mais alegre, solto…

Eu defendo um futebol equilibrado. Agora, como nós temos uma característica, o nosso jogo é um jogo ofensivo, não podemos tentar limitar essa características e sim tentar potencializar e otimizar. A gente parte do princípio de respeitar as nossas características, a cultura do nosso futebol, não abrir não daquilo que nós temos como melhor, da nossa essência. Ficamos conhecidos no mundo todo por essa característica e por que não ganhar dessa forma? De uma forma mais ofensiva? É isso que eu vou tentar fazer.

O que você levou em conta da montagem do grupo?

Quando a gente monta um grupo, onde você só pode levar 18 atletas, sendo dois goleiros, na verdade você só conta com 16 de linha… até para trabalhar no dia a dia é ruim, porque não tem um grupo completo. E a montagem do grupo passa pela versatilidade, tem de ter jogadores no grupo que possam entender não só da posição de origem, mas de outras.

Em quem que você se espelha? Quem te inspira?

São vários treinadores… Cada um tem coisas interessantes, dentro daquilo que acredito, dentro do conceito… Eu gosto muito do (Pep) Guardiola pela construção de jogo. Também tem o (Carlo) Ancelotti, um time dele é muito equilibrado sempre, o contra-ataque é muito forte. Gosto do Tite, dentro do Brasil. O time do Tite é sempre muito equilibrado, é muito difícil tomar gol e na hora que tem a bola tenta construir.

Você vai pedir ajuda ao Tite durante a Olimpíada?

O Tite já se colocou à disposição. A gente vai tentar, quando ele tiver com um calendário que possa nos acompanhar, ele vai poder estar presente na Granja (Comary) para a gente trocar ideias sobre treinamentos, formatação de equipe. Eu não tenho nenhum tipo de preconceito ou resistência em poder compartilhar ou sugar. No meu caso é muito mais sugar o conhecimento que ele tem de futebol. Vai ser um grande prazer ter o Tite ao meu lado.

O Neymar é o grande craque do futebol brasileiro. Acha que pode querer, ter um tratamento diferente dos demais?

Minha expectativa com o Neymar é a melhor possível, ele é uma referência mundial, um jogador que a qualidade técnica indiscutível. É um jogador que merece todo o nosso respeito, vai ser tratado dessa forma, como todos. Nós vamos criar uma história juntos. O que pauta um relacionamento é o princípio do respeito. Eu acredito no Neymar.

Existe a possibilidade de ele continuar como capitão, ou pode ser o Fernando Prass, o mais experiente do grupo?

Essa é uma questão de dia a dia, de convívio, de ter a percepção. Mas acho que a faixa de capitão é o menos importante nesse momento, até porque ao final da competição, se der tudo certo não vai ser um troféu que a gente erguer. Vão ser 18 medalhas para colocar no peito dos jogadores.

Em 2014, um dos problemas da seleção brasileira foi a pressão para ser campeã. Como você pretende lidar com isso? Vai, por exemplo, pedir a presença de um psicólogo?

Não. Acredito nesse profissional, mas não acredito em fazer um trabalho de forma pontual. Tem de já estar inserido no contexto.

E a pressão?

É inerente. A única coisa que a gente pode prometer para o torcedor é muito trabalho, porque nesse trabalho o ganhar vai ser consequência. Eu acho que temos de estar preparados para qualquer situação. O que não pode faltar para a gente é empenho para tentar conquistar as vitórias. Agora, ganhar empatar ou perder faz parte do desporto e não tem como você cravar, nós vamos ganhar a medalha de ouro. Quem promete isso é porque não conhece o que é um jogo de futebol.

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