Ah, dezembro! Aquele mês em que nosso estômago precisa virar super-herói para aguentar o tranco das ceias, dos almoços de família e das confraternizações regadas a muito álcool e comida pesada. Dá para curtir as festividades sem transformar seu aparelho digestivo num campo de batalha.
Quando e exagera na mesa, o estômago entra em modo turbo de produção de ácido para dar conta do recado. “Esse excesso facilita o retorno do conteúdo para o esôfago, e aí surgem sintomas como queimação, azia e regurgitação”, explica o gastroenterologista Jean Tafarel, que atende nos hospitais São Marcelino Champagnat e Universitário Cajuru.
E aquela sensação de estufamento? Pois é, completamente normal depois de grandes refeições, já que o esvaziamento gástrico fica mais lento. Para quem já tem gastrite ou refluxo, o alerta é ainda maior, especialmente porque as ceias acontecem tarde da noite. O ideal, segundo o especialista, é esperar pelo menos duas horas entre comer e deitar. “Quando a pessoa se deita logo após a refeição, é como uma garrafa mal tampada: o conteúdo tende a voltar”, compara.
Mas, afinal, o que mais afeta nosso sistema digestivo nessas festas? Alguns vilões da ceia relaxam o esfíncter esofágico inferior (aquela válvula que impede o conteúdo do estômago de voltar), como frituras, empadões, massas super gordurosas, queijos amarelos, embutidos e molhos com muito tomate. Ah, e não se engane: até o vinho da celebração pode piorar o refluxo em pessoas mais sensíveis.
O perigo da ressaca e das intoxicações
Vamos falar sobre outro personagem clássico das festas de fim de ano: o álcool. Seja destilado ou fermentado, o excesso pode inflamar o pâncreas, causando uma dor intensa em faixa que irradia para as costas – a temida pancreatite. Sem contar que contribui para o acúmulo de gordura no fígado.
Tafarel destaca alguns sinais de alerta que merecem atenção: “Se a pessoa bebe pela manhã para melhorar a ressaca ou se irrita quando alguém questiona seu consumo, já há sinais de que é hora de rever hábitos”.
No verão, os casos de intoxicação alimentar também disparam. Muita gente esquece que a validade impressa no rótulo só vale enquanto o produto estiver fechado. “Depois que a embalagem é aberta, o prazo muda completamente, e muita gente esquece disso”, alerta o médico.
Outro erro comum é deixar a comida fora da geladeira por muito tempo e depois tentar refrigerá-la novamente. Receita perfeita para contaminação. O básico nunca sai de moda: lave bem as mãos, higienize os alimentos e mantenha-os cobertos para evitar insetos.
Socorro, já exagerei! E agora?
Se você já passou dos limites, tente comer bem devagar e evite grandes volumes de líquido logo após a refeição – isso dilui o suco gástrico e deixa a digestão ainda mais lenta. Mas atenção: dor abdominal forte, febre, vômitos que não param ou diarreia são sinais para procurar ajuda médica imediatamente, principalmente se for idoso, criança ou tiver imunidade baixa.
Não precisa abrir mão das tradições natalinas para cuidar da saúde digestiva – é só encontrar um equilíbrio para que seu corpo consiga acompanhar o ritmo das celebrações. Como bem resume Tafarel: “Pequenas atitudes podem garantir que a festa seja lembrada pelo encontro, e não pelo desconforto do dia seguinte”.



