Em 2025, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima 73.610 novos diagnósticos de casos de câncer de mama no Brasil. Desse total, cerca de 30% podem evoluir para câncer metastático, que é quando o tumor se espalha para outras partes do corpo, formando novos tumores. Embora esse tipo seja, em grande parte, incurável, o diagnóstico não significa sentença de morte.

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Os avanços da medicina transformaram a abordagem da doença, permitindo que o câncer de mama metastático seja manejado de forma semelhante a uma condição crônica. O foco principal do tratamento paliativo é oferecer qualidade de vida aos pacientes e controlar os sintomas. A oncologista Priscila Morosini, do Centro de Oncologia do Paraná (COP), ressalta que muitos pacientes conseguem conviver com a doença por anos, mantendo-a sob controle.

“Com as terapias modernas desenvolvidas nos últimos 10 anos, há mulheres que vivem com metástase há 15 ou até 20 anos. É um tratamento contínuo, que não tem pausas nem folgas, e se mantém para sempre. Só haverá alteração se houver falha terapêutica, ou seja, se a doença voltar a progredir. Cada vez mais, buscamos tratamentos que permitam a essas mulheres manter a qualidade de vida, preservar suas relações e continuar trabalhando, caso desejem”, explica a especialista.

O câncer metastático pode retornar meses ou até anos após o diagnóstico inicial, exigindo acompanhamento constante. No Brasil, o tratamento é oferecido integralmente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e envolve múltiplas modalidades, incluindo cirurgia, radioterapia, quimioterapia, hormonoterapia e terapias biológicas, como imunoterapia e terapias-alvo. Cada paciente passa por avaliação individual, seguindo protocolos clínicos fundamentados em evidências científicas, para garantir a melhor abordagem possível.

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“Existem subtipos de tumor, diferentes linhas de tratamento e terapias prioritárias com eficácia comprovada. O primeiro tratamento indicado é sempre aquele com maior evidência de resultados positivos, por isso é o preferido”, completa. A partir da resposta das pacientes ao tratamento, a terapia é adequada para assegurar a máxima eficácia no controle da doença. 

Futuro pela frente 

Mesmo com expectativas promissoras quanto ao tratamento, lidar com o diagnóstico de câncer nunca é uma tarefa fácil. “Fomos criados para aprender a jogar bola, chutar no gol e acertar, andar de bicicleta e não cair. Ninguém cria um filho para olhar e dizer ‘filho, aprenda a perder’. Nesse contexto, o médico desempenha um papel delicado: precisa ser acolhedor e gentil, de modo a não ferir o paciente, mas também cabe a ele transmitir a verdade sobre a doença”, relata a médica.

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No Brasil, em 2024, a média de idade no momento do diagnóstico de câncer de mama foi de 54 anos, em fase madura da vida das pacientes. Porém, desde 2022, a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) observa que a incidência da doença em mulheres com menos de 35 anos aumentou para 5%, enquanto anos antes essa faixa etária representava apenas 2% dos casos diagnosticados.

Para equilibrar expectativas pessimistas e otimistas em relação ao prognóstico dessas mulheres, o tratamento começa pela aceitação da doença. Segundo a psicóloga do Instituto de Oncologia do Paraná (IOP), Roberta Caratchuk, essa etapa se assemelha às fases do luto, que incluem negação, raiva, barganha, depressão e, finalmente, aceitação.

“A psicologia tem como objetivo desmistificar crenças limitantes. Quando o paciente se informa sobre o tratamento e entende melhor o que está acontecendo, ele consegue tomar decisões mais conscientes”, explica Caratchuk. Ao aceitar o diagnóstico, abre-se espaço para que a nova realidade seja integrada à rotina do paciente e das pessoas que o acompanham de perto, permitindo ajustes necessários no dia a dia.

“Ao acolher essas emoções ao longo do tratamento, evita-se a criação de mecanismos de defesa que mascaram o sofrimento real. Trata-se de manter a ideia de que, apesar das dificuldades, é possível seguir em frente, mas sem deixar de vivenciar o momento presente. Como diz a expressão, é preciso conversar sobre o elefante que está no meio da sala”, conclui a psicóloga.

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A psicóloga ainda destaca outro ponto importante da abordagem psicológica durante o tratamento do câncer: a comunicação clara com os familiares sobre a realidade da doença e do tratamento. Preparar a família para lidar com esse processo exige sacrifícios e muita paciência, já que é necessário ajustar-se à rotina de consultas, exames, tratamentos e aos possíveis efeitos colaterais que podem surgir ao longo do percurso.

Com o objetivo de tornar essa informação mais compreensível e acessível, a escritora Danielle Sommer, em parceria com a ilustradora Daphne Lambros, lançou o livro “Tem alguém com câncer”, que ajuda famílias a explicar a doença para as crianças. “Muitos me perguntaram se não seria pesado abordar o câncer com os pequenos. De fato, é triste, mas necessário. Transformado em rimas e com cores, o tema se torna mais leve e acessível, ajudando a tornar esse período menos difícil para todos”, contou a autora.

Para Roberta Caratchuk, o ponto central nesse momento é garantir que pacientes e familiares compreendam seus próprios limites e entendam os papéis que cada um desempenha durante o tratamento do câncer. “É fundamental não reduzir a identidade de uma pessoa apenas à condição de paciente. Em toda trajetória de vida, essa é apenas mais uma fase entre tantas outras”, orienta a psicóloga.

Mesmo que a doença passe a ocupar grande parte da rotina, isso não significa que a vida deve ser deixada de lado. “Não podemos associar o diagnóstico de câncer exclusivamente à dor. Uma coisa não determina a outra. Quando se tem consciência do que está acontecendo, do que pode ocorrer e se está preparado para lidar com isso, é possível enfrentar o tratamento de forma mais equilibrada”, conclui Caratchuk.

Tratamento como parte da vida  

O tratamento do câncer metastático faz parte da vida dos pacientes, mas não define toda a vida deles. Mesmo diante dos desafios da doença, a clássica frase de filmes melodramáticos “não há o que ser feito” não se aplica fora da ficção. “Sempre há algo a ser feito. Nem sempre do ponto de vista estritamente terapêutico ou das escolhas médicas, mas sempre existe algo que pode ser feito em termos de cuidado e suporte ao paciente”, explica a médica Priscila Morosini.

É nesse ponto que a atuação da equipe multidisciplinar se torna essencial: ninguém enfrenta a oncologia sozinho. “Muitas das ações que realizamos contribuem para melhorar os quadros clínicos. Desde a importância da alimentação até o cuidado psicológico, a equipe médica e os profissionais de diferentes áreas trabalham juntos para garantir que a paciente tenha qualidade de vida”, acrescenta a oncologista.

O acompanhamento com fisioterapeutas, por exemplo, pode aliviar dores que surgem devido ao tratamento oncológico. Já a atuação de profissionais de nutrição permite a elaboração de dietas equilibradas, capazes de reduzir a sensação de cansaço provocada pela quimioterapia. Fora dos hospitais e clínicas, a prática de atividades físicas contribui para a redução de sintomas e melhora geral do bem-estar.

Com esse objetivo, a Universidade Livre do Esporte (ULE) passou a desenvolver projetos voltados a mulheres em tratamento de câncer. Liziane Kriger, psicopedagoga e coordenadora de projetos da ULE, explica que o projeto Reviva nasceu da vontade de oferecer às pacientes um espaço de apoio e incentivo por meio da prática esportiva.

Aulas de hidroginástica do projeto. Imagem: Divulgação.

“O projeto identificou a necessidade de mulheres acometidas pelo câncer que estavam imersas apenas na rotina do tratamento. Começamos a oferecer aulas de hidroginástica para fortalecer os músculos superiores”, conta Liziane. Rapidamente, as aulas se transformaram em mais do que encontros físicos: tornaram-se uma comunidade de pertencimento e apoio mútuo.

Com encontros mensais que abordam bem-estar e hábitos saudáveis, o grupo passou a promover também autoestima e autocuidado. “Esses encontros funcionam como ponto de partida para trabalhar superação, autoconhecimento, autoestima e práticas de autocuidado”, acrescenta Liziane.

Contrariando o senso comum, para essas mulheres o câncer de mama não é apenas um diagnóstico difícil, mas também se tornou um ponto de virada. Mais do que superar a doença, as mulheres descobriram novas formas de viver, celebrando cada etapa como uma conquista. 

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