Em 15 de julho, uma sexta-feira, o professor de idiomas Heitor Sartorelli, 30, saiu com três amigos para um bar. Entre conversas, risadas e aperitivos, ele nem imaginava que sairia dali infectado com a varíola dos macacos.

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A transmissão ocorreu porque um dos amigos do professor estava infectado, porém ainda não havia recebido o diagnóstico.

Heitor conta que esse amigo estava com dor de garganta havia alguns dias. Ele já tinha ido ao médico, mas até então a suspeita de monkeypox, vírus que causa a varíola dos macacos, não tinha sido levantada.

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“Acho que a maioria dos médicos não cogitou [ser varíola dos macacos]”, afirma Heitor. Segundo ele, até mesmo submeteram o amigo ao teste de Covid “e obviamente tinha dado negativo porque não era [essa infecção]”.

No dia do encontro, o amigo de Heitor tinha apresentado melhora na dor de garganta porque tomava remédios para aliviar o sintoma.

Naquele mesmo final de semana, porém, o amigo do professor voltou a sentir irritação na garganta e procurou novamente um serviço de saúde. Então, a varíola dos macacos foi cogitada.

Na segunda (18), o amigo do professor fez o teste para a doença e avisou os contactantes -inclusive Heitor, que sentiu uma febre leve um dia depois. “Pensei que fosse psicossomático porque ele me falou”, conta.

Porém, na madrugada de quinta-feira (21), a febre de Heitor aumentou. Esse é um dos sintomas que pode ocorrer na varíola dos macacos. O inchaço dos gânglios linfáticos também é uma manifestação comum.

Nessa mesma quinta, o diagnóstico do amigo de Heitor estava pronto -o resultado era positivo para monkeypox. Então, o professor procurou uma assistência médica no mesmo dia. Ele também cancelou um encontro familiar. “Optei pelo isolamento.”

O resultado do teste de Heitor, o que envolveu a raspagem de duas lesões na parte de trás do pescoço, saiu na segunda (25). Assim como o seu amigo, era positivo para a varíola dos macacos.

“Foi realmente bem preocupante nos primeiros dias, porque eu não sabia como a doença ia se desenvolver”, diz. Mesmo com os receios, o quadro dele continuou leve e o período de isolamento do professor termina nesta sexta (5).

Embora a transmissão da varíola dos macacos esteja concentrada no contato sexual, o caso de Heitor é um indicativo de que a infecção pode ocorrer em diferentes contextos. O professor diz que o encontro no bar com os amigos foi na parte externa do estabelecimento e não teve nenhum contato íntimo.

“Nós literalmente só sentamos para tomar um lanche juntos.”

Ele também afirma que, mesmo antes de encontrar o amigo, não estava com histórico de relações íntimas com parceiros sexuais. “Então não poderia mesmo ser por contato sexual.”

Os outros dois amigos presentes no bar não apresentaram sintomas da varíola dos macacos. Heitor desconfia que foi o único infectado porque se sentou ao lado do amigo que já estava com a doença. Ele também afirma que seu amigo reparou, somente depois, uma marca na sua mão que podia ser uma das lesões ocasionadas por monkeypox.

“Provavelmente eu devo ter encostado na mão dele sem ver que ele estava com a ferida.” Segundo estudos, o contato pele a pele com as erupções cutâneas é uma forma importante de transmissão, independentemente de ocorrer no sexo ou não.

Assim como seu amigo, Heitor apresentou lesões simples. Além de duas localizadas no pescoço, houve uma terceira na parte lateral do corpo. Como eram muito sutis, as lesões confundiram o professor -uma delas, ele até espremeu pensando que era uma espinha.

“São lesões bem simples. Elas não coçam, nem doem. Tanto é que eu achei que fosse uma espinha. A única pessoa que reparou foi o médico”, afirma.

Especialistas já relataram que muitos pacientes apresentam erupções quase imperceptíveis em casos de varíola dos macacos. O cenário pode atrasar o diagnóstico, já que os pacientes acreditam não ser um caso de monkeypox e se confundem com outras doenças.

Heitor passou por uma situação semelhante. Ao ser perguntado por este repórter se ele teria suspeitado da varíola dos macacos caso o amigo não estivesse com o teste positivo para doença, o professor dá uma resposta categórica: “jamais”.

“Só fui testar porque entrei em contato com o amigo que estava com diagnóstico positivo. Se não fosse por isso, teria achado que tinha sido só uma gripe ou um resfriado normal. Acho que aí está o grande perigo.”