TRIAGEM LEGAL?

Curitibanos estão na bronca com o aplicativo Saúde Já

Foto: Aniele Nascimento.

Nas lojas de aplicativos no celular, muitos usuários criticaram o Saúde Já Curitiba porque achavam que já conseguiriam uma consulta direto com um médico. E decepcionaram-se por ter que passar pela mão de uma enfermeira e ter que voltar outro dia para a consulta. De fato, este atendimento inicial não ficou bem explicado nas primeiras divulgações do aplicativo, o que fez as pessoas pensarem equivocadamente.

O prefeito Rafael Greca explicou à Tribuna que é um preceito do Código Nacional de Saúde que, antes de qualquer consulta, o paciente passe primeiro pela enfermagem para ter as primeiras avaliações, como medir a pressão, temperatura, peso e altura e que, em seguida, seja feito um resumo da queixa de saúde do paciente. Isso serve também para agilizar a consulta.

Conforme a classificação de urgência dada à queixa, agenda-se uma consulta para o mesmo dia ou para dali alguns dias ou semanas. E o prazo para conseguir a consulta depende de unidade para unidade, já que, conforme a Secretaria de Saúde, cada uma tem autonomia para manejar sua agenda como achar melhor.

“É uma sandice pretender que o aplicativo seja de consulta pela internet. Tem muita gente que acha que vai pela internet falar com o médico. Não vai, porque isso é inclusive condenado pela Anvisa. O atendimento de enfermagem tem que preceder a consulta. É lei”, diz o prefeito.

Campanha

Para desfazer o mal-entendido, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) reformulou a tela inicial do Saúde Já, escrevendo “Enfermagem ­ Primeiro Atendimento”. Para reforçar o esclarecimento, a SMS deve iniciar, em breve, campanhas de esclarecimento, explicando como utilizar melhor a rede de saúde e o aplicativo.

Tânia Pires, superintendente de Gestão em Saúde da SMS, enxerga que a expansão do aplicativo tem sido boa. Mas há alguns fatores que ainda levam os usuários à fila: muitos já têm idade avançada e têm dificuldade no uso da tecnologia e outros ainda possuem a “cultura da fila”. “Mas a tecnologia veio para ficar. Se o aplicativo pegar a força que planejamos, vamos diminuir muito as filas”, explica.

Quanto à resistência de muitas equipes nas unidades de saúde, que desestimulam o uso do aplicativo, ela diz que os supervisores de saúde têm conversando com a chefia de cada equipe. “Muitas pessoas funcionam assim: ‘o que não tenho certeza que funciona, me apego com o método tradicional.’ Por isto estamos conversando, reforçando orientações. Mas todos foram treinados igualmente e estamos buscando a padronização do atendimento em todas”, diz a superintendente.

Ela também alerta que o aplicativo não é para quem está em alguma situação aguda (febre ou uma dor forte, por exemplo, que incapacite às atividades normais naquele momento). Nestes casos, orienta, a pessoa deve ir direto à unidade de saúde, sem nenhum agendamento.

Capacidade técnica

A superintendente explica que os enfermeiros têm total capacidade técnica para dar início a um atendimento de saúde. É um profissional capaz de colher as primeiras queixas e verificar qual é o melhor encaminhamento a cada caso. Está inclusive capacitado a medir e interpretar os sinais vitais e coletar exames diversos, como sangue, preventivo ginecológico, etc.
“As pessoas acham que tudo tem que ser uma consulta e que o enfermeiro só vai cumprir ordens médicas. Os enfermeiros têm toda uma qualificação para dar vários andamentos que desafogam o serviço de saúde. Essa atenção primária, na Europa, por exemplo, é muito centrada no atendimento de enfermagem, de deixar para o médico somente o que o médico pode resolver”, explica Tânia.