Xadrez do Alto Maracanã virou barril de pólvora

A superlotação da delegacia de Alto Maracanã, em Colombo, está comprometendo inclusive o trabalho dos policiais civis. Os dois policiais destacados para realizar o plantão durante a noite são obrigados a ficar na delegacia para prestar atendimento aos presos e evitar tentativas de fuga. A partir das 20h, a delegacia não tem como atender nenhuma ocorrência solicitada pela comunidade, apenas registrar boletins. As ocorrências de rua são atendidas pela Polícia Militar.

Toda a preocupação com os presos tem fundamento. A carceragem nada mais é do que num barril de pólvora que pode explodir a qualquer momento. O “xadrez” da delegacia de Alto Maracanã tem capacidade para 16 presos, mas atualmente comporta em média 55. A falta de espaço e eventuais restrições pelas quais os detentos tem que se sujeitar atiçam a vontade de conseguir a liberdade. A todo momento eles avisam que a cadeia pode “virar”, referindo-se a uma rebelião.

Dura convivência

A convivência entre tantos presos também não é nada fácil de ser equacionada. Uma prova disso foi o resultado de uma declaração dada por um detento à imprensa após ser recolhido em uma das celas. “Ele falou coisas que não devia e os presos encararam isso como desrespeito”, disse o delegado de Alto Maracanã, Arten Dach. Diante dessa situação, o preso foi separado dos demais e está recolhido no corredor da carceragem. “Havia ameaças de morte contra ele”, explicou o policial.

Com as constantes prisões que as equipes de investigadores estão fazendo, principalmente resultante da operação policial desenvolvida para evitar furtos de veículos e comercialização de peças furtadas, o delegado destaca a necessidade de rever a estrutura da delegacia. “Sobre a superlotação carcerária, enviamos pedidos ás autoridades responsáveis pedindo a transferência de presos para outros lugares, de forma a deixar a carceragem pelo menos num nível suportável”, afirma Dach.

O problema de espaço na delegacia é grave pois a cada dia aumenta o número de presos no xadrez. “Não podemos deixar de realizar prisões pela falta de espaço. É a segurança da população de Alto Maracanã que está em jogo”, disse um policial que preferiu não se identificar.

Marcado para morrer

A entrevista que gerou repercussão dentro da carceragem de Alto Maracanã foi concedida pelo preso Rubens Adriano Duarte, mais conhecido como “Rubinho”, 28 anos. Ele é filho de Hélio Duarte, assassinado na maior chacina ocorrida no Estado, na noite de 28 de fevereiro, em Colombo. De acordo com as palavras de “Rubinho” que foram publicadas na edição do dia 13 de março da Tribuna, ele estava marcado para morrer e preferia ficar preso na delegacia de Alto Maracanã porque lá conhecia o pessoal e se sentia mais seguro.

Essa declaração não ficou bem para os demais detentos da carceragem que por pouco não agrediram “Rubinho”. Ele inclusive, devido as ameaças dentro do “xadrez”, está recolhido no corredor. Para os outros presos de Alto Maracanã, as palavras de “Rubinh” colocam em risco a vida deles quando forem transferidos para outras penitenciárias. “Aqui ninguém conhece ou tá dando cobertura para esse cara” afirmou o detento Elicleiton Coradim, 21 anos, preso por furto.

Segundo Coradim, a permanência de “Rubinho” na carceragem pode gerar uma rebelião. Rubens, por sua vez, nega ter dito qualquer coisa relacionada a um possível protecionismo dentro da cadeia.

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