Em entrevista exclusiva concedida ontem ao Paraná-Online, Oscar Moreira, 29 anos, confirmou a informação de que foi torturado na Delegacia de Estelionato e Desvio de Cargas e revelou detalhes da violência sofrida. Segundo ele, a tortura durou nove horas e foram cinco policiais que participaram. Oscar falou que não sabe o nome de todos os envolvidos, mas que aguarda a Promotoria de Investigação Criminal marcar o reconhecimento oficial. “Sei quem são e não vou voltar atrás”, assegurou.
Oscar, que tem contra si um mandado de prisão temporária, por cinco dias – acusado de roubo de cargas – foi preso quando retornava de Santa Catarina em uma camioneta Silverado, acompanhado de Alexandre Berlanda Viana, às 19h de terça-feira. “Recebi voz de prisão e pedi para ligar para o meu advogado. Eles não deixaram. A prova disso são multas que devem aparecer. Eles pegaram a Avenida das Torres e trafegaram a mais de 160 km/h”, relatou. Depois foram até a delegacia, onde, segundo Oscar, começou a tortura. “Eles já bateram em mim e no meu colega na sala de entrada da delegacia. Ele não tinha nada a ver com a minha prisão temporária. Depois me levaram para uma outra sala onde há um banquinho”, revelou. “Eles queriam que eu assumisse umas dez cargas roubadas, de cerveja, geladeira e outras. Queriam solucionar os boletins de ocorrência dos últimos três meses, jogando tudo nas minhas costas”, relatou.
Tortura
Oscar contou que após o levarem para uma salinha, usaram uma “máquina de choque” para fazê-lo confessar. “É bem pior que levar choque elétrico. A máquina é preta e tem uns fios que eles colocam na gente e viram a manivela”, explicou. Ele disse que os policiais colocaram os fios na sua língua e começaram a dar choques. “É horrível”, descreveu. “Depois colocaram na orelha. Eles ainda colocaram um plástico preto no meu rosto para me sufocar, um cara grande ficava dando murro no meu estômago e colocaram os fios na algema. Era uma equipe grande de policiais, mas só cinco me torturaram, o resto só olhou”, informou. Ele disse que os policiais também queriam que Oscar falasse que Alexandre era da quadrilha.
Ainda segundo declarações do preso, dadas no Centro de Observação Criminológica e Triagem (COT), após a tortura os policiais foram até uma casa em São José dos Pinhais e pegaram R$ 300,00 em notas falsas. “Eles queriam que eu falasse que eram do Alexandre. Os policiais me batiam e davam choques. Falei que eram minhas”, ressaltou. Oscar disse não ter passagens pela polícia e quando soube que tinha um mandado prisão contra si, iria se apresentar. “Só estava aguardando meu advogado que estava viajando”, alegou.
Seguro
Segundo ele, sua situação na delegacia só melhorou depois que representantes da Promotoria de Investigação Criminal (PIC), chegaram, avisados pela advogada Cláudia Pereira. “Eles lavraram o flagrante ao meio-dia. Eu estava preso desde às 19h do dia anterior”, avisou. “Eu contei para a advogada que eles me torturaram e eles ouviram. Quando ela saiu, eles me bateram mais. Levaram-me eu e o Alexandre até uma sala onde tem várias armas e ameaçaram: “Com qual delas você quer morrer”.
Com a chegada do promotor Pedro Assinger (da PIC) o tratamento mudou, de acordo com a versão do preso. “Pediram para eu não denunciá-los, fazendo o favor. Mas não vou desistir, vou até o fim”, prometeu. Segundo Oscar, depois da tortura ele só conseguiu tomar um copo de água e outro de café. “Os médicos aqui do COT estão me tratando, mas ainda não estou bem”.
Reconhecimento está sendo providenciado
Até ontem, a Promotoria de Investigação Criminal (PIC), não havia providenciado o reconhecimento dos policiais acusados de tortura. O promotor Pedro Carvalho Santos Assinger informou que está agilizando a reunião de todos os policiais lotados na Delegacia de Estelionato e Desvio de Cargas em um local adequado, para que seja feito o reconhecimento. Ele prefere não adiantar os próximos passos que serão tomados.
O delegado Roberto Heusi, titular da delegacia, trabalhou normalmente ontem. Em breve contato telefônico com a reportagem, ele disse que agora não é o momento para se pronunciar sobre o caso.


