Secretaria da Segurança provoca indignação na Polícia Militar

Mais um capítulo abala a já estremecida relação entre o secretário Luiz Fernando Delazari, da Segurança Pública, e a Polícia Militar. Ontem, o major Nerino Mariano de Brito, subcomandante do 13.º Batalhão, pediu afastamento do cargo.

Fontes consultadas pela reportagem garantem que ele solidarizou-se ao comandante Flávio José Correia, também major, afastado por Delazari após a ação de desocupação de um terreno invadido no Campo Comprido, semana passada.

O pedido de desligamento da função de comando foi feito diretamente ao novo chefe do Comando do Policiamento da Capital (CPC). Assim, já são três os oficiais afastados, contando com  o coronel Carlos Alexandre Scheremeta, então comandante do CPC, também deposto pelo secretário.

Tartaruga

A indignação entre os milicianos é geral. A interferência na hierarquia da corporação ainda não foi digerida. Ontem, um bilhete entregue em mãos por um PM à equipe de reportagem do Paraná-Online******** trazia a possibilidade de uma manifestação velada. Os policiais estariam se preparando para iniciar operação “tartaruga”, ou seja, demorar para prestar atendimentos.

Isso já aconteceu sábado passado, conforme confirmou outra fonte. Vários policiais do 13.º BPM trabalharam sem suas insígnias e deixaram de realizar patrulhamento de forma plena, atendendo apenas ocorrências de maior gravidade.

No bilhete, o policial afirma, ainda, que na companhia onde trabalha há viaturas quebradas. Entretanto, ele não quis falar com o repórter, assim como outros policiais procurados. Todos, nitidamente temendo represálias, afirmaram que apenas seus superiores poderiam prestar alguma informação.

Entenda

O caso começou com a operação de reintegração de posse de um terreno no Campo Comprido, quinta-feira da semana passada. Durante a desocupação, foram usadas munições de borracha e bombas de efeito moral. Foram poucos minutos de muita correria.

Em meio ao tumulto, um cinegrafista foi atingido por um projétil de borracha. Vendo a imagem na TV, o secretário Delazari determinou, publicamente, o afastamento do então comandante do Policiamento da Capital, coronel Carlos Alexandre Scheremeta, e do comandante do 13.º BPM, major Flávio Correia.

Os oficiais da reserva foram os primeiros a se revoltar. E com razão. O artigo 3.º da Lei de Organização Básica da PM, bem como o artigo 4.º do Decreto-Lei n.º 2.010, de 12 de janeiro de 1983, deixam bem claro que a corporação militar é subordinada apenas operacionalmente à Secretaria da Segurança Pública. Questões administrativas, como punições e afastamentos só podem ser decididas pelo comandante-geral, ou diretamente pelo governador do Estado.

Bilhete foi entregue por policial à reportagem. (Reprodução)

Pesos e medidas diferentes

Outro oficial consultado pela reportagem relatou que a insatisfação não é de hoje. Desde que o atual governo assumiu, somente protegidos e escolhidos a dedo conseguem evoluir na corporação.

“Tem oficial que pulou várias etapas e foi promovido, em detrimento de outros, que já poderiam ser até coronéis, seja por tempo ou merecimento. Isso é um absurdo”, relatou o entrevistado, que por motivos óbvios não quis se identificar.

Outra determinação, que passou a valer neste governo, proíbe que os PMs façam cursos fora do Estado, mesmo que com recursos próprios. Só pessoas ligadas ou indicadas diretamente pelo governo é que estariam sendo beneficiadas.

“O coronel Washington foi até fazer curso na França”, disse a fonte, referindo-se ao tenente-coronel Washington Alves da Rosa, chefe da Casa Militar. “Enquanto isso, outros que tentam se especializar, pagando até do próprio bolso, são vetados”, completou.

Associações se manifestam

Ainda ontem, o presidente da Associação Beneficente dos Cabos, Soldados e Bombeiros da Pol&i,acute;cia Militar, Sebastião Félix de Souza, enviou nota de repúdio à atitude do secretário de afastar os comandantes que chefiaram a ação da PM na reintegração de posse no Campo Comprido.

Na nota, entre outras frases, o presidente da associação afirma: “Espero a sensatez do senhor secretário da Segurança em retratar-se à sociedade paranaense, devolvendo o bem-estar e o direito ao nosso Comando e à nossa Corporação”.

Silêncio

Já o coronel Elizeu Furquin, presidente da associação que defende os direitos dos PMs (Amin), que no final de semana também enviou nota de repúdio pelo mesmo motivo, disse que entendeu o silêncio de Delazari como admissão de culpa. “Ele ter ficado quieto significa respeito e penitência”, afirma.