Crime

Rachel recebeu tratamento psicológico dias antes de ser morta

O sofrimento e a angústia de Rachel Maria Lobo Oliveira Genofre, 9 anos, pode ter começado semanas antes do dia em que ela foi raptada e assassinada. Existe a suspeita de que o autor do crime tenha se aproximado da vítima anteriormente, o que teria provocado mudanças no comportamento dela.

Informações de pessoas ligadas à vítima dão conta de que Rachel foi submetida a acompanhamento psicológico no final do mês passado, no próprio Instituto de Educação, escola que freqüentava.

Uma professora do colégio teria reparado que, ultimamente, a garota chorava bastante e se recusava a comer. Durante a passeata em protesto ao crime, na manhã de ontem, o diretor da escola, professor José Frederico de Melo, não quis comentar a informação e disse que apenas a família ou a polícia poderiam falar sobre o assunto.

Investigadores que trabalham no caso suspeitam que o autor da barbárie já tenha cometido crime semelhante. Por esse motivo, pessoas de outros municípios e até de outros estados, com histórico de crimes parecidos ao que vitimou Rachel, estão na mira da polícia.

Na manhã de ontem, familiares e conhecidos da menina, entre eles o pai, Michael Genofre, prestaram depoimentos na Delegacia de Homicídios. Porém, ninguém quis se manifestar a respeito da mudança de comportamento da menina.

Retrato falado

Como já havia sido antecipado pela Tribuna, a polícia divulgou o retrato falado do suspeito de ter assassinado Rachel. O homem é moreno claro, tem aproximadamente 50 anos, olhos claros e cabelos curtos e escuros. Ele mede cerca de 1,68 metro e pesa 70 quilos.

As informações foram dadas por um comerciante que trabalha nas proximidades da Rodoferroviária e vendeu uma mala igual à usada pelo assassino para esconder o corpo da garota.

O delegado Jaime da Luz, da Delegacia de Homicídios, voltou a lembrar que qualquer denúncia da população é importante e que a “divulgação do retrato falado é bastante útil nesse momento”.

“Quem viu a criança na companhia dessa pessoa deve informar à polícia”, afirmou. Entretanto, o delegado reiterou que outros suspeitos também permanecem sob investigação.

Há informações de que policiais foram para o litoral paranaense, Santa Catarina e São Paulo, na tentativa de conseguir pistas que levem ao assassino. O delegado comentou ainda que aguarda laudos do Instituto de Criminalística e do Instituto Médico-Legal para poder também analisar o crime sob a ótica científica.

Suspeito faz exames

Mara Cornelsen

Tão logo o retrato falado do suspeito de assassinar Rachel ficou pronto, a polícia procurou a empresa de ônibus responsável pela linha Vila Cubas – condução que a garotinha pegava todos os dias – e apresentou a imagem aos diretores, pedindo colaboração.

A direção imediatamente colocou todos os motoristas e cobradores à disposição dos policiais, para que fossem ouvidos. No entanto, um deles – cujo nome será preservado – por ser parecido com o rosto desenhado, apresentou-se espontaneamente e concordou em fornecer material para exames de DNA. Como tinha prisão temporária decretada por cinco dias, ele ficou detido numa delegacia.

O material recolhido deverá ser comparado ao DNA extraído do esperma encontrado no corpo da menina. O resultado poderá incriminar ou inocentar de vez o suspeito. A própria polícia, no entanto, não crê que o rapaz seja o culpado, justamente por sua conduta colaborativa.

Mas as investigações não pararam. Outras equipes de diferentes delegacias, além da Homicídios, continuam trabalhando com mais dois suspeitos – seus nomes também não serão divulgados.

Um j&a,acute; conta com antecedentes criminais por envolvimento na morte de outras crianças e num recente caso de violência sexual contra um garotinho, na região metropolitana. Quanto ao outro, não há registros policiais de abuso de crianças, mas há queixas por violência contra mulher e ameaças.

Manual e tridimiensional

Giselle Ulbrich

Assim que teve acesso ao retrato falado do suspeito de matar Rachel, o engenheiro industrial Isnard Martins – professor da Pontifícia Universidade do Rio de Janeiro e Estácio de Sá – fez a reconstrução facial do rosto do suspeito, num programa de computador que ele mesmo criou.

A primeira etapa foi a reconstrução do rosto, em cima do retrato falado (foto) feito manualmente pelo perito Jorge Werzbitzki, do Instituto de Criminalística do Paraná.

Depois, o professor passou para a parte de computação gráfica, para tridimensionalizar o rosto, aperfeiçoando os traços físicos. É um estágio que pode durar entre 1h30 e 2h. Martins é doutorando em Engenharia Industrial
e trabalha há pelo menos oito anos com inteligência criminal.

Alunos pedem paz e justiça

Marcelo Vellinho

Mais de mil pessoas, entre familiares, colegas, amigos e professores de Rachel Maria Genofre, 9 anos, participaram de uma caminhada em protesto pela morte da garota, durante a manhã de ontem, no centro de Curitiba.

Com faixas e cartazes nas mãos, com pedidos de paz e justiça, os manifestantes saíram do Instituto de Educação onde a menina estudava, na Rua Emiliano Perneta, e seguiram pela Rua XV de Novembro até a Praça Santos Andrade. A passeata terminou por volta das 11h30, na escadaria da Universidade Federal do Paraná, onde os participantes rezaram e cantaram em homenagem a Rachel.

Durante toda a caminhada, os sentimentos de inconformidade e revolta tomaram conta dos manifestantes. O diretor da escola, professor José Frederico de Melo, ressaltou que o evento “foi um exercício de cidadania a favor da justiça e contra a impunidade”. O pai da garota, Michael Genofre, também mostrou-se revoltado, mas afirmou que o mais importante, neste momento, é achar o responsável pelo crime.