Punguistas atacam no centro da cidade

Andar pelas ruas próximas à Praça Rui Barbosa, no centro de Curitiba, está exigindo cuidado redobrado. Uma quadrilha de punguistas, composta por pelo menos oito indivíduos – inclusive uma mulher -, está agindo nessa área e realizando inúmeros furtos. De acordo com comerciantes instalados na região, o mesmo grupo atua todos os dias há vários anos e o horário preferido para a prática de golpes é exatamente o mesmo em que funcionam os bancos. Isso não é coincidência, pois o ponto preferido dos marginais é em frente à agência do Itaú localizada na esquina das ruas Desembargador Westphalen e Pedro Ivo. Nesse local a equipe da Tribuna conseguiu flagrar algumas ações dos “descuidistas”.

O grupo é bem organizado e conta com o apoio de pessoas que realizam trabalhos informais naquela área, como panfletistas e engraxates. Estes avisam os punguistas quando algum policial está se aproximando. “Moça” é a palavra que eles costumam gritar quando percebem a chegada de um PM. Com o aviso, o grupo se dispersa rapidamente, até que o policial (ou viatura) se afaste. Minutos depois, os mesmos indivíduos retornam a seus postos, aguardando uma nova vítima.

Destaques

Três integrantes do grupo se destacam. Enquanto escolhem a próxima vítima, eles ficam se deslocando de uma esquina à outra, esperando a melhor hora para dar o “bote”. Algumas vezes se disfarçam de estudantes, carregando uma pasta escolar, ou se fazem passar por panfleteiros para justificar a constante permanência nas esquinas. Outro artifício utilizado é se encostar em paredes de lanchonetes e fingir ler jornal. É assim que vigiam as vítimas.

A entrega de panfletos por parte de integrantes do grupo também merece uma atenção especial. Muitas vezes as pessoas escolhidas para receber o material publicitário são o alvo da quadrilha. Esse é um dos inúmeros sinais utilizados pelos marginais. Se você pegou o panfleto, se prepare. Pode ser assaltado na próxima esquina.

Alvos

Os alvos preferidos dos marginais são as pessoas idosas e as mulheres. Em dias de pagamento (início do mês), quando os bancos estão lotados, os punguistas fazem a “festa”. Eles agem com tanta naturalidade que chegam a assustar quem os observa. Duas situações chamaram a atenção da reportagem, ontem. Numa delas um homem saiu do banco e colocou um pacote, provavelmente dinheiro, no bolso da calça. Dois suspeitos o seguiram. O primeiro passou pela vítima e fez um sinal para o segundo, que, num gesto brusco e rápido, colocou a mão no bolso da calça do idoso e saiu carregando o pacote.

A vítima sentiu que foi furtada mas, diante do vaivém de pessoas e sem poder reconhecer o autor, nitidamente se conformou com o prejuízo e foi embora.

Outro flagrante foi o furto contra uma mulher, ação bastante freqüente. A vítima carregava sacolas nas mãos e a bolsa estava nas costas. Ela parou na esquina da Rua Westphalen para atravessá-la, mas como o sinal estava fechado para ela, teve que esperar. Mulheres que carregam bolsas nas costas são alvos fáceis para os punguistas. Nessa situação específica, o marginal chegou bem próximo da mulher e parou atrás dela. Abriu o zíper de um dos compartimentos da bolsa e deu uma rápida olhada. Em seguida enfiou a mão na bolsa e puxou uma carteira. A ação não durou nem 10 segundos. A vítima, sem notar que havia sido furtada, continuou sua caminhada tranqüilamente. O ladrão atravessou a rua, mostrou a carteira para o comparsa e saiu rindo, contando o “rendimento”.

Pressa, desatenção e falta de polícia ajudam os ladrões

A grande concentração de pessoas que circulam nas calçadas naquela região e a inexistência de policiamento facilita a ação dos criminosos. A pressa e a desatenção das vítimas também criam um clima favorável aos bandidos. Os punguistas agem tão livremente que no final da tarde chegam a se reunir em frente a uma lanchonete para fazer o rateio do dia. “Isso aqui é uma vergonha. A polícia só não prende porque não quer”, reclama um comerciante.

A reclamação procede, pois no pouco tempo que a equipe da Tribuna permaneceu na esquina da Rua Desembargador Westphalem e Rua Pedro Ivo, pôde observar a ação dos marginais e identificá-los no meio da multidão. Os punguistas demonstram não ter medo de ser reconhecidos, pois agem constantemente, sem dar trégua às vítimas. Após cometerem um delito, eles desaparecer por cerca de 15 minutos até “esfriar” a área e depois retornam, agindo da mesma maneira.

A “cara de pau” dos marginais é tamanha que um deles chegou a ajudar uma menina cega a atravessar a rua e a acompanhou por alguns metros. Não foi possível perceber se ele furtou algo. Os integrantes do grupo sempre estão mantendo contato entre si, passando informações e dicas. Movimentam-se bastante, mas têm como base a esquina em frente à agência Itaú.

Mais golpes

Além da ação dos punguistas, somente durante a permanência da reportagem na rua, foi possível constatar também homens aplicando o conhecido “golpe do pingüim” para lesar os desavisados. Foi possível notar que golpistas e punguistas se unem e trabalham com uma espécie de “rede de informações” para lucrar em cima dos mais ingênuos.

Prender um punguista é tarefa difícil para a polícia, pois há necessidade de um flagrante. Mas, se um trabalho preventivo e ostensivo fosse realizado na área, o número de vítimas diminuiria. Uma mostra disso foi visível com a aparição de duplas de policiais nas ruas. Durante cerca de meia-hora PMs passaram pela região e os marginais simplesmente desapareceram.

Com a aproximação do Dia das Mães – segundo melhor dia do ano para o comércio – a atenção dos consumidores deve ser redobrada. O número de pessoas que circulam pelas ruas aumenta e, com certeza, os punguistas estarão de olho.

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