Polícia procura envolvidos no assassinato de Donha

A localização de um indivíduo identificado até agora como “Zé” – co-autor do homicídio de Miguel Siqueira Donha, ocorrido em janeiro de 2000 em Itaperuçu – é o principal fato da nova fase de investigação criminal, desde que o caso foi reaberto pela PIC (Promotoria de Investigações Públicas). “Zé” foi localizado pelo Gerco (Grupo Especial de Repressão ao Crime Organizado), ligado à PIC, há alguns dias, e é peça-chave do caso. Ele poderia revelar o nome do verdadeiro mandante do assassinato. As investigações apontam para um terceiro indivíduo, ao qual “Zé” e Edson Farias, autor confesso do tiro que matou Donha, se referiam apenas como “patrão”. Farias está foragido da cadeia de Rio Branco do Sul.

De acordo com o delegado Miguel Stadler, do Gerco, “Zé” foi ouvido mas não ficou detido porque cabe, agora, à Promotoria de Rio Branco do Sul, onde corre a ação, tomar as providências. O Gerco continua procurando por Farias.

Antônio Martins Vidal, o “Tico Pompílio”, foi apontado na época como mandante do crime. Ao ser preso, três semanas depois do assassinato, Farias confessou o crime e relatou que “Tico” tinha oferecido R$ 300,00 e um cargo de confiança na Prefeitura de Tamandaré para que ele e o comparsa “Zé” seqüestrassem Donha. “Era para dar um susto nele”, disse Farias, quando foi apresentado à imprensa. A trama deu errado porque o tiro na perna de Donha acabou causando grave hemorragia, à qual ele não resistiu, falecendo horas depois. “Tico Pompílio” e a esposa chegaram a ser detidos por policiais da Delegacia de Homicídios, responsável pelo inquérito na época, mas foram liberados pela Justiça de Rio Branco do Sul.

“Pompílio” foi preso há três meses pela equipe da delegada Vanessa Alice, junto com outras vinte pessoas, todas acusadas de fazer parte da quadrilha organizada de Almirante Tamandaré. O delegado Stadler disse que as declarações de “Zé” complicam bastante a situação de “Tico Pompílio”.

Mandante

O advogado Amadeu Geara, assistente da PIC no caso Donha, disse ontem que “Tico Pompílio” foi apenas o contratante do crime. “O verdadeiro mandante ainda não apareceu”, afirmou. Geara reafirmou que o crime teve motivação política. Miguel Donha, diretor da Corretora de Seguros Banestado, morava com a família em uma chácara em Tamandaré. Ao ser morto, liderava uma coligação de partidos de oposição ao então prefeito César Manfron, candidato à reeleição. Manfron efetivamente se reelegeu no final daquele ano.

Em entrevista coletiva à imprensa, ontem, Amadeu Geara disse que os delegados Fauze Salmen e Vanessa Alice foram omissos na investigação do assassinato de Donha. “Encerraram o inquérito com a prisão do Edson, caracterizando o crime como latrocínio, quando havia claras evidências de que tinha sido um crime com motivação política”, declarou o advogado.

Ele disse acreditar que a impunidade gerada pelo caso Donha resultou na seqüência de mortes de mulheres e homens em Tamandaré nos últimos três anos. “A partir dali, a bandidagem foi se associando. Entraram policiais civis e militares, os crimes e mortes foram se seguindo e a quadrilha tomou conta da região”, ressaltou. Geara comentou que “as coisas só começaram a mudar” a partir da posse da nova procuradora-geral do Estado, Maria Teresa Uille Gomes, e do promotor Ramatís Fávero como coordenador da PIC, em março deste ano. “Mas o clima de terror continua. Os moradores de Tamandaré e região têm que perder o medo de denunciar, precisam falar o que sabem”, salientou.

Indícios

Amadeu Geara era amigo pessoal de Miguel Donha e da família dele. Os dois pertenciam ao mesmo partido – PPS – e desde então o advogado vem se empenhando pessoalmente na elucidação do caso. Ele afirmou ontem que a PIC tem indícios de que Alzemir João de Barros, também conhecido como Alzemir Manfron, estaria por trás da trama. Ele é irmão do prefeito César Manfron e foi citado em documentos que estão em poder da PIC.

Um desses documentos é o depoimento de uma das testemunhas de acusação do caso Tamandaré. Vânia de Souza Lopes está sob custódia da PIC. Ela prestou declarações em janeiro deste ano em um batalhão de Polícia Militar do litoral paranaense, onde estaria escondida. Vânia falou sobre o assassinato de Davi Mendes Inácio, morto em outubro de 2001 em Tamandaré. Davi era cunhado de Alzemir Manfron e teria sido morto pela mesma quadrilha como queima-de-arquivo, pois teria conhecimento das atividades criminosas de “Tico Pompílio” junto a políticos e policiais de Tamandaré.

Davi tinha gravado conversas que comprovariam a ligação de “Tico” com Alzemir Manfron e a quadrilha. Duas fitas cassete já estão em poder da PIC, disse Geara. O delegado Stadler confirmou que as duas fitas foram degravadas. O conteúdo são conversas de Davi com Alzemir Manfron. Uma terceira fita estaria com o advogado Osmann de Oliveira, defensor do PM Juarez Silvestre, uma das pessoas presas, acusadas de envolvimento com a mesma quadrilha.

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