Polícia pega mais um da quadrilha de Tamandaré

Foragido há 70 dias, Emerson José Brunelo, 29 anos, foi preso por policiais do 7.º Distrito Policial (Vila Hauer), no domingo, em uma churrascaria no Boqueirão. Ele está com mandado de prisão temporária decretado desde o dia 25 de abril, sob a acusação de integrar a quadrilha responsável por várias mortes na região de Almirante Tamandaré.

O delegado Stélio Machado, titular do distrito, informou que recebeu uma denúncia anônima, na semana passada, de que Brunelo estava escondido na região do distrito e determinou que o investigador Edenilson César, o escrivão Anselmo e o superintendente Paulo Roberto Knupp apurassem a veracidade da informação. “Após várias diligências, eles lograram êxito e prenderam o Brunelo”, salientou o policial. Stélio explicou que não irá interrogar o preso porque a delegada Vanessa Alice foi designada para apurar o caso e solicitou a prisão à Justiça. “Na ficha criminal de Brunelo consta passagem por homicídio e porte ilegal de arma”, relatou o delegado.

Negativa

Brunelo teve a prisão decretada no dia 24 de abril deste ano, junto com outras 16 pessoas, e negou qualquer envolvimento com o grupo. “Meu pai tem uma churrascaria no centro da cidade de Rio Branco do Sul. Todo mundo me conhece lá. A maioria da polícia freqüenta a churrascaria, que é ao lado da PM”, justificou. Ele disse que quando ficou sabendo que estava com a prisão decretada, procurou um advogado, que lhe orientou a sair da região de Rio Branco. Desde então, ele estava escondido no Boqueirão. “Eu trabalhava na Votorantim (indústria de cimento) até o dia em que o advogado me avisou. Para mim foi uma surpresa.”

Quanto aos policiais militares acusados de integrar o grupo, Brunelo garante que só conhece o ex-soldado Valdírio Adir Mangger e o soldado Silvestre Vieira. Ele nega que era amigo de Alceu Rodrigues, o B.A., e de Ananias Oliveira Camargo. O primeiro foi assassinado no dia 9 de maio por Ananias, que veio a ser preso na madrugada de sexta-feira, pela delegada Vanessa Alice. “Enquanto estava morrendo gente eu estava tranqüilo na minha chácara. Trabalhei com o meu pai e agora estou tentando provar que sou inocente. Mas está difícil, sem condições”, salientou.

Prisão de Brunelo, a única que faltava

Valéria Biembengut

No dia 24 de abril, a juíza de Almirante Tamandaré decretou a prisão temporária, por 30 dias, de 17 pessoas, acatando pedido da delegada Vanessa Alice. Todas são acusadas de integrar a quadrilha de extermínio, que agia na região de Almirante Tamandaré. Dessas pessoas, duas foram liberadas, uma morreu e as outras continuam atrás das grades. Na noite do mesmo dia, foram presos o escrivão da Polícia Civil Alexander Perin Pimenta e o funcionário da Prefeitura daquela cidade Luiz Antônio Alves da Silva, o “Luizão”, que exercia a função de investigador. Os dois foram presos por policiais da Corregedoria da Polícia Civil, quando deixavam a delegacia no início da noite.

No dia seguinte, foram cumpridos os mandados dos policiais militares. Os soldados Jeferson Martins, 24 anos, José Aparecido Alves, 28, Juarez Silvestre Vieira, 38, e o cabo Marcos Marcelo Sobieck, 30, foram recolhidos pela própria PM e conduzidos ao Batalhão de Guarda. Lá já estavam presos outros dois acusados de integrar o grupo, os soldados Jean Adan Grott, 27 anos, e Juliano Vidal de Oliveira, 28, que também tiveram seus mandados de prisão cumpridos. Eles estavam recolhidos desde o dia 9 de março deste ano, sob a acusação de serem os autores do duplo assassinato que vitimou Douglas Greichiwesi, 24 anos, e Genildo Tadeu dos Santos. Os jovens desapareceram de suas casas no dia 2 de março e foram encontrados mortos no dia 6. Um outro soldado da PM também teve o mandado de prisão decretado e foi preso, mas liberado dias depois por não ser reconhecido pelas testemunhas.

No dia 30 de abril, André Luiz dos Santos, 24 anos, se apresentou na Delegacia de Ordem Social, onde a delegada Vanessa é lotada, e seu mandado de prisão foi cumprido. Três dias depois, a equipe da delegada prendeu em Itaperuçu a comerciante Maria Rosana de Oliveira, a “Rosana Zen”, e o ex-PM Valdírio Adir Mangger, 37 anos. Daniel Matias, 22, também foi preso sob a acusação de fornecer armas para o grupo, mas liberado por falta de provas. Celso Luiz Moreira, o “Celso Seco”, se apresentou no dia 20 de maio. Dos 17 mandados pedidos inicialmente só restava prender Emerson José Brunelo, 29 anos, que foi capturado pelos policiais do 7.º Distrito Policial (Vila Hauer), no domingo.

No decorrer das investigações, foram presos Advanil Tavares Nogueira, o “Nico”, 37 anos, Sebastião Alves do Prado e Ananias Oliveira Camargo, 25.

Ananias alega inocência

Bia Moraes

Ananias de Oliveira Camargo, 25 anos, acusado dos homicídios da empregada doméstica Suzana Moura Gazani, 23, e de Alceu Rodrigues, o B.A., 31 anos, dentro da série de crimes cometidos pela quadrilha organizada de Almirante Tamandaré, foi ouvido ontem à tarde pela delegada Vanessa Alice e negou participação nos crimes. Acompanhado pela advogada Paola Daniele Costa, o acusado, que foi preso na última sexta-feira, falou durante duas horas e caiu em contradição. “Ele tentou negar, mas com perguntas minuciosas estamos apurando a verdade e vamos comprovar as acusações”, disse a delegada.

Ananias também é suspeito da morte de Clécio Ferreira da Rocha, 24 anos, assassinado em Almirante Tamandaré na noite de Natal do ano passado, e de um cabeleireiro conhecido como Alceu, também morador de Tamandaré.

Ligações

Ananias acabou confessando que no dia em que B.A . foi morto, 9 de maio, tinha feito telefonemas para a vítima. “Sabemos que B.A. tinha recebido algumas ligações e marcado um encontro antes de ser assassinado”, lembrou Vanessa Alice. O acusado também citou o nome de uma pessoa que seria o intermediário ou mandante do crime.

B.A., também acusado por diversos crimes, foi executado com dois tiros na cabeça e teria sido morto exatamente por integrar a quadrilha organizada de Tamandaré. Ele era um dos líderes do bando. Os comparsas temiam que B. A. pudesse ser preso ou procurar a polícia para denunciar os integrantes do bando que ainda não haviam sido presos – em maio, a delegada Vanessa, designada em janeiro para cuidar do caso, já havia obtido mandado de prisão para diversos acusados.

Sobre a morte de Suzana, Ananias alegou que teria sido por acidente. Disse à delegada que a moça estava colhendo pinhões em uma chácara e que ele, atirando nas pinhas para derrubá-las, teria acertado Suzana na cabeça.

Envolvida

De acordo com Vanessa Alice, Suzana estava envolvida com a quadrilha porque havia trabalhado na casa de Ananias, era amiga de outros integrantes e usuária de drogas – uma das atividades paralelas do bando era o tráfico de entorpecentes, além de roubo e desmanche de carros, assaltos, roubo e venda de armas e pistolagem (assassinatos por encomenda).

A história de Suzana é parecida com a de outras vinte mulheres executadas em Tamandaré: todas, de alguma forma, tinham ligações com a quadrilha, fosse por causa de drogas, por prostituição ou sendo amantes de algum dos integrantes. E todas sabiam, direta ou indiretamente, dos crimes praticados pelo bando.

A delegada Vanessa lembrou, ainda, que não seria mero acaso o fato de Suzana ter sido morta exatamente na época em que a policial pedia a prisão de diversos acusados pelos crimes de Tamandaré. “Fica claro que foi queima-de-arquivo”.

Encontro

Pouco antes de morrer, Suzana havia viajado para a casa do pai, em Pérola, no interior do Paraná. Aparentemente estava sem trabalho, mas não está descartada a hipótese de que ela tenha deixado a capital exatamente para fugir da quadrilha. Mas Suzana acabou voltando para Curitiba e, no dia 24 de abril, saiu da casa de uma tia com quem residia em Tamandaré para ir a Santa Felicidade, pilotando sua motocicleta. Encontrou-se com Ananias na Rodovia dos Minérios e, dali, acompanhou-o até uma chácara, junto com Hosana Dias de Oliveira, a Eliane, esposa de Ananias, e Adão Ribeiro, amigo deles. Naquele local, conhecido como Chácara dos Gava, foi executada com um tiro na nuca e enterrada. A ossada foi encontrada na última sexta-feira.

Eliane e Adão foram detidos junto com Ananias na semana passada. Estavam escondidos em um condomínio de luxo no Balneário Camboriú (SC). A prisão dos três foi solicitada pela delegada Vanessa, mas somente Ananias ficou no xadrez. Ele já tinha dois mandados de prisão, um pela morte de B.A . e outro por participação em desmanche de carros. “Com isso consegui segurar o Ananias, que continuava aterrorizando a população de Tamandaré”, disse a delegada. “Ele é um dos elementos mais perigosos da quadrilha.”

No depoimento prestado à delegada Vanessa nesta segunda-feira, o pai de Suzana, Pedro Gazani, confirmou que a moça era amiga de alguns dos integrantes da quadrilha. “Ela dirigia moto sem habilitação e contou para o pai que não teria problema se fosse pega, porque era amiga de um PM chamado Juarez que ia livrar a cara dela. Esse PM é o Juarez Silvestre Vieira”, comentou a policial.

Ananias, que alega ser empreiteiro de obras, tem diversos imóveis em Tamandaré e Campo Magro. A advogada Paola Costa disse ontem que deverá falar em breve com a imprensa para esclarecer a situação de seu cliente.

Suspeito de matar o amigo

Com a prisão de Ananias, podem ser esclarecidos dois outros homicídios ocorridos em Tamandaré e atribuídos a ele. Um deles é o de Clécio Ferreira da Rocha, 24 anos, assassinado em 25 de dezembro do ano passado. Clécio era casado e morava em Curitiba, no Capão da Imbuia. A mãe dele, Expedita da Rocha, será ouvida amanhã pela delegada Vanessa.

Expedita disse ter certeza de que o filho foi assassinado por Ananias. Ela contou que na véspera de Natal, depois de cear com a família, Clécio disse que ia sair para comprar cigarros. Depois disso, Expedita só voltou a ver o filho morto. Ele teria sido executado perto da casa dela, no Jardim Bonfim, e desovado na Rodovia dos Minérios.

De acordo com a delegada, Clécio era amigo de Ananias e freqüentava a casa dele. As primeiras informações, apuradas através de denúncias e depoimentos sigilosos, são de que o dono de uma boate no Jardim Bonfim teria encomendado a morte de Clécio. (BM)

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