Polícia mata rapaz na Vila das Torres

A morte de Rafael Canuto dos Santos, 19 anos, ocorrida às 12h40 de ontem, na Vila das Torres, causou grande tumulto e quase um confronto entre policiais militares e moradores da favela. Ele teria reagido à voz de prisão e atirado nos PMs que apuravam uma tentativa de homicídio acontecida minutos antes. No revide dos policiais foi baleado fatalmente. O tiroteio ocorreu na Rua Manoel Martins de Almeida. O rapaz morto era acusado de ter atirado em Edson da Silva Ales, 20, pelas costas. Edson está internado em estado grave no Hospital Cajuru. O corpo de Rafael seguiu para o Instituto Médico Legal.

A mãe da vítima ficou mais de uma hora sentada no chão ao lado do corpo, amparando a cabeça do rapaz com as pernas. Ela dizia que o filho estava soltando pipa quando começou uma confusão na vila e ele foi ver o que estava acontecendo. Após uma discussão entre diversas pessoas, Edson foi ferido com um tiro nas costas e levou pedradas na cabeça. Um soldado do 13.º Batalhão, lotado no módulo da rua Guabirotuba, escutou o estampido e foi ver o que estava acontecendo.

A partir daí, há duas versões para a morte de Rafael: a da polícia e a dos moradores.

Versões

O aspirante Willian Vinícius Dias, do 13.º BPM, Informou que quando o policial chegou, Rafael correu. ?Ele estava armado com um revólver calibre 38 e atirou contra o policial, que revidou?, contou o futuro oficial. Segundo o aspirante após a morte a arma foi apreendida e levada para o batalhão. ?temos informações que foi o Rafael que atirou contra o Edson. Porém há várias versões sobre o motivo?, informou o aspirante.

Já os moradores contestaram a versão da polícia. Silvia Soares de Paula disse que estava caminhando pela rua quando viu Rafael ser morto. ?O que aconteceu antes não sei. O que vi foi o Rafael andando em minha direção, quando o policial sacou a arma e atirou. Quando me viu, abaixou a arma?, relatou Silvia.

Ela garantiu que o rapaz não estava armado. ?Este já não é o primeiro que a PM mata.

O pior é que vai ficar por isso mesmo?, disse a tia da vítima, Elizabeth Canuto dos Santos.

Desesperada, a mãe chorava em cima do corpo do filho e conversava com o cadáver.

?E agora o que vou dizer para a tua filha quando ela perguntar de você??, indagava Vilma. Rafael estava separado e tinha uma filha de 3 anos.

Ameaças

A morte de Rafael deixou os moradores revoltados.

A presença de mais de dez PMs, com armas em punho, e diversas viaturas, não inibiram os moradores a ameaçarem os policiais.

Um garotinho franzino, aparentando ter no máximo 8 anos, se aproximou da reportagem e avisou: ?Pode escrever aí que amanhã vai ter chacina dos porcos?, disse o menino, referindo-se aos PMs. Outros meninos também gritavam avisando que ?haveria troco?.

Alguns moradores chegaram a jogar pedras contra os policiais, mas pararam após acertar uma pedrada nas costas da mãe de Rafael, que pediu para que respeitassem o seu filho morto.

O pedido surtiu efeito, mas após o camburão do IML recolher o corpo e os policiais se retirarem do local, um dos moradores jogou uma pedra, que quebrou o vidro do carro do Instituto de Criminalística.

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