Polícia invade casa e mata rapaz de 19 anos

Quando estava dormindo em seu quarto, o podador de árvores Ednaldo da Cruz, 19 anos, foi morto com dois tiros, às 4h30 de ontem, na Fazendinha, em Curitiba. De acordo com parentes e vizinhos da vítima, os autores da execução seriam dois policiais militares, que estiveram no local ocupando um veículo do 13.º Batalhão. Os PMs deixaram o local sem prestar socorro ao rapaz, que foi conduzido ao Hospital do Trabalhador por seu tio José Vicente da Cruz, mas não resistiu aos ferimentos nas costas e na virilha, morrendo logo após dar entrada no centro cirúrgico. 

A avó do rapaz, Maria Ferreira da Cruz, 57 anos, que mora ao lado do sobrado em construção onde Ednaldo dormia, informou que foi acordada pela irmã do rapaz, de apenas 10 anos. ?Ela ouviu os tiros e me chamou. Fui lá e vi um policial fardado na porta e outro lá dentro. Fui entrar e ele disse: ?O que a senhora quer aqui? Circulando!?  Falei que eu era a dona do terreno, mas não adiantou nada?, relatou Maria. Ela disse que depois os dois policiais entraram no carro e deixaram o local. Só então Maria pôde entrar no sobrado e ver o neto deitado na cama e coberto. Ao tirar o cobertor, ela viu ele se esvaindo em sangue. ?Chamei meu filho, que socorreu o Ednaldo e levou para o hospital?, disse.

Maria contou que uma vizinha ouviu os gritos de Ednaldo. ?Eles bateram nele antes de matar?, disse. No pequeno sobrado em construção havia sangue na parede, ao lado de um sofá, onde o jovem foi executado, provavelmente sentado. A porta do quarto também foi arrombada, indicando que Ednaldo estava dentro do quarto.

Vizinhos do rapaz disseram que após Ednaldo ser socorrido o mesmo carro do Polícia Militar retornou ao local. Eles informaram que estavam com muito medo e como estava escuro não puderam ver a placa do veículo.

Mãe da vítima pede justiça

Revoltada e desnorteada com o assassinato do filho, Delair do Rócio da Cruz, mãe de Ednaldo da Cruz, pede Justiça. ?Eram dois marginais vestidos de polícia?, desabafou. ?Não tenho medo deles, se quiserem me matar também que o façam. Vou falar o que sei e quero esses marginais no lugar deles, que é a cadeia. Polícia é para proteger e não para matar.?

Delair admitiu que o filho era usuário de drogas, mas salientou que ele trabalhava e sustentava a dependência química. ?Ele estava dentro de casa, não estava na rua fazendo mal para ninguém?, assegurou. Delair é mãe de sete filhos. Ednaldo era o mais velho e era quem ajudava a mãe a sustentar os irmãos menores. ?Não aceito isso nem para um cachorro, quanto mais para um ser humano?, finalizou.

Nomes dos PMs não foram divulgados

Integrantes do 13.º Batalhão da PM identificaram ontem, no início da tarde, os quatro policiais que compareceram à casa de Ednaldo. Os nomes dos policiais não foram informados.

Segundo o coronel Daniel Alves de Carvalho, dois carros estiveram no local do crime, cada um com dois policiais. O primeiro chegou à casa de Ednaldo a pedido do Copom para atender um caso de vias de fato. Nos registros feitos pelos policiais não são mencionados luta corporal e uso de arma de fogo. Minutos depois, o segundo veículo, também a mando do Copom, foi ao local para atender a mesma ocorrência. Chegando lá, os policiais encontraram Ednaldo ferido, já sendo conduzido ao hospital.

?Já ouvimos os dois policiais da segunda viatura e agora devemos ouvir os da primeira?, disse o coronel. ?Temos que saber exatamente o que os policiais desta encontraram e fizeram no local do crime.Três armas utilizadas pelos policiais já estão em nosso poder e serão periciadas. O Instituto de Criminalísticas está realizando investigações no local.?

O advogado da família de Edvaldo, Maurício Barbosa dos Santos, revelou que, caso seja confirmado o envolvimento de policiais na execução, vai pedir o afastamento deles de suas funções, por homicídio, omissão de socorro e invasão de domicílio.

Corporação promete tomar providências

O aspirante Anderson Couto de Moraes, do 13.º Batalhão, informou que foi procurado por volta das 7h30, logo após assumir o plantão, por um parente de Ednaldo, que denunciou a execução. Anderson disse que a princípio foi apurado que os policiais estavam fazendo uma abordagem e o jovem fugiu para dentro da casa, sendo perseguido. ?A vítima era dependente de drogas e fugiu da abordagem?, relatou.

O oficial disse que conversou com todos os policiais que estiveram de plantão durante a madrugada e que todos negaram ter estado na casa. ?Nada impede que policiais de outra área tenham estado lá?, disse.

Para finalizar, o aspirante disse que é de interesse da PM apurar os fatos.

A assessoria de imprensa da PM informou que no momento só há suspeitas, já que não existem provas materiais, mas garantiu que será instaurado o inquérito policial e que os culpados, se houver, serão punidos.

Casa vizinha foi invadida às 21h

Por volta das 21h de sexta-feira, dois PMs do 17.º Batalhão invadiram uma casa vizinha ao sobrado em construção onde Ednaldo foi executado. ?Eu estava com meu filho no colo e eles apontaram a arma para minha cabeça, a do meu filho e a do meu marido?, contou a moradora da casa, uma garota de 15 anos.

Ela disse que os PMs procuravam por drogas. ?Eles não podiam ter entrado na minha casa. Nem mandado tinham?, comentou, acrescentando que outros menores que estavam na rua também foram colocados dentro da casa e todos foram obrigados a deitar no chão. ?Como não encontraram nada, os PMs foram embora?, disse.

Segundo um primo de Edinaldo, o rapaz teria visto o constrangimento dos moradores da Rua 1 e telefonou para a polícia para reclamar. ?Acho que os PMs voltaram para se vingar?, disse.

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