Polícia faz “limpa” na região central da capital

A Rua Saldanha Marinho e arredores, um dos pontos mais críticos da cidade em termos de criminalidade – especialmente tráfico e prostituição -foi alvo de uma operação especial da Divisão de Narcóticos (Dinarc), ontem à tarde, mobilizando cerca de 50 policiais civis e militares. O arrastão tinha como objetivos “limpar” a área dos traficantes que atuam livremente, à luz do dia, em cumplicidade com prostitutas, e mostrar para a população que a polícia está de volta às ruas para combater o crime.

“Vamos retomar os pontos da cidade que os bandidos estão dominando”, disse o delegado-chefe da Dinarc, Luís Antônio Zavataro, que comandou a operação. Ele afirmou que esta foi a primeira de uma série de operações similares, que continuarão a ser feitas em vários locais e em diferentes horários. O arrastão de ontem terminou com nove pessoas detidas e cinco estabelecimentos notificados por irregularidades.

Denúncias

Das 15h às 18h30, policiais da Dinarc, com apoio de efetivos do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) e da Polícia Militar, visitaram bares e hotéis de alta rotatividade na região. Zavataro explicou que a Rua Saldanha Marinho foi escolhida por ser alvo de grande parte das reclamações recebidas pelo disque-denúncia da Dinarc. “As pessoas que moram e trabalham neste local não aguentam mais conviver com tanta bandidagem”, observou o delegado.

Um fiscal da Prefeitura trabalhou junto com os policiais, verificando alvarás de funcionamento dos estabelecimentos visitados. No Poppy´s Hotel, na Saldanha, três pessoas foram detidas. O proprietário e a porteira, por infração ao Estatuto da Criança e Adolescente (artigo 250), porque havia uma garota de 16 anos em um dos quartos do hotel. E também um cliente que estava com a menor, fumando maconha. O rapaz foi detido pelo porte da droga e a menina encaminhada para o Conselho Tutelar.

Já o Hotel Fox, na Rua Ermelino de Leão, foi notificado para acabar com a alta rotatividade. Na prática fica proibido de funcionar como motel. Ali, prostitutas recebem clientes durante todo o dia. No Hotel Flower Garden, na Alameda Cabral, também de alta rotatividade, os policiais flagraram um homem fumando crack em um quarto, com uma garota de programa. O homem, que portava munição para revólver calibre 32, foi detido e encaminhado para a Delegacia Antitóxicos. A arma não foi encontrada. A garota, que disse ser dançarina da boate Sex, foi levada para ser ouvida.

Crack

Em frente ao Flower Garden, o fiscal da prefeitura autuou um boteco conhecido como “Bar da Marli”, que estava com o alvará vencido desde 2001. O local é conhecido como ponto de tráfico, mas nenhuma droga foi encontrada pelos policais. Em compensação, o cão farejador da polícia encontrou pedrinhas de crack escondidas embaixo de uma porta, em frente ao bar e ao lado do Flower Garden.

Uma prostituta que trabalha por ali, e que também foi levada para a Datox para ser ouvida, disse que “todo mundo sabe” que aquele boteco é ponto de venda de drogas. “Mas não é só ali, não. em qualquer esquina aí eu consigo bagulho se eu quiser”, disse a garota de programa, que estava sozinha, dormindo em um quarto no Flower Garden, e acabou detida por vadiagem. Ela seria ouvida mais tarde, na Central de Polícia, junto com outra mulher que estava ocupando um quarto do mesmo hotel.

“Diversão”

Esta outra mulher reclamou de invasão de privacidade. “Tudo bem que a polícia tem direito de entrar e revistar o quarto. Mas não precisa escrachar a gente. Eu estava na boa com a minha namorada, trabalho à noite e posso me divertir a hora que quiser”, declarou a homossexual assumida. No mesmo local, foi preso outro rapaz portando crack.

O fiscal da prefeitura também autuou o hotel Domino´s, na Rua São Francisco, que estava sem alvará. No final da tarde, a PM deteve um homem, perto da Praça Tiradentes, portando cem gramas de maconha.

Para o delegado Zavataro, a operação foi bem-sucedida. “Mostramos que a polícia vai voltar às ruas”, comentou. “Com a chegada das viaturas muitos traficantes sumiram e esconderam a droga. Mas agora, os bandidos estão avisados de que estamos atentos”. O delegado elogiou a atuação da Polícia Militar e lembrou que o efetivo da Dinarc é muito pequeno para combater o tráfico. “Precisamos de mais policiais para continuar com as operações”, frisou.

A população parece aprovar as batidas policiais. Moradores e transeuntes que acompanharam a movimentação se mostravam satisfeitos e cumprimentavam as equipes.

O estrago do crack

Um dos homens que foi detido no hotel Flower Garden estava visivelmente alucinado pela droga. Ele ocupava um quarto com uma garota de programa da boate Sex e estava fumando crack. Transtornado, com os olhos esbugalhados e os lábios esbranquiçados, ele gritou durante todo o tempo e agrediu os policiais civis e militares com chutes. Foram precisos cinco policiais para conseguir algemá-lo. Mesmo depois de dominado ele continuou alterado, se jogando no chão e berrando. A cena, em plena Alameda Cabral, chamou atenção dos passantes. Um triste retrato do estrago que o crack faz.

Colocado na viatura da Polícia Militar, o rapaz, que não portava documentos e se recusava a dizer o nome, ainda dava ordens para que ninguém tocasse na garota. “Não bota a mão na minha mulher, seus tiras f.”, gritava, entre outros impropérios. A reportagem da Tribuna acompanhou o trajeto até a Datox. O rapaz foi todo o tempo batendo a cabeça e o corpo dentro da viatura. Chegou a deformar partes do veículo, que ficou sujo de sangue. Na delegacia, ensanguentado e cheio de cortes, mas ainda sob o efeito do crack, ele continuava a xingar .

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