PM acusado de matar garoto e balear mulher é afastado

O cabo Müller, lotado no 17.º Batalhão de Polícia Militar foi afastado das funções, depois de ser acusado de matar um adolescente e balear uma mulher na noite de domingo (16), no Jardim Jurema, em São José dos Pinhais, fora do horário de trabalho. Moradores da região garantem que ele já matou outras pessoas e age como “exterminador” de envolvidos com a criminalidade. O adolescente e a mulher, entretanto, eram inocentes.

Uma briga de casal movimentou a vizinhança na Rua Atílio Bortoloti por volta das 20h. Uma viatura da Guarda Municipal foi até o local e constatou que tudo já havia sido resolvido, minutos depois. Já perto das 21h, Marcos Emanuel Batista Xavier, 16 anos, o “Choro”, e Elisiane Oliveira Dias, 21, com mais algumas pessoas amigas do casal, foram até a frente da residência para conversar.

Testemunhas

As testemunhas relatam que o policial se aproximou, sem farda e com uma espingarda calibre 12 em punho, e atirou contra o grupo. Marcos foi atingido na perna e caiu. As outras pessoas correram em várias direções. Quando deixava o local, o cabo encontrou Elisiane correndo e atirou nela. O disparo acertou outro objeto, mas chumbinhos dissipados pela bala atingiram a mulher nos rins.

O pai de Marcos ouviu os tiros, logo depois os gemidos, e encontrou o filho, que só conseguia dizer “pai! pai!”. Marcos e Elisiane foram encaminhados ao Hospital São José. O adolescente morreu minutos depois. Elisiane estava consciente, mas permanecia internada até ontem. O pai do garoto garante que ele não bebia e não fumava, não tinha envolvimento com a criminalidade, e até parou de estudar no 8.º ano para trabalhar em uma transportadora e ajudar a família. A mãe de Marcos está em estado de choque.

Moradores do Jardim Jurema e familiares de Marcos foram unânimes no motivo para as atitudes do policial: “Ele acha que todos aqui são bandidos”.

Sindicância

A denúncia das testemunhas chegou aos ouvidos do comando da Polícia Militar. O subcomandante-geral, coronel César Alberto de Souza, orientou a corregedoria a abrir sindicância para apurar as circunstâncias da morte de Marcos e dos ferimentos contra Elisiane. “Determinei que ele fosse ouvido e que se desse todo o apoio à Polícia Civil para elucidar este crime”, afirma. O prazo normal de uma sindicância é um mês. Neste período, o cabo ficará afastado das funções.

Confrontos no currículo

O cabo Müller se envolveu em dois confrontos com traficantes no início do ano, no Jardim Jurema. Em 17 de janeiro, quem levou a pior foi Elias de Oliveira Reis, 26 anos, o “Diego”. Ele morreu na troca de tiros com os policiais e com ele foram apreendidos uma pistola calibre 9 milímetros de fabricação israelense, mais de mil pedras de crack, dois celulares e dinheiro trocado.O cabo deu entrevista à imprensa dizendo que, além de tráfico de drogas, Elias também era investigado por homicídios, um deles de um garoto de apenas dez anos.

Contestado

Duas semanas depois, o policial estava na equipe que participou do confronto em que Julio Cezar de Lima, 25 anos, o “Cezinha”, foi morto. O capitão Maurício explicou que Julio fugiu dos policiais em uma moto e reagiu à abordagem a tiros. Dois disparos atingiram a viatura. Já a família de Julio relatou que ele foi retirado de dentro de casa, onde tudo foi revirado e destruído. Com o rapaz foram apreendidos uma pistola também calibre 9 milímetros e um colete ba
lístico.

Outro

Além destes dois casos, de acordo com o superintendente Clóvis Pinheiro, da delegacia de São José dos Pinhais, outro homem teria sido baleado pelo policial, e está internado na unidade de terapia intensiva do Hospital São José.